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Uma bela senhora, aos 128 anos

A prefeitura de Manaus acaba de concluir mais uma restauração da ponte Benjamin Constant, a popular ponte de ferro da Cachoeirinha, até 2011 a mais bela da cidade. Nesse ano foi inaugurada a ponte Rio Negro, que se tornou a ‘queridinha’, personagem constante em fotos tiradas no rio Negro. Coube à ponte Benjamin Constant manter a sua beleza, mas sem os holofotes, que nunca teve devido à sua distância do Centro e da beira do rio. Toda a imensa estrutura de ferro fundido passa apenas sobre um igarapé, do Mestre Chico, hoje um quase esgoto a céu aberto.

Quem conheceu os igarapés do Centro de Manaus ainda sem poluição deve lembrar que o Mestre Chico, sob a ponte, era um igarapé caudaloso no qual se podia passear de canoas e voadeiras, mas então, em 2002, a administração pública, por conta do Prosamim (Programa de Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus) teve a ideia de aterrar suas margens resultando no que hoje pode ser visto.

Sobre a ponte, junto com a dos Bilhares, que é da mesma época, ela fará 128 anos no dia 7 de setembro. Foi mandada construir pelo governador que mais obras bonitas e grandiosas deixou em Manaus, Eduardo Gonçalves Ribeiro (1892/1896). E fica a pergunta? Por que o governador mandou construir uma ponte de tamanha grandeza numa área remota da cidade, afinal de contas, no final do século 19, Manaus não ia muito além do que hoje é o Centro da cidade, e o bairro da Cachoeirinha continua distante, sem falar que aquele local era uma área de floresta. A resposta vem com outra pergunta. O governador queria construir um bairro além do Centro, mas por que isso se a população de Manaus só sofreu um boom no início de 1900, dobrando de número em pouco tempo, e por que um bairro além de um igarapé? 

Vamos ver se agora o grandioso monumento também vira cenário de selfies

Veio da Inglaterra

O certo é que, com muito dinheiro em caixa, Eduardo Ribeiro não pensou duas vezes para mandar construir o bairro, que acabou se tornando o primeiro planejado de Manaus. Como ficava do outro lado do igarapé, precisaria de uma ponte para chegar até lá. Mas tinha dinheiro do comércio da borracha sobrando.

O governador assumiu o cargo em 27 de fevereiro de 1892, e no ano seguinte, sob a responsabilidade do engenheiro inglês Frank Hirst Hebblethwaite, a ponte começou a ser construída e as obras andaram rápidas. Em 1894 os oito pilares que iriam sustentar a estrutura metálica já estavam construídos. Até esses pilares foram contemplados com um belo design. Fotos antigas mostram que as águas do igarapé, na época da cheia, chegavam a todos eles. Depois do aterro, elas ficam longe.

Já a ponte foi mandada construir na Inglaterra, na empresa Dorman Long & Company Limited. Fundada, em 1875, por Arthur Dorman e Albert de Lande Long, a Dorman Long se especializou na construção de pontes e existe até os dias atuais.

Uma linha de bonde foi criada para servir exclusivamente ao novo bairro

Possivelmente em 1895 as peças metálicas começaram a chegar a Manaus porque a previsão de sua inauguração era naquele ano, o que ocorreu no dia 7 de setembro. Suas características técnicas são 161 metros de comprimento e 10,50 metros de largura, dois vãos de 20 metros, em seu início; um central, de 60 metros; e dois de 30 metros, na já Cachoeirinha.   

Em 1896, através do Decreto 3, de 4 de julho, de autoria do superintendente, atual prefeito, Raimundo Afonso de Carvalho, a ponte recebeu o nome de Benjamin Constant, homenagem do governador a Benjamin Constant Botelho de Magalhães, que havia sido seu professor na Escola Militar, no Rio de Janeiro. Eduardo Ribeiro ainda homenagearia o mestre no Instituto Benjamin Constant, mas essa é outra história.

Banho na Cachoeirinha

Com a ponte inaugurada, logo o bairro da Cachoeirinha floresceu. Mas nada se sabe desse período. De que forma foi feito o arruamento, já que naquela época a cidade não dispunha de tratores, por exemplo; quem foram seus primeiros moradores; se compraram ou ganharam os lotes de terra. Certo é que o bairro possui ruas amplas e bem divididas e se mantém como um dos mais bem trafegáveis por veículos da cidade.

Além da ponte, Eduardo Ribeiro mandou abrir uma avenida, a Sete de Setembro, para ligar o bairro ao Centro, e no trajeto, mais duas pontes, a Romana I e a Romana II. A Sete de Setembro, apesar de seu começo secular na beira do rio, recebeu atenção especial do governador a partir da avenida homônima, Eduardo Ribeiro, também mandada abrir por ele. Até uma linha de bonde foi criada para a Cachoeirinha.

O bairro recebeu esse nome por ter, logo após o final da ponte, uma pequena cachoeira. O historiador Mário Ypiranga Monteiro conta, num de seus livros, que a população de Manaus, e ele próprio quando criança, na década de 1920, iam tomar banho no local até um prefeito resolver, naquela década, dinamitar as pedras da cachoeira para facilitar a passagem de barcos, acabando com a beleza natural.

A ponte Benjamin Constant já passou por diversas restaurações e, em 2005, chegou a ser interditada sob o risco de desabar, mas resistiu. Com quase 130 anos de existência, continua a exercer o seu mister. Esta mais recente restauração deu-lhe nova iluminação e, de acordo com a prefeitura, a majestosa estrutura será monitorada 24 horas pelas câmeras do Centro de Cooperação da Cidade. Vamos ver se agora ela também vira cenário de selfies.   

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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