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Há 139 anos começava a história da Praça 14 de Manaus

Hoje é o aniversário da Praça 14 de Janeiro, 139 anos, mas poucas pessoas sabem por que o bairro possui este nome. Para tal, é necessário voltar ao final do século 19, quando as disputas políticas eram bastante acirradas, chegando às vias de fato, igual como acontece ainda hoje.

Em 1º de setembro de 1891 assumiu o governo do Amazonas o tenente-coronel piauiense Gregório Taumaturgo de Azevedo, do Partido Nacional, eleito pela Assembleia Constituinte, em 26 de junho daquele ano. O eleito para vice-governador, Guilherme José Moreira, curiosamente também era presidente da Assembleia. É neste momento que entra para a história política do Amazonas o nome do militar maranhense Eduardo Gonçalves Ribeiro, do Partido Democrático. Ele era um dos candidatos ao cargo e não gostou nem um pouco de seu nome ter sido preterido. Na realidade, com apenas ‘cinco votos’, como nos dias de hoje, ele duvidou do resultado daquela eleição, pois já deveria ter assegurados bem mais do que aquela quantidade entre os constituintes.

Quando Gregório chegou a Manaus, em setembro, para assumir o cargo, Guilherme Moreira estava mandando e desmandando e, lógico, Gregório não gostou nada do que viu. Com pouco tempo à frente do governo, os políticos do Partido Democrático, encabeçados por Eduardo Ribeiro, começaram a criar obstáculos para Gregório.

Irritadiço e sem papas na língua, o governador logo se indispôs com os deputados que lhe faziam oposição. Junto com Eduardo Ribeiro estes deputados ‘armaram’ a deposição de Gregório. Os jornais da época, com viés político, incitaram o povo contra o governador, e nos meses seguintes a situação foi se tornando cada vez mais tensa.

Primeiro ditador

No dia 14 de janeiro de 1892, uma comissão foi ao palácio do governo, onde hoje está o Paço da Liberdade, exigir que Gregório deixasse o cargo, entre eles, dois que viraram nome de rua: Lima Bacury e Leonardo Malcher. O encontro ‘esquentou’ de tal maneira que houve confronto físico e até tiros. Um deles acertou e matou o soldado do Batalhão Militar de Polícia, João Fernandes Pimenta. Aquela data marcaria, realmente, o fim do governo de Gregório Taumaturgo, que tentaria, em vão, se manter no poder.  

Enérgico, o governador decretou estado de sítio e mandou prender todos os que estavam se opondo a ele, militares, civis, políticos, juízes e até desembargadores, enviando-os para localidades distantes da capital como São Paulo de Olivença, Tabatinga, Carvoeiro, Ayrão e Villa de Moura.

Depois do episódio sangrento, aparentemente Manaus permaneceu tranquila. Mas os opositores de Gregório ficaram ainda com mais vontade de tirá-lo do poder, além do que a situação estava incomodando o Governo Federal, curiosamente tendo a frente o também militar Floriano Vieira Peixoto (1891/1894), o ‘marechal de ferro’, considerado por historiadores como o primeiro ditador do Brasil. No dia 22 de janeiro, por um telegrama, o ministro da Justiça, José Higino Duarte Pereira, informou que estava nulo o estado de sítio decretado por Gregório e o presidente Floriano Peixoto o dispensava do cargo a fim de ‘conciliar interesses políticos’.  

Depois de ‘peitar’ o presidente, desafiando-o a mandar depô-lo, Gregório Taumaturgo finalmente deixou o cargo no dia 26 de fevereiro, seguindo para o Rio de Janeiro, e imediatamente assumindo o seu lugar, no dia 27, ninguém menos que Eduardo Ribeiro, amigo de caserna de Floriano Peixoto. Como um castigo, Eduardo Ribeiro foi perseguido ainda mais duramente por seus opositores. Mas essa é outra história. 

Benedito ou Fátima

Depois de todo o imbróglio político, a principal vítima acabou sendo unicamente João Fernandes Pimenta, que morreu cumprindo o seu dever. Ainda em 5 de fevereiro de 1892, proposta do intendente Sérgio Pessoa, deu o nome de João Fernandes Pimenta à praça que iniciara o bairro, porém, no mesmo ano, depois que o governador foi embora, Antônio Dias dos Passos, outro intendente, achou melhor homenagear o 14 de Janeiro, como a data em que ele fora derrubado. Um terceiro intendente, Hermes de Araújo, ainda quis nomear o logradouro como praça da Conciliação, comemorando o apaziguamento político, mas a população preferiu o 14 de Janeiro. O local, depois, receberia mais dois nomes, Doutor Pedrosa, em 1912; e Portugal, em 1917, a partir da visão da Senhora de Fátima pelas três crianças, em 13 de maio, naquele país, mas não ‘pegaram’.

De acordo com o historiador Mário Ypiranga Monteiro, por volta de 1884, migrantes maranhenses vieram habitar aquela região devotando fé a São Benedito, porém, no dia 13 de maio de 1939 uma missa campal foi rezada na praça e erguida uma igrejinha de madeira em honra de N. Sra. de Fátima. No dia 13 de outubro de 1942 foi lançada a pedra fundamental do atual templo, que se tornou o símbolo do bairro, ficando São Benedito para segundo plano.

Outro símbolo da Praça 14 de Janeiro, este, profano, surgiria em 1º de dezembro de 1975, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Vitória Régia, a mais antiga escola de samba de Manaus ainda existente. De 1946 a 1962 lá também existiu a Escola Mixta de Samba.

Portanto, o aniversário da Praça 14 de Janeiro é formado pela morte de João Fernandes Pimenta, e a chegada dos primeiros habitantes do futuro bairro, em 1884.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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