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Um ato de responsabilidade social

Um estudo de Eduardo Andrade, professor do Ibmec São Paulo –instituição que é considerada um centro de excelência em ensino e pesquisa–, traz nova e bem fundamentada contribuição ao debate sobre a qualidade da ensino na rede pública brasileira, objeto de séria e crescente preocupação por parte dos setores e dos cidadãos responsáveis. Isso porque qualquer cenário sobre as perspectivas de ingresso do país numa sonhada fase de desenvolvimento socioeconômico sustentado se apóia sobre a urgentíssima necessidade de melhorar a educação ­brasileira, que há décadas vem amargando péssimos indicadores, com consequentes impactos negativos na formação dos profissionais e na empregabilidade dos nossos jovens.
O professor Andrade se debruçou sobre os resultados de um novo modelo adotado nos anos 1980-90 pela Inglaterra e por alguns estados norte-americanos e, após uma série de projeções, chegou à conclusão de que a aplicação de um modelo similar poderia reduzir em cerca de 30% a vergonhosa diferença entre o desempenho do Brasil e a média dos países da OCDE (Organização para a Cooperação do De­senvolvimento Eco­nômico), medida pelo teste do Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos).
Esse modelo foi batizado como responsabilidade escolar (school accountability, em inglês) e baseia-se em três pontos: adoção de currículos únicos, avaliações regulares ao final de cada ciclo e a responsabilidade da equipe escolar (incluindo os professores) pelo desempenho dos alunos. Numa primeira visão, nota-se que a proposta reproduz, em ­linhas gerais, os modernos modelos de gestão que vem sendo adotados há mais de meio século nas empresas, onde se definem as rotinas, avaliam-se os resultados e os créditos pelo sucesso ou ­fracasso são atribuídos aos responsáveis, tanto às ­chefias quanto aos ­inte­grantes das equipes que elas comandam.        
Currículo único, como explica a repórter Simone Iwasso, autora de uma reportagem sobre o tema no O Estado de S.Paulo, é a definição do que deve ser ensinado em cada disciplina a cada ano escolar, surpre­endentemente para os leigos, “quesito que ainda engatinha no Brasil e está ausente na maior parte da rede pública”. No segundo ponto, o país já leva alguma vantagem, pois nos últimos dez anos consolidou-se a cultura de avaliação, levando até alguns municípios e estados a utilizarem suas próprias provas.
O terceiro ponto certamente é o que deverá provocar maior polêmica, pois coloca os profissionais da educação não apenas como vítimas de antigas, recorrentes e graves deficiências do ensino, mas também como responsáveis pelo baixo grau de aprendizado dos alunos. De acordo com o modelo, uma boa avaliação renderá bônus em dinheiro para a equipe escolar, enquanto o mau desempenho exigirá justificativas e remeterá a equipe para um programa de reciclagem. Essa postura não é inédita, embora só recentemente tenha sido colocada em discussão em alguns estados, sempre esbarrando na resistência dos sindicatos. Entretanto, ainda de acordo com o estudo, foi a medida que deu melhores e mais rápidos resultados positivos onde foi adotada. O autor do trabalho ressalta ainda que a responsabilização constitui a medida de menor custo, vantagem nada desprezível num país em que o cobertor dos recursos financeiros públicos é sempre muito menor do que o tamanho das carências sociais. Comparando, ele informa que a redução para quinze alunos por classe teve um custo de US$ 3.5 mil por estudante, valor que caiu para US$ 447 no caso da adoção da responsabilidade escolar.
Embora não seja recomendável a importação pura e simples de modelos que deram certo em outros países, parece não ser passível de dúvida que qualquer profissional, incluindo-se aqui os que trabalham com educação, tem mais estímulo para perseguir a qualidade e atuar com mais garra quando é instado a prestar contas de suas atividades e recebe o merecido reconhecimento pelo seu esforço. Isso ocorre em praticamente todos os setores da iniciativa privada e nem por isso seu

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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