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Pedrinho Aguiar e as fantasias de outros Carnavais

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As fantasias estão intimamente ligadas ao Carnaval. É como se elas completassem a festa. Descobertas feitas pelo pesquisador Geraldo dos Anjos em documentos da segunda metade do século 19, mostram que bailes carnavalescos já aconteciam em Manaus naquela época, organizados pelo português José Pingarilho.

“Em 1867 aparece o primeiro registro de um baile organizado por Pingarilho no qual só entrava se estivesse fantasiado e, se não tivesse fantasia, ele as alugava. Depois, já no baile, uma comissão escolhia a melhor fantasia”, disse Geraldo.

O Carnaval nunca deixou de ser festejado, em Manaus, mas os bailes com a escolha da melhor fantasia só voltariam a acontecer quase cem anos depois, no início da década de 1960.

“Jornais da época mostram que os primeiros clubes a organizar apresentações para a escolha da melhor fantasia foram os Barés e o Cheik Club, que não era esse mesmo Cheik que durante muito tempo esteve localizado na esquina da Getúlio Vargas com a Ramos Ferreira. Estes dois clubes faziam a abertura oficial dos bailes de Carnaval, no sábado magro”, acrescentou.

Uma semana depois, no sábado gordo, os grandes clubes, frequentados pela elite da cidade, iniciavam seus bailes, e todos organizavam concursos de fantasias.

“Na sexta-feira começava na União Esportiva Portuguesa; no sábado era a vez do Ideal Clube; domingo no Nacional, e encerrando na segunda-feira, o Rio Negro Clube, com o Baile de Gala, onde o uso do black tie era obrigatório. Imagine brincar Carnaval de black tie, mas a elite assim o queria, e aguentava o calor”, falou.

Rivais nos palcos

É nesse período que surge Pedrinho Aguiar, colunista do Jornal do Commercio há dez anos e um dos nomes mais badalados da sociedade manauara.

“Já nasci fantasiado. Sempre gostei de Carnaval, desde criança, e quando fiquei maior de idade, comecei a frequentar os bailes”, recordou.

“O primeiro clube que eu fui, em 1967, foi o União Esportiva Portuguesa. Ficava ali na Joaquim Nabuco, onde hoje está localizada a Uninorte. A União Esportiva realizava o Baile dos Pierrots, e na primeira vez já fui fantasiado de pierrot”, lembrou.

Aquela fantasia de palhaço triste apaixonado, e não correspondido, por Colombina, desenvolveu em Pedrinho a paixão por se fantasiar, e mais ainda, participar de concursos em busca da vitória. Nos anos que se seguiram, não só na União Esportiva, mas também nos demais clubes, lá estava ele competindo com outros participantes.

“Havia uma rivalidade muito grande entre os participantes. Todo mundo se esmerava tanto na categoria Luxo, quanto na Originalidade, e gastávamos um bom dinheiro nas produções, então, vencer era o que queríamos”, revelou.

Pedrinho lembra alguns dos seus rivais na passarela: Edinelza Sahdo, Mário José Bitencourt, Arlene Ramos.

“Tinham vários outros, mas esses daí sempre disputavam os primeiros lugares e onde acontecia um concurso de fantasias, e todos os clubes organizavam estes bailes, lá estavam eles competindo. Quem ganhava, lógico, ficava sendo o maioral, mas tinha pra todos e éramos rivais apenas sobre o palco. Até hoje a Edinelza é minha amiga”, riu.

Geraldo lembrou que assim como os Barés e o Cheik ficaram para a história, como os primeiros a organizar concursos de fantasias, “com certeza baseados nos bailes a fantasia do Hotel Glória e Teatro Municipal, do Rio de Janeiro”, a União Esportiva marcou com seu Baile de Pierrots, e o Nacional com o baile a fantasias para crianças.

“O Nacional ficava ali na Saldanha Marinho, subindo um pouco da Eduardo Ribeiro, onde hoje é um depósito. Um filme da década de 1960 mostra as crianças, fantasiadas, chegando para o baile”, informou.

Apenas concursos

“O registro fotográfico mais antigo que tenho é uma foto do Baile de Pierrots, onde estou no alto de uma pequena escada, acho que é de 1968. Naquele concurso eu ganhei em primeiro lugar”, lembrou.

“Eu mesmo fazia as fantasias, uma, duas por Carnaval, desde a criação até a produção. Tinha o lado bom e o lado ruim. O lado bom é que eu gostava de competir, e quando ganhava, então, era a glória. O lado ruim é que eu gostava de pular, brincar, me divertir, mas pro concurso a gente tinha que ficar horas esperando pra se apresentar. A fantasia pesava, cansava. Só quando acabava a escolha é que eu ia pular”, contou.

“A fantasia mais difícil de fazer? Todas davam muito trabalho fazer. Quanto mais trabalho, mais bonitas, mas diria que a mais difícil entre as difíceis foi a ‘A alegria do circo’. Era um palhaço dentro de um grande bolo. Eu vinha enfiado dentro do bolo de dois andares. A armação do bolo era toda de madeira, mas a decoração era verdadeira, com glacê e tudo”, riu.

Era o ano de 1976, no Ideal Clube, e Pedrinho mais uma vez ganhou o primeiro lugar com esta fantasia.

Em 1981, Pedrinho Aguiar participou de seu último concurso de fantasias e, pra variar, ganhou. Pra completar, desfilou num carro, no primeiro desfile da incipiente escola de samba de Aparecida.

“Para mim, hoje os concursos de fantasias perderam o glamour. Antes nós íamos para os bailes e os concursos eram um algo a mais esperado por todos. Hoje os concursos são pura e simplesmente concursos”, concluiu.  

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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