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Indústria melhora em produtividade e confiança, mas ainda precisa de investimentos, aponta CNI

Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori

A produtividade da indústria esboçou recuperação no segundo trimestre. A CNI aponta que esta é a primeira alta do indicador desde o terceiro trimestre de 2020, período em que o setor ainda surfava na demanda reprimida pós-primeira onda, apesar de já sentir o desarranjo nas cadeias de produção gerado pela pandemia. Na análise da Confederação Nacional da Indústria, a melhora se deve a um relativo alívio na crise de abastecimento de insumos, mas o cenário global ainda inspira cuidados e o setor precisa de confiança e investimentos para manter a produtividade em alta.

Pesquisa divulgada pela CNI, no entanto, mostra que essa mudança de chave pode estar próxima. O Icei (Índice de Confiança do Empresário Industrial) confirma que 27 dos 29 subsetores sondados mensalmente pela entidade aumentaram o otimismo, na passagem de agosto para setembro deste ano. O avanço foi lastreado pela percepção mais favorável sobre o momento atual da economia brasileira em relação aos últimos seis meses. Lideranças do PIM ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio, entretanto, avaliam que, diante da volatilidade externa, e das eleições em curso no país, o momento ainda é de otimismo cauteloso.

De acordo com o estudo da CNI, o aumento na produtividade foi de 2,3% na comparação do trimestre encerrado em junho, com os três meses iniciais de 2022. O resultado foi atingido graças à queda de 0,8% na quantidade de horas trabalhadas nas fábricas, em paralelo com um acréscimo de 1,4% no volume de produção. Na análise da entidade, o avanço da produção, que aumentou pelo terceiro trimestre consecutivo, ocorre em um cenário de aquecimento do mercado de trabalho, com a recuperação do emprego e do rendimento.

“A indústria tem tido dificuldade de manter a produção devido ao problema da falta ou alto custo de insumos e matérias-primas. No segundo trimestre do ano, a alta do indicador, que interrompeu seis trimestres de queda, se deve provavelmente à redução dessas dificuldades”, analisou a gerente de Política Industrial da CNI, Samantha Cunha, no texto divulgado pela assessoria de imprensa da entidade.

A especialista observa que, apesar do avanço, as incertezas permanecem elevadas no cenário externo, em função dos lockdowns na China e do conflito na Ucrânia, fatores que dificultam a solução para a crise dos insumos. E observa que, diante disso, é improvável que o indicador se recupere o suficiente para fechar 2022 em alta. “Para que voltar a crescer de maneira sustentada, é necessário que os empresários retomem a confiança para realizar os investimentos que permitirão que essa produtividade se recupere, como os investimentos em inovação e em qualificação do trabalho”, afirma Samantha Cunha.

A pesquisa do Icei mostra que a avaliação dos empresários sobre as condições atuais da economia brasileira avançou em todos os segmentos, com exceção do setor de veículos automotores. As maiores altas de confiança se deram nas divisões de impressão e reprodução de gravações (+7 pontos); móveis (+5,8 pontos); extração de minerais não metálicos (+5,1 pontos), produtos de borracha (+4,8 pontos); e calçados (+4,7 pontos). Os quatro setores industriais que avaliavam que a economia estava piorando em agosto fizeram uma transição para o terreno positivo. A lista incluiu impressão e reprodução, metalurgia, biocombustíveis e móveis. 

O indicador varia de 0 a 100 e todos os valores acima de 50 pontos indicam confiança. Quanto mais distante dessa linha de corte, mais disseminada está a confiança. Pela primeira vez desde fevereiro de 2020 nenhum dos setores industriais avalia que a economia está pior do que nos seis meses anteriores. A confiança está menor apenas em biocombustíveis (55,3 pontos) e veículos automotores (57,4 pontos). Mas, todos permanecem confiantes e com a marca acima do patamar de 50 pontos. 

“A pesquisa mostra que os empresários de todas as regiões do país e de todos os portes estão com confiança, seja na indústria de transformação, quanto nas indústrias de construção e extrativa. Isso ocorreu muito em razão da avaliação dos empresários sobre seus negócios e com relação à economia brasileira. Também houve melhora nas expectativas para os próximos seis meses. Essa confiança alta e disseminada é importante, pois empresários tendem a aumentar produção, contratação e investimentos”, ressaltou o gerente de Análise Econômica da CNI, Marcelo Azevedo, em áudio disponibilizado pela assessoria de imprensa da entidade.

“Branda melhora”

O presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, considera que, em uma “análise fria”, os dados da pesquisa sinalizariam mais uma situação de estabilidade para a indústria, com sinalização de retomada, do que um aumento propriamente dito, já que o indicador da CNI já acumulava “sucessivas quedas”, em seis trimestres seguidos.

“Os cenários de instabilidade nacional e internacional ainda suscitam preocupação e cautela. Internamente, temos um período eleitoral e, a nível global, temos crise no abastecimento de insumos e um conflito em escalada preocupante. Apesar da branda melhora dos indicadores econômicos nacionais, o panorama ainda requer atenção do setor produtivo. A despeito das dificuldades, contudo, temos que ressalvar a solidez da indústria nacional, que continua a demonstrar sinais de vitalidade ante as dificuldades mencionadas”, ponderou.

Ruptura e recuperação 

Mais otimista, o presidente da Aficam (Associação dos Fabricantes de Insumos e Componentes do Amazonas), Roberto Moreno, enfatiza que a economia tem mostrado sinais positivos e já começa a funcionar gradativamente de novo, após ter seus elos quebrados pela ruptura econômica que seguiu à eclosão da pandemia de Covid-19. O executivo concorda que alguns setores ainda vão apresentar problemas pontuais, mas reforça que o Brasil vai sair desse cenário em melhores condições do que estava antes.

“Sempre entendi que a economia no Brasil é complexa e que os problemas que temos enfrentado, como Covid, guerras, e desabastecimentos causados principalmente por esses mesmos motivos, precisavam de tempo para se recuperar. Não devemos já entender que tudo passou, mas que o pior está passando e as empresas necessitam concentrar seus esforços nestes momentos que ainda há de se ter atenção. Nunca podemos baixar a guarda. Continuamos acreditando que o Brasil vai sair melhor e, mais que isso, trabalhando para que isso aconteça”, concluiu.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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