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Igual aquele que passou

Este ano o Carnaval vai ser igual aquele que passou, em 2021, sem a realização de festas populares, devido à pandemia

Pelo segundo ano consecutivo Manaus não terá Carnaval. Isso nunca havia acontecido antes desde 1854 quando, pela primeira vez, a festa de Momo foi noticiada no jornal Estrella do Amazonas, de 28 de janeiro daquele ano. No registro do jornal, um convite para os sócios da Sociedade Recreativa Amazoniense para participar de um baile na casa do capitão Gabriel Antônio Ribeiro Guimarães. O capitão seria o presidente (hoje governador) da província do Amazonas nos meses de maio e junho de 1876, e fevereiro de 1878, ou seja, é provável que tenha havido muitos outros bailes em sua casa entre sua patente de capitão e o cargo de presidente.

Nem a pandemia da Gripe Espanhola, que assolou o mundo entre 1918 e 1919 impediu o Carnaval, em Manaus. A Gripe chegou à capital amazonense em setembro de 1918, matou mais de seis mil pessoas, segundo o historiador Antonio Loureiro em seu livro ‘História da medicina e das doenças no Amazonas’, mas em janeiro de 1919 praticamente não morria mais ninguém, então todos puderam brincar o Carnaval e comemorar o fim da pandemia. Detalhe: de acordo com historiadores, a Gripe Espanhola matou cerca de 50 milhões de pessoas em todo o mundo, enquanto a Covid-19 matou muito menos, quase seis milhões até agora, mas já ‘atrapalha’ o Carnaval pelo segundo ano.

Kamélia, ícone praticamente esquecido do Carnaval de Manaus

O pesquisador Geraldo dos Anjos falou que nem a Segunda Guerra fez com que o Carnaval deixasse de acontecer na capital amazonense.

“O que de pior aconteceu na cidade entre 1940 e 1945, por causa da guerra, foi o racionamento de alimentos, que nunca faltou. Manaus era uma cidade com pouco mais de 100 mil habitantes, tranquila e pacata, que continuou sua rotina de vida, portanto, não deixou de brincar o Carnaval nesses seis anos”, falou.

Homenagem a Ednelza

Para não deixar a data passar totalmente ‘em branco’, desde terça-feira (15), a Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa está promovendo, no Manauara Shopping, a exposição ‘De outros carnavais’ com fantasias das portas-bandeiras das escolas de samba de Manaus. As fantasias pertencem ao acervo da Secretaria, entre elas, várias que foram de Ednelza Sahdo.

A exposição não deixa de ser uma homenagem a Ednelza, que durante 26 anos foi porta-bandeira da Aparecida. Ednelza, 77 (completados ontem, 16), tem uma longa carreira. É atriz, cantora, diretora e professora de teatro, conhecedora profunda do Carnaval amazonense do qual participa desde a infância.

“No final da década de 1950 o Carnaval de Manaus era realizado na Eduardo Ribeiro. Os brincantes, os blocos de sujos, e os carros alegóricos, ou caminhões, desciam até o Relógio Municipal e de lá subiam novamente a avenida, e meu pai, Faiez Sahdo, era o relojoeiro do Relógio, por isso eu e minha irmã ficávamos lá, com ele, vestidas com as fantasias feitas por nossa mãe. Meu pai aproveitava para vender confetes, serpentina e máscaras de Carnaval. Ele também era o responsável por fazer a iluminação da Eduardo Ribeiro tanto no Natal quanto no Carnaval, mais um motivo para ficarmos na festa até de noite”, falou Ednelza numa entrevista ao JC, em fevereiro de 2020.

Ednelza Sahdo, quase a vida inteira brincando o Carnaval

Ednelza contou que as belas fantasias antes só eram exibidas nos bailes de Carnaval realizados nos clubes de elite da cidade, nos concursos. O ‘povão’ colocava uma máscara e saía pelas ruas jogando talco ou maisena nos desavisados. Esse tipo de brincadeira durou décadas na av. Eduardo Ribeiro, de 1905 até 1980, quando o Carnaval passou para a av. Djalma Batista (então João Alfredo), e os blocos de sujos deixaram de existir com a festa se ‘cariocando’ e começando a surgir as primeiras escolas de samba ao estilo das do Rio de Janeiro.

Por 26 anos

É nessa época que as fantasias das escolas de samba ganham atenção especial, e muita gente que desfilava suas fantasias nos clubes, passou a ‘descer’ nas escolas de samba. Em 1980 foi fundado o Grêmio Recreativo Escola de Samba Mocidade Independente de Aparecida e, como tinha mestre sala, mas não havia porta-bandeira, Ednelza, diretora de Carnaval da escola, se auto elegeu para a função, na qual ficou até 2006.

“Minhas fantasias de porta-bandeira sempre foram feitas por mim e meus filhos. O carnavalesco dava a ideia, a gente se baseava nas portas-bandeiras do Rio de Janeiro, e as fazia”, revelou.    

“Ednelza Sahdo marca de modo indelével seu nome na história como uma das que mais contribuíram para beleza e a evolução do Carnaval amazonense”, afirmou o curador da exposição, Turenko Beça.

“Essa exposição é um passeio não apenas pelos enredos defendidos pela porta-bandeira, mas sobretudo, um grande desfile sobre décadas de Carnaval em Manaus. São indumentárias ricas e bem trabalhadas, que vestiram os encantos da porta-bandeira/atriz: Dama Francesa, Criação, Estrela, Rainha das Bolhas de Sabão, entre tantas personas que esta artista incorporou na avenida do samba”, concluiu.

Além dos vestidos de luxo, a boneca Kamélia terá uma representação na exposição. Ícone do Carnaval de Manaus, a Kamélia, apesar de seus 84 anos, está praticamente esquecida, mas mesmo assim, com exceção de 2021 e 2022, continua a ‘abrir’ o Carnaval da cidade com o tradicional Baile do Olímpico Clube. Mas essa é outra história.

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Lílian Araújo

É Jornalista, Artista, Gestora de TI, colunista do JC e editora do Jornal do Commercio
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