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Alencar e Silva, o poeta esquecido

Apesar de ser reconhecido por seus pares como um grande poeta, Alencar e Silva acabou esquecido pelo tempo

Por Evaldo Ferreira

@evaldo.am

Alencar e Silva. Quem já o conhecia, vai conhecer ainda mais. Quem nunca ouviu falar nesse nome vai ter a oportunidade de conhecer a obra de um dos grandes poetas amazonenses cuja história na literatura foi apagada pelo tempo. No sábado (19), acontece a abertura da exposição ‘O canto do poeta – a vida e obra de Alencar e Silva’, às 9h, no Palacete Provincial, com curadoria de Virna Lisi e apoio da família do poeta.

“Há uns cinco anos conheci a professora e escritora Rita, uma das filhas de Alencar e Silva. Quando ela soube do meu envolvimento com a arte, acabou por se tornar minha amiga e me contou a história de seu pai. Fui atrás dos livros dele, encontrei quatro num sebo, e tomei conhecimento de seu trabalho. Foi então que vi que a poesia de Alencar e Silva era de excelência”, revelou Virna Lisi.

Alencar e Silva é um grande poeta amazonense cuja história na literatura foi apagada pelo tempo

Há quatro anos Virna Lisi resolveu fazer o projeto para a exposição, depois contemplado no edital Amazonas Criativo 2021, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa.

“Me interessei em contar a história dele, exatamente por ser um poeta que esteve entre os grandes nomes da poesia amazonense, oriundos do Clube da Madrugada, e tanto seu nome quanto seu trabalho haviam caído no esquecimento. Fiquei chocada por desconhecê-lo. Minha mãe é professora de língua portuguesa, apaixonada por literatura. Sempre comprava livros, que depois eram ‘devorados’ por mim, e eu não conhecia Alencar e Silva”, contou.

A vontade de tornar o poeta e sua obra, conhecidos, era também partilhada por Rita cujo sonho é apresentar a obra do pai para as novas gerações, vontade dificultada pela falta de reedição de seus livros e mesmo em sebos ser difícil encontrá-los.

Poesias por toda parte

O historiador Roberto Mendonça listou os títulos publicados por Alencar e Silva: Painéis (1952), Lunamarga (1965), Território Noturno (1982), Sob Vésper (1986), Poesia Reunida (1987), Sob o Sol de Deus (1992), Ouro, incenso e mirra (1994) e Solo de Outono, 2000.

Sobre ‘Lunamarga’ escreveu Ramayana de Chevalier, “é uma revelação. Do artista, do homem, da pureza da vida, da candura da terra. Um poeta: Alencar e Silva”. E Luiz Ruas completou, “Alencar e Silva é um homem voltado para as grandes realidades interiores. É um reflexivo por natureza. É um meditativo. Até o seu modo de falar nos diz isso claramente. Não é um extrovertido. Um palrador”.

“Com a exposição, eu e a Rita pretendemos resgatar a memória de Alencar e Silva e dar visibilidade de suas obras às novas gerações de poetas. Com certeza, muitos o desconhecem”, destacou.

Virna se referia, principalmente, aos jovens poetas que vendem seus trabalhos em edições xerocopiadas pelas ruas do Centro e mesmo os rappers.

“Existe um grupo de jovens que faz e aprecia poesias. Queremos mostrar as poesias de Alencar e Silva para eles”, avisou.

Durante a exposição no Palacete Provincial haverá poesias de Alencar e Silva por todos os lugares e de variadas formas. Em vídeo, um poeta declamará no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro; outras estarão escritas na parede (em adesivos), também o chão ficará repleto delas; haverá a chuva de poesias, fitas caindo do teto com poesias na ponta, ideal para atrair jovens e crianças.

“Teremos três banners gigantes pendurados do lado de fora do Palacete, voltados para as ruas Floriano Peixoto e José Paranaguá, para que as pessoas leiam as poesias da rua”, adiantou.

“Haverá uma linha do tempo, com oito metros de comprimento, mostrando toda a trajetória de vida dele. A instalação ‘O canto do Neto’ mostrará um gabinete, a mesa onde ele trabalhava. Neto era como seus amigos o chamavam. Além de uma vitrine com alguns objetos pessoais de Alencar e Silva”, informou.

Sarau sob o mulateiro

‘O canto do poeta – a vida e obra de Alencar e Silva’ encerra em grande estilo, no dia 19 de março, sábado, com o evento sendo transferido para um sarau debaixo do mulateiro, símbolo maior do Clube da Madrugada, que este ano completa 68 anos de fundação.

“Nesse dia haverá declamações, de poemas próprios, feitos por vários poetas, já consagrados em Manaus e outros que queiram mostrar seus trabalhos em público pela primeira vez. Para participar é necessário se inscrever através do e-mail: [email protected]. Repetiremos os fundadores do Clube da Madrugada, inspirados nos gregos, que pregavam sair das academias e ir mostrar sua arte em praça pública”, concluiu.

A exposição ficará aberta ao público de quarta-feira a sábado, das 9h às 15h.

Joaquim Alencar e Silva nasceu em Fonte Boa, município localizado às margens do médio Amazonas, em 1930. Em Manaus, ainda jovem, escreveu sonetos, poemas, artigos e crônicas para os jornais de então. Em 1951, junto com Farias de Carvalho, Antísthenes Pinto e Jorge Tufic integrou a ‘caravana de poetas’, rumo ao Rio, São Paulo e outras capitais. Desse grupo surgiu a ideia de fundação do Clube da Madrugada junto com outros jovens escritores. Na década de 1980, foi diretor-presidente da Imprensa Oficial. Entrou para a Academia Amazonense de Letras, em 1992. Faleceu em 2011, no Rio de Janeiro, onde residia.

Visite o Instagram da exposição: @virnalisi_lifestyle e @ocantodopoeta

Informações: 9 8146-4664  

Lílian Araújo

É Jornalista, Artista, Gestora de TI, colunista do JC e editora do Jornal do Commercio
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