Pesquisar
Close this search box.

Comissão da Verdade decide exumar

A Comissão Nacional da Verdade decidiu exumar, com autorização da família, o corpo do ex-presidente João Goulart – morto em 1976 durante exílio na Argentina.
O processo de exumação será feito com o auxílio do Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul, já que Goulart está enterrado no cemitério de São Borja, município do Estado.
No dia 18 de março, em audiência da Comissão em Porto Alegre, a família do ex-presidente entregou uma petição requerendo a exumação dos restos mortais com o objetivo de apurar se ele foi envenenado, denúncia feita por Mário Neira Barreiro, ex-agente do serviço de inteligência uruguaio, preso no Brasil.
Na audiência, Rosa Cardoso, uma das integrantes da Comissão da Verdade, afirmou que a petição dos Goulart possui “elementos concludentes” de que ele foi vítima da Operação Condor (ação conjunta das ditaduras da América do Sul).
O documento é assinado, entre outros familiares, pelo neto dele, Christopher Goulart.
O ex-presidente foi deposto em 1964 pelos militares, que iniciaram naquele ano uma ditadura de 21 anos no Brasil.

“É um grande primeiro passo”

O filho do ex-presidente João Goulart (1961-1964), cujo cadáver deve ser exumado nos próximos meses, disse que a medida é “um grande primeiro passo” para esclarecer as causas da morte de seu pai.
“Foi uma luta muito grande”, afirmou à Folha de S.Paulo João Vicente Goulart, 56, que preside o Instituto João Goulart. Segundo ele, desde 2006 a família pede ao Ministério Público Federal que investigue o episódio.
Jango, deposto no golpe militar de 1964, morreu durante seu exílio na Argentina, em 1976, de ataque cardíaco. A família do ex-presidente, porém, suspeita que ele tenha sido envenenado. Seu corpo está enterrado no cemitério de São Borja (RS).
A hipótese de assassinato surgiu quando um ex-agente da ditadura uruguaia, Mário Barreiro, afirmou numa entrevista, em 2006, que participou da operação para matar o ex-presidente. Segundo ele, Goulart foi morto com a ingestão de uma cápsula envenenada, misturada aos remédios que ele tomava diariamente contra problemas cardíacos. O denunciante confirmou os fatos num depoimento à Polícia Federal, em 2008.
“Nós ficamos estupefatos”, conta o filho do ex-presidente. “Jango é um bem cultural e imaterial da nação brasileira, e é uma obrigação do Estado brasileiro fazer essa investigação”.
Antes da exumação, porém, há algumas etapas a serem cumpridas. A primeira será a avaliação de especialistas sobre a eficácia desse tipo de exame tantos anos após a morte do personagem. Em seguida, diante do eventual aval técnico, o pedido de exumação terá de ser analisado pela Justiça Federal.
A investigação é conduzida pela Comissão Nacional da Verdade e pelo Ministério Público Federal no Rio Grande do Sul (que ainda conduz o pedido de investigação feito pela família).
A decisão de pedir a exumação foi tomada no mês passado. Nas próximas semanas, o Ministério Público Federal irá definir a equipe de peritos que conduzirá a análise e os reagentes químicos a serem utilizados, caso a exumação seja determinada pela Justiça.
“Seria muito lamentável e doloroso não investigarmos a morte de um ex-presidente”, afirma João Vicente, que atribui o andamento do caso à “pressão” feita pela Comissão Nacional da Verdade e pela ministra Maria do Rosário (Direitos Humanos). Segundo ele, a família apoia a exumação e acompanhará o processo de perto nos próximos meses.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

Pesquisar