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Amazonas sofre perdas salariais e segue abaixo da média nacional

Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori  fACE: @JCOMMERCIO

A oferta de empregos com carteira assinada aumentou no Amazonas, em setembro, mas o rendimento médio salarial de admissão seguiu na direção contrária. Em média, os trabalhadores amazonenses começavam ganhando R$ 1.716,53 nos novos postos de trabalho, no sexto mês de 2022. O valor corresponde a uma correção nominal de meros 0,45%, em relação ao registro do mês anterior (R$ 1.708,87), em um mês em que o IPCA pontuou 0,67% de aumento. Descontada a inflação, o resultado ficou estagnado, mas já com viés negativo (-0,22%). Na comparação com o valor contabilizado 12 meses antes (R$ 1.584,11), houve ganho bruto de 8,36%, mas a perda real chegou a 3,02%.

O salário médio de admissão também recuou na média nacional, em termos reais. Em todo o país a remuneração subiu 0,24% na variação mensal, mas ficou 5,01% abaixo do valor percebido em junho de 2021 (R$ 1.797,88), em valores corrigidos pela inflação. Praticamente todas as unidades federativas foram na mesma direção. Os números foram fornecidos pela assessoria de imprensa do Ministério do Trabalho e Previdência, a partir do “Novo Caged” (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados).

Naquele mês, assim como ocorrido em âmbito nacional, o saldo de empregos com carteira assinada já havia crescido no Estado pelo sexto mês consecutivo, com alta de 1,14% e criação de 5.235 vagas celetistas no mercado de trabalho estadual. Foi o melhor desempenho para os empregos formais no Estado neste ano e o número mais elevado desde agosto de 2021 (+5.868). Com isso, o Amazonas se manteve no azul nos saldos dos acumulados do ano (+18.343) e dos últimos 12 meses (+40.463), além de bater as altas mensais das médias do Brasil (+0,67%) e da região Norte (+1,10%). O desempenho de julho seria ainda melhor.

Mas, o mesmo não se deu em termos salariais. Além de seguir a tendência brasileira de desvalorização real, a remuneração média no Estado ficou novamente aquém da média nacional (R$ 1.922,77), além de ser a 11ª mais baixa em todo o país. São Paulo (R$ 2.248,63), Rio de Janeiro (R$ 2.049,41) e Distrito Federal (R$ 1.962,07) encabeçaram o ranking, enquanto Roraima (R$ 1.423,06), Sergipe (R$ 1.457,62), Paraíba (R$ 1.458,47) e Alagoas (R$ 1467,74) figuraram no rodapé do ranking. Desta vez, contudo, o Amazonas apresentou o maior valor, superando o Pará (R$ 1.688,01).

Indústria e serviços

No corte por setores econômicos, como de costume, a média salarial de admissão mais elevada no Estado veio da indústria em geral, enquanto a mais baixa ficou com o grupo que reúne agricultura, pecuária, produção florestal, pesca e aquicultura –pouco atrás de comércio, reparação de veículos automotores e bicicletas. Dentro do setor de serviços, algumas atividades alcançaram valores mais elevados, a exemplo de “outros serviços” – que inclui segmentos especialmente favorecidos pela flexibilização nas regras sanitárias, a exemplo de eventos, cultura e esportes.

A média salarial também apresenta relativa correspondência com a oferta de empregos, nesse quesito. Os cinco setores econômicos fecharam junho no campo positivo, no Amazonas. E, assim como ocorrido em âmbito nacional, os serviços (+0,97% e +2.020) responderam pela maior parte da oferta e se mantiveram no topo do ranking de geração local de empregos, em termos absolutos –embora já em número pouco abaixo do contabilizado em maio (+2.730) e abril (+2.994).

A indústria em geral interrompeu uma série de dois meses de resultados negativos, e um de estabilidade, para criar 1.472 vagas celetistas, gerando variação positiva de 1,28% na comparação com o estoque anterior. O saldo foi puxado pela recuperação da indústria de transformação (+1,30% e +1.365). Favorecido pelo Dia dos Namorados, o comércio emendou um quinto mês seguido de crescimento, ao criar 748 postos de trabalho formais, e registrar alta de 0,70% em relação a maio. Na sequência, vieram a construção (+989) –que apresentou o melhor dado relativo (+4,03%) –e a agropecuária (+6 e +1,28%).

Escolaridade e produtividade

A ex-vice-presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, prefere destacar os fatores estruturais aos conjunturais. Ela observa que, historicamente, o valor médio dos salários dos trabalhadores das regiões Norte e Nordeste são mais baixos do que os da média nacional. A economista acrescenta que vencimentos “muito baixos” comprometem o poder de compra das famílias e prejudicam a atividade econômica dos respectivos Estados, principalmente em tempos em que se busca a recuperação econômica após os impactos da crise da Covid-19 e da guerra na Ucrânia.

“Conforme podemos observar no recorte temporal de janeiro de 2020 a junho de 2022 a média salarial passou de 1.400,00 para 1.700,00, no Amazonas. Mesmo com o ganho nominal, a mão de obra produtiva do Amazonas ainda recebe abaixo da média nacional. Uma das prováveis causas para a média salarial baixa em toda a região Norte está na baixa qualificação da mão de obra e escolaridade. Para reverter esta situação, seria necessária uma política intensa de melhoria na educação. Mas, é uma política de médio e longo prazo e exige investimento e direcionamento para um impacto positivo”, frisou.

Oferta e procura

O economista, consultor empresarial e professor universitário, Leonardo Marcelo Braule Pinto, destacou que aumentos salariais estão ligados à variação do salário mínimo, aos impactos da inflação e ao efeito do aquecimento da economia na geração de postos de trabalho formais. “Com a economia voltando a crescer, as empresas precisam contratar e buscam pessoas mais qualificadas. A inflação aumenta nominalmente a receita e automaticamente gera incremento de salários e vagas. Acredito que seja um desdobramento dessa cadeia de crescimento após as ondas da pandemia. É um efeito cascata keynesiano na economia. Mas, é cedo demais para dizer se vai durar, pois depende da conjuntura macroeconômica que o país vai tomar, após as eleições”, ponderou.  

Já o ex-presidente do Corecon-AM, professor universitário e consultor empresarial, Francisco de Assis Mourão Júnior, ressalta que, apesar de o Estado ter na indústria o motor de sua economia, se beneficiar pouco do fato de o setor ser o que melhor paga salários, já que a parte majoritária de empregos gerada por esta ser de “chão de fábrica” e de remuneração consequentemente menor. No Centro-Sul, por outro lado, haveria uma maior participação proporcional de vagas em departamentos administrativos e gerenciais das empresas, elevando a média salarial.

“Ainda continuamos com uma mão de obra barata e com índice alto de demissões. Com o menor número de vagas disponível para uma procura e concorrência maior entre os trabalhadores, há uma pressão para que os salários de contratação sejam achatados. Temos que ver também o aspecto tecnológico, que reduz a oferta de vagas, e não apenas na indústria, mas também nos serviços. Essa média vai continuar sendo pressionada, enquanto houver essa disponibilidade de demanda. Há uma perda maior também para o trabalhador, em virtude da inflação maior e dos custos incorporados dos fretes”, concluiu. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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