Pesquisar
Close this search box.

Variações e presságios (Conclusão)

Bosco Jackmonth*

Na sequência do anotado no artigo imediatamente anterior (01), posto nesta estação de escritos semanais, voltado para o conto ali disposto, na altura anotando-se a mesma abordagem muito subjetiva do autor, conduzindo passagens lúgubres, que então se apurou de cunho bem marcante, portanto colhida da fonte literária original, eis que com estilo, composta com um variado elenco de termos incomuns, desafiando à sua interpretação para trazê-la para o linguajar cotidiano, que é o que se pratica todos os dias, a bem dizer.  

A propósito, o consagrado redator não traz a palco nenhum personagem. Sofrido, mas põe-se único como tal. Numa passagem, das tantas, volta-se tomado por aquele impulso, indagando, se estará carente de alguém que o exorcize? Quer dizer, que o esconjure! No entanto, logo nega isso dizendo-se alheio ao fato de não ser metafísico, ou difícil de ser compreendido, a ponto de adiantar quão cômodo isso seria, e então de  “entregar tudo a Deus”, cogita num repente dos vários que usou nos seus dizeres literários, às voltas com aquela visão teratológica que diz pressagiá-lo, dando-se vítima de assombrações de toda a sorte, sendo nesse contexto que segue a narração, aqui e ali com variações de slides de figuras grotescas projetando-se do que chama de seu ocaso prematuro. Um relato trágico, queixas, tudo bem pessoal … 

Findou o conto prendendo-se à figura presente da harpia, designando-a que de comum se rotula de background dada como ave de rapina ou, no caso, um monstro fabuloso, pondo-se com a cabeça de mulher e corpo de abutre, dizendo-lhe pensar que não passasse de uma figura fantasiosa, recortada em papel comum, mas teria se equivocado, posto que o ente fala e ri, sendo inacreditável como pode viver alguém com tamanhas atrofias, ou limites. De momento mostra-se no meio de cena plongée sensacional, a harpia mergulhada parece-lhe pequenina, humilde, como um pobre ser sem nenhum amparo, gerando piedade.

Sucede, mas logo na visão seguinte – um slide – aquela mitológica figura lhe surge com dimensões enormes, além disso medonhas, entre dois compostos personagens, sendo um de negro, aliás o mais grave, tendo umas orelhas de asno tridimensionais, parecendo ao narrador que é porque tem a gesticulação frouxa e darda das alimárias. Enquanto o outro, na cabeça de um mármore luzidio, tonsura que se alonga até a testa nua, de miúdos olhos frios e cupidos, as lentes dos óculos sendo apenas seguras por algo que lembra sobrancelhas continuadas até as pequeninas orelhas onde se enroscam.

Estoutro, ostenta um antipático ar de sabichão e sobraça um volume que talvez pela sisudez lembra um livro de Direito, causando-lhe alegria, mas logo deixando deduzir que se enganara, já que na capa encadernada de couro negro trazia a inscrição em letras roxas: Tratado de Teratologia, que trata das monstruosidades e deformações orgânicas.      

Nesta altura da narração o autor diz da harpia como aferrada no braço da alimária, mostrando um inusitado interesse pelo tratado que o homúnculo que lhe parecia de olhinhos frios e cúpidos manuseia e se põe a explicar, explicar, enquanto a alimária balança as orelhas tridimensionais, parece que está entendendo tudo! Em seguida, já o livro está no espaço — solto e liberto – e vai crescendo, crescendo, tornando-se um vistoso volume. Então, segue-se, o homúnculo cumprimenta a harpia, a alimária também, dando-se pancadinhas nas costas, se misturam, eis que são todos bons amigos, entendem-se, estão muito alegres, pois riem e fazem gestos largos … Mas, enquanto isso, como se de contre-plongée se cuidasse, o tratado continua crescendo, e eles diminuindo, diminuindo …  

Diz mais, nesse devaneio, desafiando ao raciocínio do leitor, ainda na primeira pessoa, verbis “quando eu me levanto ao impulso de um palavrão grosseiro e xingo, mais que possesso, as respeitáveis senhoras que os pariram eles já estão bem pequeninos e correm, como ratos assustados, para dentro do Tratado. Canalhas!” 

Nesse mesmo rumo pessoal anota um asilar no que rotula em suas monstruosidades, “vivem delas, nem me ouvem, canalhas! Sinto, então, que tenho sangue nas veias, me possui um desejo súbito de destruir, quero arrancar máscaras, ameaço hão de me pagar! Canalhas! ‘’

Assim, com variações e presságios, finaliza o relato, ainda com ânimo trágico, como se deu em  toda a narração, dizendo que tem pena, afinal, das suas mãos claras, citadas de início, que em tal passagem que acaba de relatar, ao cegar e obscurecer isso que vem sentindo – ódio? – talvez sejam conduzidas para o gesto que entende jamais praticaria, se não o pressentisse necessário para que volte a sorrir, sorrir e crer inclusive em sí próprio. E quem sabe nisso resolveria uma oração à moda dos crentes, passagem que consta acolá. É o que sustenta

Advogado (OAB/AM 436). Ex Ger.BEA; ex func.B.Brasil Mao e Rio de Janeiro, aqui comis.p/BC como Fiscal de Bancos, ligado a operações cambiais. Cursou Direito, Com. Social (Jornalismo), Corr. Imóveis, Oratória. Lecionou História, Tec.Vendas. Consultor Jurídico de Empresas. Contactos: 99982-8544, bosco (@)jackmonthadvogados.com.br. 

Compartilhe:​

Qual sua opinião? Deixe seu comentário

Notícias Recentes

No data was found
Pesquisar