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Safra de Grãos no AM (Conab/Novembro)

Em sua revisão de novembro, a Conab rebaixou ainda mais suas projeções para a safra de grãos 2021/2022 do Amazonas, de 37,6 mil para 28,6 mil toneladas. O dado equivale a uma queda de 47,8% ante a safra de 2020/2021 (54,8 mil toneladas), que registrou alta anual de 31,4%. Três das quatro culturas sondadas no Estado ainda aparecem com estimativas negativas para, sendo que a restante aponta estagnação. A expectativa pessimista também foi reforçada para a área de plantio (-41,5%) e a produtividade (-10,8%). Fontes ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio se surpreenderam com a notícia.

De acordo com o levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento para a nova safra, o Estado figura no último lugar do ranking nacional de maiores altas proporcionais – após encerrar a temporada 2020/2021 na terceira colocação. Em contraste, os desempenhos aguardados para o Brasil (+14,8% e 288,61 milhões de toneladas) e região Norte (+5,4% e 289,79 milhões de toneladas) foram corrigidos para cima. O melhor índices vêm de Sergipe (+30,2% e 938,5 mil de toneladas), em uma lista com apenas cinco resultados negativos. 

Diferente do ocorrido nas últimas duas safras, quando o crescimento se deu principalmente pelos desempenhos exponenciais do arroz e da soja, em detrimento do feijão, e com declínio gradual do milho, o panorama sinalizado pela Conab agora é de debacle geral. A maior retração aguardada para 2021/2022, desta vez, vem do arroz, campeão absoluto de produção no ano passado, com expansão de três dígitos (+200%). No cálculo da Conab, a safra deve ficar nada menos do que 60,5% menor, totalizando 6,4 mil toneladas – contra as 16,2 mil toneladas da safra de 2020/2021. 

O segundo pior número da produção de grãos do Estado, conforme a análise da estatal, deve vir da soja, a vice-campeã da safra anterior (+143,4%). A queda estimada é de 51,9% em relação a 2020/2021, para de 12,9 mil para 6,2 mil toneladas. Produto do gênero com o pior desempenho na safra mais recente, o milho sinaliza baixa reforçada de 41,8% para 2021/2022 (13,5 mil toneladas). O feijão (2.500 toneladas), que atravessou pelo menos três anos seguidos de queda, tem o melhor dado, ao apontar para estagnação – e melhor do que o tropeço de 3,8% deste ano. Nos três primeiros casos, o Amazonas aparece com as maiores quedas de produção do Brasil. 

Área e produtividade

A projeção para a área de plantio é de 12,7 mil hectares – contra os 16,1 mil hectares do levantamento anterior. É um dado 41,5% inferior ao safra de 2020/2021 (21,7 mil hectares), ficando aquém inclusive do patamar de 2019/2020 (18,7 mil hectares). A pior estimativa é a do arroz (2.400 hectares), que sinaliza fica 58,6% aquém do número anterior (5.800 hectares). A soja (2.400 hectares) é listada com o segundo maior tombo de produção (-44%), sendo seguida de perto pelo milho (-41,6% e 5.200 hectares). A projeção para o feijão (2.700 hectares) é de estabilidade.

Com o virtual encolhimento nas apostas para produção e áreas cultivadas no Amazonas, a produtividade também sinaliza retrocesso. A estimativa da Conab já é de um recuo de 10,8%, de 2.525 kg/ha (de 2020/2021) para 2.252 kg/ha (2021/2022). Ao contrário do ocorrido neste ano, três das quatro culturas listadas pela Conab no Amazonas aparecem com desempenho menor do que o registrado na safra precedente. A exceção vem do feijão (+0,2% e 923 kg/ha), que seguiu na mesma. Os piores índices vêm da soja (-14,4% e 2.567 kg/ha), do arroz (-5,3% e 2.652 kg/ha) e milho (-0,6% e 2.591 kg/ha), na ordem. 

Em entrevistas anteriores à reportagem do Jornal do Commercio, a Conab informou que a produção de milho do Amazonas se concentra principalmente em Manacapuru e Boca do Acre, onde está o maior plantel animal, já que entre 60% e 70% da produção é destinada à ração. A soja vem de Humaitá (a 591 quilômetros de Manaus), na Fazenda Santa Rita. O arroz tem destaque nos municípios do rio Juruá, principalmente Eirunepé e Envira. O feijão, por outro lado, é cultivado na calha do rio Purus – em especial, Lábrea e Boca do Acre.

Licenciamento e revisão

Fontes ouvidas pela reportagem do Jornal do Commercio foram unânimes em estranhar o panorama negativo projetado pela Conab. O presidente da Faea (Federação da Agricultura e Pecuária do Amazonas), Muni Lourenço, levantou a hipótese de eventuais efeitos da burocracia, mas reforçou a torcida por uma evolução nas expectativas, nos próximos levantamentos. “Esperamos que esses números possam melhorar. Temos verificado dificuldade de alguns produtores com a obtenção de licenciamento ambiental e isso traz insegurança para o investimento privado”, afiançou.

O titular da Sepror (Secretaria de Produção Rural do Amazonas), Petrúcio Magalhães Júnior, foi mais veemente. “Ficamos surpresos com os números apresentados, pois estivemos no Sul do Amazonas e isso não corresponde [ao tamanho de área que vimos que está sendo preparada para o plantio de grãos. Esperamos que a Conab reveja esses números nos próximos levantamentos, como aconteceu ano passado. Mas, vou solicitar que a equipe técnica da Sepror acompanhe a divulgação dos próximos dados, para que a gente possa avaliá-los melhor”, asseverou.

Já o ex-superintendente da Conab, administrador com especialização no agronegócio e colaborador do Jornal do Commercio, Thomaz Meirelles, questionou os números e recomendou o retorno imediato das reuniões do GCEA (Grupo de Controle Estatística Agropecuária), que inclui Conab, IBGE, Idam (Instituto de Desenvolvimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Amazonas), Faea e Fetagri (Federação dos Trabalhadores Rurais, Agricultores e Agricultoras Familiares do Amazonas) entre outros.

“Isso igualmente aconteceu nos primeiros levantamentos da Conab da safra passada. Os números ainda serão alterados para cima, mas é urgente a necessidade de voltar às reuniões do GCEA para melhor avaliação dos números divulgados. O IBGE e Conab precisam voltar a reunir o GCEA. Outro fato que não aceito é a regional da Conab do Amazonas não explicar os números divulgados para a imprensa local. A atitude é feita por várias regionais, toda vez que esses dados são divulgados. Isso é obrigação, não é favor. Sem informações confiáveis fica difícil planejar ações”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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