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Rede Amazônica 50 anos depois

Evaldo Ferreira: @evaldo.am

Em 1972 o Brasil efervescia com os 150 anos da Independência, parecido a este ano quando, 50 anos depois, lá se vão 200 anos do grito de ‘Independência ou morte’, dado por D. Pedro I. Naquele ano, também, os corações dos jornalistas Phelippe Daou e Milton Cordeiro estavam agitados. Pouco menos de um mês antes do 7 de setembro, em 10 de agosto, eles inauguraram a TV Amazonas que, dois anos depois, iniciaria a formação da Rede Amazônica de Rádio e Televisão, integrando quatro estados do Norte com as TVs Rondônia, Acre e Roraima, em 1974; e a TV Amapá, em 1975. Phelippe e Milton se conheciam desde a juventude e, adultos, montaram uma empresa, a Amazonas Publicidade, fundada em 30 de setembro de 1968. Margarido se juntou aos dois, em 1974.

“Em 1968, o Ministério das Comunicações abriu uma concorrência pública para a implantação de mais um canal de televisão, em Manaus, pois, à época, só existia a TV Ajuricaba. Phelippe Daou não perdeu tempo e apresentou um projeto na tentativa de atender à concorrência pública”, contou o historiador Abrahim Baze.

A TV Ajuricaba havia sido inaugurada menos de um ano antes, em 5 de setembro de 1967, mas ambos os canais só se tornaram populares a partir da década seguinte quando o modelo Zona Franca de Manaus fez com que chegasse à cidade grande quantidade de aparelhos de televisão com preços bem acessíveis, mas esta é outra história.

O processo de efetivação da TV Amazonas foi longo. Somente em junho de 1969 saiu o resultado da concorrência pública e Phelippe Daou a ganhou, criando, então, a empresa Rádio e TV do Amazonas Ltda. A outorga da concessão só sairia em 1970 com o compromisso de que o canal entrasse no ar no prazo de dois anos.

Economia em efervescência

Em fins da década de 1960, e início da década seguinte, Manaus sofreu um ‘boom’ em sua economia, resultado da implantação na Zona Franca, em 1967. Em 30 de setembro de 1968 foi lançada a pedra fundamental do Distrito Industrial, hoje PIM (Polo Industrial de Manaus) e a primeira empresa se instalou na cidade, nesse mesmo ano, a Beta Indústria e Comércio de Jóias S/A, fabricante de jóias e relógios, localizada longe do futuro Distrito Industrial, na rua Belo Horizonte esquina com a Recife, atual av. Mário Ypiranga Monteiro. Hoje o PIM reúne mais de 400 empresas.

Em 1967, também, o então governador Artur Reis (1964/1967) mandou colocar abaixo a famosa Cidade Flutuante, complexo de centenas de palafitas, que enfeiava a frente de Manaus, afinal, a capital do Amazonas ensaiava sair do marasmo econômico vivido desde 1911 após o fim da hegemonia amazônica do comércio da borracha.

Um ano antes, em 15 de março de 1966, Manaus colocou no ar a primeira emissora de rádio FM do Brasil, a Rádio Tropical, do empresário Antonio Malheiro. Ocorre que a tecnologia era tão avançada que pegou a população de surpresa. Não havia na cidade aparelhos de rádio com capacidade para receber aquele som estéreo. O próprio Malheiro distribuía aparelhos de rádio para os anunciantes e amigos. Em 1986 a Rádio Tropical mudou de nome para Rádio Cidade. Desde 2019 todas as emissoras de rádio passaram a ter a faixa de FM deixando, definitivamente, de serem AM. Mas essa, também, é outra história.  

1º de setembro de 1972

A facilidade em adquirir produtos importados como resultado do modelo Zona Franca, ajudou tanto Malheiros quanto Phelippe Daou.

“Durante esse período, de 1970 a 1972, foi feita a aquisição de equipamentos técnicos para a TV, nos Estados Unidos”, lembrou Abrahim.

Ainda foi finalizado o projeto técnico e escolhidos os locais tanto da sede da TV quanto do terreno onde ficaria a torre de transmissão, uma área alta da cidade, que melhor recebesse e transmitisse os sinais. A sede foi construída num terreno na av. Carvalho Leal, na Cachoeirinha; e a torre foi instalada num terreno, no Aleixo.

“A TV Amazonas, canal 5, foi inaugurada no dia 1º de setembro de 1972. Depois de 30 dias de testes experimentais, sua projeção tornou a emissora a primeira no Brasil a transmitir em cores. Nessa ocasião, foi adotado o lema de autoria do então presidente Emílio Garrastazu Médici (1969/1974), “Amazônia – desafio que unidos venceremos”, falou Abrahim.

Sem transmissão via satélite, a programação do novo canal chegava a Manaus, de avião, em latas.

“Programas adquiridos da TV Record, Fundação Padre Anchieta, de São Paulo; e da TV Cultura, do Rio de Janeiro, além de filmes e seriados comprados de distribuidoras de filmes como a Fox e a Columbia. Na área esportiva, usavam materiais comprados em Miami, Rio de Janeiro e São Paulo”, recordou o historiador.

Em 1973, a Rede Amazônica tornou-se afiliada da Rede Bandeirantes. Em 1986, filiou-se à Rede Globo e começou a utilizar um canal no satélite Brasilsat, que possibilitou a transmissão de programas produzidos, em Manaus, para as demais emissoras da Rede, que só evoluiu nos anos seguintes, mesmo com a partida de seus fundadores. Coincidentemente, os três morreram em 2016: Margarido, em 5, e Milton, em 31 de outubro; e Phelippe Daou, em 14 de dezembro.

Atualmente quem está à frente do conglomerado de empresas surgidas a partir da TV Amazonas é Phelippe Daou Júnior.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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