10 de dezembro de 2024

Crise muda hábitos do consumidor em Manaus

O consumidor manauara adota um novo comportamento para driblar a disparada nos preços dos alimentos, alimentada pelo aumento da gasolina que tem causado uma reação em cadeia no custo de vida.  Agora, já não importa a marca dos produtos, principalmente os tradicionais, que estão sobrando nas prateleiras.

Itens não conhecidos pela maioria dos consumidores estão ocupando o lugar dos que antes lideravam as vendas nas grandes redes varejistas, segundo o empresário Ralph Assayag, presidente da CDL-Manaus (Câmara de Dirigentes Lojistas de Manaus) e também vice-presidente da Amase (Associação Amazonense de Supermercados).

“Agora, os supermercados passam por um momento de readaptação. E começam a adquirir itens de outras marcas com essa nova tendência dos clientes. Geralmente, as pessoas chegam e compram somente o necessário, bem diferente de outras épocas quando o consumo era bem maior, o cliente saía com muitas sacolas”, afirma o dirigente lojista. “Não importam mais as marcas. Os consumidores buscam suprir as necessidades básicas por uma imposição dos maiores preços ”, acrescenta ele.

O problema é que a Petrobras não conseguiu segurar o preço da gasolina. A subida de 7% no valor do barril de petróleo no mercado internacional acaba praticamente com todas as perspectivas do governo federal de evitar a alta dos combustíveis, diz o analista Dalton Oliveira “Portanto, isso tudo vai impactar diretamente nos preços dos alimentos que já estão nas alturas”, avalia ele.

Com a chegada das festas de final de ano, a situação vai se agravar mais ainda. Poucos se darão ao luxo de bancar a ceia tradicional no período, com uma mesa diversificada e recheada de produtos.

Os últimos números do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) sobre a alta na cesta básica assustam a população. Os preços voltaram a subir em 16 das 17 capitais do país incluídas na pesquisa.

Florianópolis (R$ 700,69), depois São Paulo (R$ 693,79), Porto Alegre (R$ 691,08) e Rio de Janeiro (R$ 673,85) foram as cidades que mais sentiram o impacto da alta dos preços. 

Em Manaus, o valor pode chegar até R$ 618 (considerando uma cesta mais ‘recheada’) e o açúcar é um dos grandes vilões, com uma alta de 8,2%, seguido do frango, com 4,2%, e do café em pó, com 3,6%, segundo analistas de mercado.

‘Chororô’

A dona de casa Mayara Silva diz que se assusta a cada vez que vai ao supermercado para abastecer a despensa e a geladeira. “Os preços variam o tempo todo. Não dá para comprar praticamente nada. O que se comprava antes com R$ 500, agora não é suficiente para trazer nem a metade dos produtos”, afirma ela, sem esconder a sua frustração.

O vendedor ambulante Laércio Souza diz também que ‘rala’ muito diariamente para conseguir alguns trocados. Foi-se o tempo em que conseguia faturar um bom dinheiro, deixando uma reserva e a outra parte para comprar o pão de cada dia.

“Hoje, mal posso levar um quilinho de arroz, um pouco de linguiça com o que apuro. Estamos passando necessidades. E não sabemos quando isso vai parar”, afirma. “E principalmente agora que acabou o auxílio emergencial”, acrescenta. “A situação piorou muito mesmo”.

De acordo ainda com o Dieese, a cesta básica mais cara foi a de Florianópolis (R$ 710,53), seguida por São Paulo (R$ 692,27), Porto Alegre (R$ 685,32), Vitória (R$ 668,17) e Rio de Janeiro (R$ 665,60). Embora tenham registrado aumento, as capitais do Norte e Nordeste tiveram valores menores: Aracaju (R$ 473,26), Salvador (R$ 505,94) e João Pessoa (R$ 508,91).

Em comparação com o mês de novembro do ano passado, a cesta subiu em todas as capitais. Os menores percentuais foram em Curitiba (16,75%), Florianópolis (15,16%), Natal (14,41%), Recife (13,34%) e Belém (13,18%).

Como Manaus importa praticamente todos os  alimentos que consome hoje, os preços devem dobrar ainda mais até o final de dezembro, segundo estimativas de órgãos que acompanham a majoração da cesta básica.

Marcelo Peres

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