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Macaxeira nossa de cada dia

Macaxeira cozida, no café da manhã, o ‘pão do Brasil’

Evaldo Ferreira: @evaldo.am

Quando os portugueses chegaram à Amazônia, no século 17, os indígenas já consumiam a mandioca em produtos extraídos desse tubérculo, como a farinha, também transformada em beijus. Interessante que a mandioca possui um alto grau de ácido cianídrico, mas aqueles povos da floresta sabiam muito bem tirar esse veneno do tubérculo, através de cozimento, e consumi-lo sem problema algum. Até os nossos dias a mandioca é transformada em vários produtos, sendo o principal, a farinha, alimento que não pode faltar nas refeições dos barés. Uma variedade da mandioca, apreciada por dez entre dez amazônidas, é a macaxeira. Essa raiz também possui ácido cianídrico, mas em quantidade tão ínfima, que não faz mal aos seres humanos, por isso é consumida em larga escala, cozida, no café da manhã, sendo considerada o ‘pão do Brasil’; ou frita, em bares e restaurantes como tira-gosto ou acompanhamento das refeições.

Para facilitar a vida de quem gosta de uma macaxeira banhada na manteiga, no café da manhã, e não tem tempo de comprá-la, descascá-la e cozinhá-la, a FJS Agro Indústria, localizada na cidade de Manaquiri, resolveu esse problema. Em 31 de outubro de 2020 eles lançaram a marca Vovó Lindalva, macaxeiras ensacadas, descascadas, pré-cozidas e congeladas, e a marca já pode ser encontrada em Manaus.

“FJS são as iniciais dos sócios: Filadelson, Jean e eu, Sérgio Araújo. Vovó Lindalva era a mãe do Filadelson, o sócio majoritário. Ela faleceu pouco antes da fundação da empresa e quisemos homenageá-la”, contou Sérgio.

“Mas a coisa não foi tão fácil no começo. Precisávamos da matéria-prima, a macaxeira, para a FJS poder entrar em funcionamento”, lembrou.

Plantio na terra firme

Tradicionalmente os moradores rurais do município de Manaquiri já plantavam pequenas roças de mandioca e macaxeira, mas apenas para o consumo próprio e um pouco para a venda. Como atraí-los?

“O valor médio do quilo da macaxeira era R$ 0,40 a R$ 0,60, de acordo com a demanda. Estabelecemos o preço mínimo de R$ 1,00. Com isso os produtores viram que era interessante vender para nós. Durante o pico da pandemia, paramos, mas desde que retomamos as atividades já beneficiamos macaxeiras de duas safras”, informou.

Na Amazônia a macaxeira é plantada na várzea, área de terra nas margens dos rios que permanece inundada durante a cheia e na vazante fica repleta de nutrientes. O plantio da nova safra deve começar em breve, pois as águas já começaram a baixar. Geralmente ocorre entre setembro e março. Quando as águas iniciam seu retorno, é hora da colheita. Mas a FJS está testando novas tecnologias para o plantio em terra firme.

“É uma inovação do plantio, aqui na região. Nas culturas realizadas nas várzeas, a natureza se encarrega de fertilizar o solo. Na terra firme teremos que utilizar tecnologia para fertilizar essa terra de forma que a macaxeira se dê tão bem quanto na várzea. A vantagem da terra firme é poder plantar o ano inteiro, em diferentes áreas. Estamos plantando 50 hectares e, a partir daí, pretendemos criar um padrão para a ampliação dessa área”, falou.

Enquanto o solo de várzea é riquíssimo em nutrientes, responsáveis pelo bom desempenho da planta, o solo de terra firme é ácido e pobre em fertilidade. No primeiro caso a raiz fica robusta, já no segundo, permanece fina.

Pronto para consumo

Atualmente 30 produtores do Manaquiri e um de Iranduba integram a Comama (Cooperativa Mista dos Agricultores do Manaquiri no Amazonas). Por safra eles têm conseguido entregar para a FJS uma média de 100 a 150 toneladas de macaxeiras. São conhecidas centenas de variedades da planta divididas entre duas espécies: mandioca brava (com veneno) e mandioca mansa (macaxeira).

“Esse é outro problema que estamos tendo que resolver: as várias espécies de macaxeira plantadas pelos agricultores. Estamos padronizando isso, classificando o que cada um planta, pois as variedades possuem diferentes tons de branco e amarelo, bem como períodos diferentes de cozimento, podendo ser mais duras ou mais moles. Temos que entregar ao cliente um produto uniforme”, explicou.

A novidade que a FJS lançou no Amazonas, entregando o produto praticamente no ponto para o consumo, tem feito sucesso em pontos de venda, em Manaus.

“A macaxeira é apresentada em quatro formatos: em pedaços de 5 cm a 8 cm, ideais para o café da manhã; em palitos tipo batata frita; em cubos, para bares e restaurantes; e a massa, para bolos. É só colocar para cozinhar, durante cinco minutos, e já estão prontos para serem consumidos. Os produtos da Vovó Lindalva têm validade de seis meses e não levam nenhum aditivo químico”, afirmou.

Os próximos passos da FJS são ampliar sua produção, além dos 50 hectares, e depois partir para o lançamento de outros produtos, como a farinha. É a mandioca e a macaxeira se perpetuando como um dos alimentos mais antigos do homem amazônico.

Informações: 9 8430-6472.              

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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