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Koch-Grünberg, um pioneiro na Amazônia

O alemão Theodor Koch-Grünberg foi um dos grandes aventureiros e estudioso dos povos indígenas amazônicos do início do século 20. Subiu rios e caminhou por florestas onde ninguém havia passado antes. Fotografou, filmou e escreveu textos riquíssimos de informações sobre os lugares por onde passou. Estes textos foram transformados em cinco publicações, que se transformaram na obra literária de Koch-Grünberg. Uma destas publicações, ‘Do Roraima ao Orinoco – resultados de uma viagem no Norte do Brasil e na Venezuela nos anos de 1911 a 1913’, acaba de ser lançada pela Editora Unesp, da Universidade Estadual Paulista, em parceria com a Editora da UEA, que ficou responsável pela revisão técnica da tradução. São três livros, de capa dura, com mais de 350 páginas cada, e repletos de fotografias ‘tiradas’ por Koch-Grünberg.

Como tantos outros europeus, Koch-Grünberg era um apaixonado pelos mistérios da Amazônia mesmo antes de conhecê-la. Formou-se professor, em 1896 e, de dezembro de 1898 a janeiro de 1900, participou de sua primeira expedição no Brasil, no Xingu.

Em 1903 já estava em Manaus, que se tornou a base de todas as suas excursões pelo Amazonas. Nesse mesmo ano subiu o rio Negro numa aventura de pesquisas que duraria até 1905. Durante os dois anos, subiu riu desconhecidos, contactou gentes em várias aldeias, enfrentou as perigosas corredeiras do alto rio Negro e coletou muito material etnográfico: cestos, paneiros, peneiras, vasos cerâmicos, arcos e flechas, instrumentos musicais, entre outros, dando em troca contas coloridas, fósforos, e anzóis. Dessa sua viagem resultou o livro ‘Dois anos entre os indígenas – viagens no noroeste do Brasil (1903/1905)’, com mais de 600 páginas e muitas fotos, editado pela Edua (Editora da Ufam).

Edição inédita

Dois outros livros que resultaram dessa empreitada são ‘Começo da arte na selva’ e ‘Petróglifos sul-americanos’, publicados em 1905 e 1907, respectivamente.

Depois de seis anos longe da Amazônia, Koch-Grünberg retornou, em 1911, desta vez seguindo para outro rio, o Branco, maior afluente do Negro. Novamente tendo Manaus como base, o alemão partiu mais uma vez rumo a um meio-ambiente quase desconhecido, chegando ao Monte Roraima. Na região, documentou mitos e lendas do povo pemon, desbravou serras e chegou ao rio Orinoco em 1º de janeiro de 1913. Ao final de mais essa estadia de dois anos entre rios, floresta e indígenas, Koch-Grünberg retornou a Manaus e à Alemanha. Em 1917 publicou ‘Do Roraima ao Orinoco’ e, apesar de ser o trabalho mais denso do etnólogo, desde então a publicação permanecia inédita no Brasil.

“A presente edição vem, assim, reparar uma grave lacuna editorial, trazendo ao público brasileiro mais amplo a etnografia poderosa que nos legou o autor acerca dos povos indígenas da língua karib – que, hoje, conhecemos por pemon -, nos campos e serras do rio Branco”, escreveu Nádia Farage na introdução do livro.

A introdução da publicação ainda destaca que ‘Vom Roroima zum Orinoco’ (nome original, em alemão) é considerada a obra mais importante de Koch-Grünberg.

‘Nessa viagem, depois de pesquisar os grupos macuschi (macuxi) e taulipáng das proximidades do Monte Roraima, Koch-Grünberg subiu o curso do rio Uraricoera e atravessou a divisa do Brasil com a Venezuela, país onde estudou os grupos indígenas yekuaná e guinaú. Desceu, então, o curso do Ventuari até a desembocadura do Orinoco, o ponto final de sua expedição e de onde regressou, por rio, a Manaus’.

A última viagem

Desde sua primeira vinda a Manaus, Koch-Grünberg se tornou amigo do fotógrafo, também alemão, George Huebner. Talvez isso tenha facilitado com que se tornasse um dos pioneiros da fotografia etnográfica na Amazônia. George Huebner já viajava pela Amazônia desde 1885, e também era um aventureiro. Se estabeleceu em Manaus, em 1897, e aqui viveu até morrer, em 1935.

Em 1924 Koch-Grünberg era diretor científico no Museu de Stuttgard quando foi convidado pelo geógrafo norte-americano Alexander Hamilton Rice, da Universidade de Harward, para fazer parte da Expedição Rice, que visava explorar as nascentes dos rios Orinoco e Negro. Quem também fez parte da Expedição foi o português Silvino Santos, contratado para fotografar e filmar os trabalhos. A Expedição, com recursos técnicos avançados, para a época, trouxe inclusive um hidroavião e reuniu uma equipe de cientistas.

Em fins de agosto subiram o rio Negro e rumaram para o Branco. Seis semanas depois, em 9 de outubro, quando estavam em Vista Alegre, médio rio Branco, acometido pela malária, Koch-Grünberg morreu. Ele tinha 52 anos.

Segundo o historiador Fábio Augusto, em 1944, o pesquisador Geraldo de Macedo Pinheiro localizou o túmulo onde Koch-Grünberg estava enterrado e, em 1953, seus restos mortais foram trazidos para Manaus e enterrados no cemitério São João Batista, onde permanecem. O Museu do Igha (Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas) guarda um baú com alguns pertences do etnólogo.

Parte da documentação etnográfica de Koch-Grünberg não sobreviveu ao tempo. Dos diversos rolos de filme que gravou em 1911/1913, meros 15 minutos resultaram aproveitáveis quando, nos anos de 1960, Otto Zerries os editou para o Instituto de Filmagem Científica de Göttingen. Dos 50 cilindros de gravações musicais, hoje no Museu Etnológico de Berlim, somente 30 peças, com um total de 50 minutos de gravação, puderam ser digitalizadas.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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