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Histórias de Manaus viram ‘stories’ de sucesso

Quem não aprecia ouvir uma boa história, e quem não gosta de relembrar os bons momentos vividos no passado? Pois a junção desses dois fatores é que está fazendo surgir cada vez mais nas redes sociais pessoas publicando fotos e vídeos da Manaus de décadas passadas. Algumas dessas publicações são postadas por pessoas que realmente têm compromisso com o passado histórico e se preocupam em não transmitir informações erradas, principalmente no quesito datas. Outras, nem tanto. Eliton Reis se encaixa no primeiro perfil. Ele é técnico em enfermagem, mas pesquisador da história de Manaus, não só da Belle Époque, mas também de algumas décadas atrás. O rapaz é o criador da página ‘Manaus na História’, com perfis no Instagram (104 mil seguidores), Face (35 mil), TikTok (dois mil), e canal no YouTube (1.800).

“No TikTok cheguei a ter 84 mil seguidores, mas só porque publiquei aquele vídeo, de 1988, onde dezenas de pessoas na zona Leste depredam ônibus, exatamente pela precariedade deles nas invasões que surgiam naquela região, o TikTok alegou que eu estava publicando conteúdo violento e excluiu minha conta. Tive que fazer outra, por isso ainda tem poucos seguidores”, contou.

Ruínas de Paricatuba. “Se tem um prédio, vou procurar saber mais sobre ele, quem morou ali”

“Também tenho um blog, mas quase não publico nada lá porque o blog se tornou uma coisa do passado”, revelou.

O diferencial de Eliton com relação a outras redes sociais que focam na história de Manaus é que, além de fotos, ele publica muitos vídeos, e alguns até então nunca vistos, mesmo por quem é da área e vive vasculhando nas poeiras do passado. Fissurado por pesquisa, o técnico em enfermagem procura por imagens de Manaus mundo afora.

Pesquisa no exterior      

Eliton começou a se interessar pelo passado ainda na adolescência, quando cursava o ensino médio.

“Sempre gostei de geografia e história. Os jornais A Crítica e Jornal do Commercio davam CDs com fotos antigas de Manaus. Eu comprava tudo, e foi aí que comecei o meu acervo, passando a procurar por outras fotos antigas e arquivar. Isso foi no início dos anos 2000. Desde aí não parei mais”, relembrou.

Eliton herdou do pai, Hamilton Lira, já falecido, o gosto por imagens. Hamilton sempre investiu em máquinas de fotografar e filmar mais modernas, e registrava tudo.

“Com o passar dos anos, fui me aprimorando, procurando conhecer os fatos históricos da cidade e não apenas me ater à imagem de uma foto ou de um vídeo. Se tem um prédio, vou procurar saber mais sobre ele, quem morou ali. Se é uma rua, quero saber quem foi a pessoa que dá nome pra ela, e assim vou pesquisando e descobrindo coisas novas”, explicou.

Não satisfeito em ver os mesmos e poucos vídeos filmados em Manaus, principalmente por Silvino Santos, nas primeiras décadas do século passado, Eliton começou a pesquisar em acervos de bibliotecas no exterior. E o resultado logo apareceu. Em fevereiro de 2020, principalmente por causa do isolamento devido à pandemia, ele iniciou suas publicações.

“São curtas, médias e até longa-metragens, mas eu não os publico inteiros. Seleciono alguns minutos de cena, para não ficar cansativo. Depois vou publicando outros. Tenho no meu acervo entre 150 e 200 vídeos antigos, alguns que só eu possuo. Já as fotos eu calculo mais de 20 mil imagens”, disse.

“Eu não publico qualquer coisa. Tem que ter algo de histórico. Procuro saber principalmente o ano, que na maioria das vezes não tem, então, pelas imagens, roupas das pessoas, tipo de veículos, dá para se calcular a década”, informou.

Outros países

O vídeo mais antigo encontrado por Eliton está numa biblioteca da Itália. Ele calcula que seja da década de 1940, com duração de 20 segundos, e mostra pessoas na praça da Saudade. Tem outro, colorido, com 40 minutos de duração, de 1957, encontrado numa biblioteca de Chicago, nos Estados Unidos, onde aparecem cenas de Belém e Manaus.

“Eu estou publicando só as cenas de Manaus. Essas filmagens foram feitas pelo americano Julian Groomer. Ele viajava pelo mundo, documentando cidades. A maioria dos vídeos mostra o Teatro Amazonas e seu entorno, porque para os estrangeiros era algo inacreditável ter um teatro daquele porte numa cidadezinha, no meio da floresta”, afirmou.

Outros países onde Eliton encontrou fotos e vídeos de Manaus foram Portugal, Alemanha, França, Inglaterra e até na Rússia.

Cachoeira do Tarumã. “As pessoas precisam conhecer o seu passado para entender o seu presente”

“O da Rússia foi feito por alguém, num barco, filmando a frente da cidade”, lembrou.

Além de suas pesquisas, o pesquisador recebe muito material de pessoas que têm fotos e vídeos em casa, guardados numa gaveta e, de repente, veem neles um documento histórico.

“E eu publico, mesmo que seja da década de 1980 e 1990, mas que mostre algo que não existe mais naquele determinado local”, falou.

“Muitas pessoas se dirigem a mim como se eu fosse um historiador ou professor. Eu sou só um pesquisador que se dedica com empenho em saber cada vez mais sobre a história de Manaus, e quero compartilhar isso com todos. As pessoas precisam conhecer o seu passado para entender o seu presente”, finalizou.

Por Evaldo Ferreira: @evaldo.am

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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