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Fugindo da ditadura em seu país, psicólogo venezuelano desenvolve projetos literários em Manaus

Evaldo Ferreira: @evaldo.am

Fotos: Evaldo Ferreira

O venezuelano Xiosmel Ramon Herrera é um apaixonado pela escrita. Desde muito jovem escrevia histórias e poesias. Ficava fascinado com os grandes nomes da literatura em seu país, e queria ser como um deles. Mas aí veio a ditadura. Pelas suas opiniões, Xiosmel foi preso. Ficou durante 15 dias numa cela. Ao ser solto, intimidado e perseguido, não teve condições de enfrentar o sistema que se instalara na Venezuela. A saída encontrada foi fugir para o Brasil, primeiro ele, depois mandou buscar a esposa. Chegaram a Manaus, em 2018.

“Sou psicólogo, mas tive que vender bananas nas ruas de Manaus para conseguir me manter. Em 2019 conheci o projeto Hermanitos, que ajuda refugiados venezuelanos, e minha vida começou a mudar. Fui trabalhar no projeto dando aconselhamentos aos venezuelanos que, como eu, chegavam a Manaus fugidos do regime de Maduro, amedrontados, sem perspectivas. Hoje sou coordenador operacional no Hermanitos”, contou.

Em Manaus, Xiosmel libertou o escritor que existia dentro dele. Já lançou dois livros: ‘Doente em cama alheia’, de contos; e ‘Despedida’, de poesias. Deixando falar seu lado psicólogo, o venezuelano foi além ajudando jovens poetas a também libertarem os escritores que permaneciam latentes em seu interior.

“Conversando com jovens poetas, em Manaus, vi que a poesia atuava como uma forma de escape para eles nas quais projetavam seus desejos, frustrações, medos, problemas, ansiedade, então resolvi criar projetos para que esses jovens ‘colocassem para fora’ os poetas que guardavam dentro de si”, explicou.

Homenagem a Thiago

Assim surgiu a revista digital Rio Negro: @revistarionegro, na qual os poetas podem publicar suas poesias.

“Vi que não existia, em Manaus, nenhuma plataforma onde isso fosse possível, então criei a revista digital”, falou.

A revista foi lançada oficialmente, no dia 23 de abril num evento no Palacete Provincial. Na ocasião, Xiosmel apresentou mais um projeto, o Prêmio de Poesia Jovem Thiago de Mello, com premiação em dinheiro para os três primeiros colocados.

“Eu inscrevi um projeto no edital da Lei Paulo Gustavo, e o projeto foi contemplado. Com isso pude lançar o Prêmio de Poesia Jovem Thiago de Mello. Não tive a oportunidade de conhecer Thiago de Mello pessoalmente, mas pela representatividade que ele tem com a poesia amazonense e amazônica, resolvi homenageá-lo”, acrescentou.

O edital do Prêmio já está lançado desde o dia 23 passado e encerra no próximo dia 23 de maio. Jovens de 18 a 35 anos podem inscrever suas poesias.

“Sei que existem jovens com menos de 18 anos que já são verdadeiros poetas, mas achei melhor delimitar com a maioridade e aumentar a idade máxima”, disse.

A premiação para os vencedores é de R$ 1.200, para o primeiro lugar; R$ 700, para o segundo; e R$ 500, para o terceiro.

“As poesias serão escolhidas por três jurados, mas ao final, todos os participantes sairão ganhadores porque irei publicar uma antologia com as poesias de todos eles. Para quem desejar dar visibilidade às suas poesias, o regulamento está no Instagram da Revista Rio Negro”, avisou.    

Xiosmel disse estar satisfeito com a repercussão que seus projetos estão tendo, pois, segundo ele, na Venezuela não tinha as facilidades encontradas no Brasil. Mal sabe que está fazendo mais pela cultura amazonense do que muitas instituições que existem, em Manaus, há décadas.

Animais fantásticos

E nem bem acaba um projeto e Xiosmel já está trabalhando e pensando num próximo. Até o final de maio o jovem pretende lançar um novo projeto voltado, agora, para crianças, futuros poetas, de sete a doze anos.

“O objetivo desse projeto é ensinar as crianças a fazerem poesias e desenhos de bestiários, traduzindo essa palavra, bestiários seriam animais fantásticos, tipo aqueles do filme ‘Animais fantásticos e onde habitam’, explicou. 

Na literatura bestiário são descritos animais, as bestas, em seu mundo. Era comum na época medieval, escrita por monges católicos onde apareciam tanto animais reais quanto imaginários. No Brasil, a poetisa Jussara Salazar é autora do poema ‘Bestiário’ do qual seguem alguns trechos: ‘a minha guerra será a tua guerra / não a guerra dos homens / mas a dos pássaros desgarrados / o nosso bestiário será esse / o do contrário e dos urubus diários / o dos monstros submersos que eunoé lembrará’. Já o escritor Caetano Lagrasta escreveu o livro ‘Bestiário para crianças’ repleto de desenhos de animais.   

“Iremos promover oficinas nas quais as crianças irão não só escrever poesias sobre os animais que conhecem, e os animais fantásticos, mas também desenhá-los. Com isso queremos proporcionar que abram suas mentes para o imaginário e desenvolvam o processo de criação”, concluiu. 

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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