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Belisário Arce mostra resultado de missões empresariais

A Guiana se consolida como um potencial mercado para o escoamento da produção industrial do Amazonas. Essa possibilidade cresce com a pavimentação da estrada ligando as cidades de Lepter a Linder, próximas de Roraima e também de Manaus, segundo Belisário Arce, diretor executivo da Associação PanAmazônia, uma entidade que busca parcerias empresariais com outros países da região.

Belisário conta que fez parte de uma missão de empresários que esteve recentemente na Guiana, onde foram realizadas várias rodadas de negócios, reunindo os mais diversos setores das atividades econômicas do país vizinho, de quase 800 mil habitantes. Para ele, o resultado dessas negociações aparece como alternativas para alavancar as atividades da ZFM (Zona Franca de Manaus) num momento em que o modelo sofre todo tipo de ameaças do governo central, minando aos poucos os benefícios fiscais usufruídos pelas mais de 500 empresas instaladas na capital.

“A Guiana aparece como boa opção de negócios. É carente de tudo. Não há serviços, falta mão de obra especializada, faltam moradias, e nem tem profissionais habilitados para atuar num diversificado mercado de trabalho”, ressalta ele. “Poderíamos exportar tudo para lá, onde a economia cresce com a exploração das plataformas de petróleo”, acrescenta.

A pavimentação da estrada com um trecho de 122 quilômetros está sendo feita pelo grupo empresarial brasileiro Queiroz Galvão, segundo Arce. Outra grande iniciativa é a construção de um porto de águas profundas na região de Barbie, com capacidade para receber navios de grande calado oriundos dos mais diversos países, inclusive da China e do Brasil.

“As expectativas de novos negócios são promissoras. Só precisamos costurar os caminhos, com apoio de políticas públicas para essa integração entre o Brasil, principalmente com o Amazonas e Roraima, que estão próximos da Guiana e do Suriname, outro potencial mercado que deve se expandir com a exploração do petróleo”, afirma ele.

De acordo com Arce, a PanAmazônia também trabalha parcerias com outros países no âmbito de abrangência da Região Amazônica. Recentemente, conduziu uma comitiva empresarial para a Colômbia, país com grandes potencialidades e que tem interesse em estreitar o intercâmbio comercial com o Amazonas.

Belisário Arce participou da live ‘JC às 15h’, comandada pelos jornalistas Caubi Cerquinho e Fred Novaes, diretor de redação do Jornal do Commercio.

Jornal do Commercio – O que faz a PanAmazônia e quais os objetivos da entidade?

Belisário Arce – A associação PanAmazônia tem a missão de promover a cooperação especialmente entre os setores empresariais dos Estados da Amazônia brasileira e também dos países vizinhos. E, ao mesmo tempo, promover uma agenda econômica liberal na região.

A principal preocupação é com o desenvolvimento social e econômico. E acreditamos que isso só vai acontecer por meio de uma implementação de uma agenda liberal.

JC – Recentemente, foi concluída com sucesso uma missão na Guiana. Pode nos falar sobre essa empreitada?

BA – Foi muito interessante a missão. Saímos de Manaus no dia 4. Começamos com uma visita ao governador de Roraima, e posteriormente fomos à Guiana, com a presença de lideranças. Fizemos com que conhecessem os potenciais de investimentos e de negócios daqui e no País.

E nesse sentido foi muito bom, excelente. Foram 20 empresários que se reuniram durante três dias de trabalhos. Foram reuniões com o governo, com a presença da ministra do Comércio, Turismo e Indústria. Ela disse ter ido a Dubai para prospectar uma parceira para a construção do porto de águas profundas de Barbie.

E o Paulo De Carli, que é um dos nossos associados e que esteve à frente dessa missão na Guiana, onde vem investindo há alguns anos, fez uma observação dizendo para a ministra que ela não precisava dessa parceria para a construção do porto, porque no Brasil há empresas com capacidade plena e expertise para construir esse projeto.

Ela disse que levaria a proposta para consideração do presidente da República. E também que irá tentar incluir esse tema na missão presidencial. O presidente Bolsonaro deve ir a Georgetown em 6 de maio.

Lá, eles têm uma entidade chamada University que se destina a promover o desenvolvimento econômico da Guiana. Eles reúnem todos os empresários – o pessoal do comércio, da indústria, é uma espécie de soma do nosso CNC, CNI e CNA.

É importante porque eles reúnem todo o empresariado. Estivemos com o ministro da Habitação. Ele comentou sobre os investimentos nas moradias, o setor se tornou muito caro, a demanda aumentou muito.

O aumento da população em razão do petróleo encareceu muito as moradias na Guiana. O governo está com o programa para construção de 22 mil casas, que para o Brasil é pequeno. O país tem 780 mil habitantes.

As casas serão construídas para vários segmentos da população, tanto para baixa renda, média e alta. E outra informação que obtivemos é que foi assinado um contrato com a empresa Queiroz Galvão, grupo brasileiro, para a pavimentação do trecho que liga as cidades de Lepter a Linder, com cerca de 122 quilômetros.

Os recursos vêm de um financiamento no Caribe em conjunto com o Reino Unido. Para ampliar a infraestrutura no Caribe, com um total de 170 milhões de dólares. Então, é importante a conclusão dessa estrada, tanto para a atividade industrial de Roraima como também para o Amazonas.

JC – Há pelo menos 30 anos já se falava nessa parceria entre Georgetown e o Amazonas. Existe uma espécie de menu de produtos de serviços entre a cidade e Manaus? Conseguiu visualizar também o polo naval que é muito grande?

BA – Sim. Para efetivação desse polo naval, eles precisam de um porto de águas profundas. E o ministro da Infraestrutura disse que é um projeto prioritário, de interesse nacional.

Então, visitamos uma base que é impressionante, coisa de primeiro mundo. Eles têm 32 navios que ficam constantemente fazendo abastecimento e transporte entre as plataformas petrolíferas. Isso é extraordinário.

O agronegócio também está crescendo em Roraima, potencializando a soja e o milho. É óbvio que é importante para escoamento da safra do Estado para esse mercado.

A Guiana é carente de tudo. No caso do Amazonas, é um mercado muito interessante. Devemos sempre ter em mente que é na Guiana que está sediado o Mercado do Caribe, que tem em torno de 30 milhões de consumidores, residentes e flutuantes, que são os turistas de alto poder aquisitivo.

Então, deveríamos estar atentos para esse mercado de alta renda. Bom par os nossos produtos do Polo Industrial, sobretudo agora, quando a coisa está ficando feia. Em breve, teremos a tão temida reforma tributária. E haverá cada vez mais pressão com relação aos benefícios fiscais da ZFM.

É uma boa opção seria o Caribe, onde se encontra todos os produtos fabricados na ZFM, só que eles importam da China. As empresas fabricam produtos de uma economia global. Precisamos trabalhar junto a essas fábricas com matrizes aqui e alertar sobre essa possibilidade de expansão.

Nós estamos muito próximos de Georgetown. E tendo o porto de águas profundas poderemos escoar a nossa produção industrial. As empresas têm que estar  de olho nesse mercado que é crescente, e é carente de tudo, de produtos, de serviços e de mão de obra.

JC – Como você tem visto o avanço desses governos de esquerda na América Latina, que de alguma forma se opõem a essa agenda liberal?

BA – Sem dúvida, isso é preocupante. É uma pena. A diplomacia brasileira sempre teve a ambição, presunção, esperança de ser um líder na América do Sul. Alguns diplomatas riam quando eu conversava sobre isso.

De alguma forma, o Brasil influencia muito no que acontece no subcontinente americano. E espero que o País  continue no rumo do desenvolvimento econômico. Mas se pender para a esquerda, a nossa situação ficará mais difícil.

Espero que as populações desses países não continuem no caminho negativo, da falta de desenvolvimento, com precariedade de renda per capita. A sociedade deve procurar prosperidade, que é pelo caminho das liberdades econômicas.

O Panamá já tem uma renda per capita de 30 mil dólares. E o Brasil continua com 15 mil dólares, tem que avançar. E o Panamá só conseguiu avançar com medidas liberalizantes.

Todo mundo pode empreender livremente sem normas burocráticas, nem impostos que sufocam empresários. Não tem muito segredo. Se quisermos desenvolver uma sociedade, é preciso dar liberdade para que o setor privado avance por outros caminhos.

JC – Um dos entraves para o desenvolvimento são as questões ambientais. Nessa atuação com empresários de outros países, existe essa mesma preocupação?

BA – Lá na Guiana, obviamente eles têm uma preocupação com o meio ambiente, mas não como na legislação que temos aqui. Eles têm mais liberdade para avançar com exploração madeireira, com o polo naval, mas não estão  tão engessados como é hoje na Amazônia e no Brasil.

Quer dizer, o Código Florestal vale uma coisa para o Brasil e outra para a Amazônia. Então, lá há um ambiente de mais liberdade para a atividade empresarial. Em relação à questão ambiental e ao desenvolvimento, a minha visão é muito clara. Eu defendo aquilo que o professor Benchimol  já dizia há décadas, que é o equilíbrio entre os fatores ambientais e os econômicos.

Mas vejo um desequilíbrio com essa questão ambiental na Amazônia. Isso não é saudável porque a pobreza é a maior inimiga do ambiente.

JC – A Pan-Amazônia teve um trabalho de destaque na  busca de liberdade econômica durante a pandemia. Como avalia esse movimento de maior abertura, mas ao mesmo tempo se vê algumas sombras tentando não recuar nas restrições?

BA  -Discutimos muito isso com os empresários que participam da PanAmazônia. Já dizíamos que o custo dessa paralisação na economia iria ser terrível. É o que está acontecendo.

A liberdade da iniciativa privada foi cerceada e estamos pagando o preço. A Associação PanAmazônia foi uma das únicas (talvez a única) que se manifestou claramente contra os decretos que cerceavam a liberdade econômica, mas infelizmente não tivemos sucesso em nossas tentativas.

JC – Já existem projetos da PanAmazônia de levar empresários para outros lugares?

BA – Na Guiana, tivemos um dia inteiro de rodadas de negócios com todos os segmentos das atividades econômicas daquele país. Todos tiveram uma boa impressão, foi muito positivo.

Falaram muito em ir a Paramaribo, no Suriname, que futuramente vai refletir esse crescimento da Guiana. No ano passado, o crescimento do PIB foi de 22% e este ano pode ser de 50%, algo muito extraordinário que não se viu ainda na economia mundial recente.

Então, esse crescimento pode se repetir no Suriname, onde já descobriram poços de petróleo e cuja exploração deve começar daqui a quatro anos. Recentemente, o presidente Bolsonaro fez uma visita ao Suriname pela importância econômica que o país está tendo.

Também fizemos uma visita à  Colômbia, que é um mercado crescente e tem interesse em estreitar as relações com o Amazonas.

JC – Como ficou a sua indicação para a secretaria geral da OTCA (Organização do Tratado de Cooperação Amazônica)?

BA – Ainda está pendente. Começamos no ano passado. Recentemente, estive com o ministro das Relações Exteriores. E 19 senadores apoiaram a indicação do meu nome para a secretaria geral do TCA. E saímos com a promessa que vão encontrar uma solução. A situação atual é que o mandato da atual diretoria venceu no dia 31 de março. Então, não sei se eles continuam interinamente ou se a entidade está sem comando.

Mas está difícil porque o processo lá é por unanimidade na escolha do secretário-geral e de outros membros pelos oito países que fazem parte do TCA –  Brasil, Colômbia, Bolívia, Equador, Peru, Guiana, Suriname e Venezuela

Acho que eu poderia dar uma contribuição muito grande. Primeiro porque ajudei a instalar o TCA, entre 2003 e 2004, e fui chefe daquele organismo.

Implantamos a organização praticamente a partir do zero. Como sou da região e  tenho essa preocupação com o desenvolvimento, me dedico a isso há quase uma década, poderia dar uma contribuição nesse sentido numa entidade que tem um mandato importante dos parlamentos dos oito países com harmonização de políticas  públicas para a região.

Hoje, é só um órgão diplomático. Está sendo desperdiçado em termos de defender medidas para a Região Amazônica. A organização está inoperante, não fazendo nada.

Marcelo Peres

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