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Endividamento e Inadimplência do Consumidor de Manaus tem queda no último levantamento de abril

O número de endividados em Manaus caiu em abril, quebrando uma sequência de cinco meses de altas. Os índices locais de consumidores inadimplentes e insolventes também mostraram melhora. Ao menos 540.236 famílias da cidade, o equivalente a 81,5% do total, estão com contas a vencer. Embora ainda elevada, é uma marca inferior às de março (82,9% ou 549.142) e à de 12 meses atrás (89% ou 582.053). Para quem tem renda acima de dez salários mínimos, o vilão do endividamento segue sendo o cartão de crédito. Já quem ganha menos, segue atolado nos carnês.

A parcela de famílias com contas atrasadas encolheu pelo segundo mês seguido, ao passar 52,5% para 49,7%, mas 329.142 delas ainda estão nessa situação. A proporção também se manteve reduzida frente a março de 2023 (51,4% ou 335.967). A mesma dinâmica se deu na fatia de consumidores sem condições de pagamento, mas a quantidade de insolventes ainda responde por 21,7% (143.965) do total – o maior percentual do país. É o que indicam os dados locais da Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo). 

A capital amazonense foi na contramão da média nacional do indicador. O percentual de famílias brasileiras com dívidas a vencer em meios de pagamentos diversos subiu pelo segundo mês consecutivo na variação mensal, de 78,1% para 78,5%, e também ficou pouco acima de 12 meses atrás (78,3%). O percentual de inadimplentes (28,6%) se manteve estável ante fevereiro, mas ficou abaixo da marca do mesmo mês do ano passado (29,1%). A fatia de consumidores sem fôlego para pagar (12,1%) teve acréscimo em ambas comparações. Vale notar que outros levantamentos recentes, como os da CNDL e da Serasa Experian, mostram retrato semelhante.

A nova melhora da Peic em Manaus segue em linha com fortalecimento do consumo mostrado pela ICF (Intenção de Consumo das da Famílias) local – também da CNC. A melhora foi sustentada pela percepção sobre renda, emprego e acesso crédito, assim como maior propensão a comprar bens duráveis, com a retomada da confiança entre as famílias mais pobres e reforço entre as mais abastadas.Apurado pela mesma entidade, o ICEC (Índice de Confiança do Empresário do Comércio) também redobrou alta. A despeito da descrença no momento atual, há maior intenção de contratar – em sintonia com os preparativos para o Dia das Mães –, mas não de investir.

Cartões e carnês

O cartão de crédito aumentou sua participação no bolo das dívidas e ainda seja o motor do endividamento em Manaus, em sintonia com a praticidade, apesar dos custos. Respondeu por 69% das dívidas locais – contra os 67,4% de fevereiro – e seu uso é ainda maior entre as famílias de maior renda (86,9%). Conforme a Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), apesar das reduções gradativas no ritmo da taxa Selic, esse ainda é o meio de financiamento mais caro do país, com juros mensais de 14,56% (410,97% por ano).

Em contrapartida, os carnês (56,5%) aumentaram sua fatia entre os débitos das famílias da cidade e mantiveram a vice-liderança, mas são impulsionados pelos que recebem menos (57,7%). Na sequência estão o crédito pessoal (10,3%), “outras dívidas” (10,2%), crédito consignado (7,4%), financiamento de carro (8%) e financiamento de casa (3,9%). Dono da segunda maior taxa de juros da lista da Anefac (7,77% por mês e 145,46% por ano), o cheque especial responde por 5,7% das dívidas dos manauenses. Invenção brasileira, o cheque pré-datado (0,6%) vem perdendo adeptos e só é usado pelos mais pobres.

Conforme a CNC, o percentual de consumidores de Manaus que se dizem “muito endividados” caiu para 20,6%, sendo essa uma condição mais comum entre as famílias de menor renda (22%). A fatia dos “mais ou menos endividados” (22%) estabilizou e é igual em ambos os segmentos de renda. Os “pouco endividados” (38,8%) ampliaram ainda mais sua maioria, especialmente entre os que ganham mais (46,3%). 

Em média, as famílias endividadas de Manaus devem levar 30 semanas para quitar seus compromissos. O grupo dos devedores com mais de um ano de compromissos pendentes (31,1%) passou para a liderança, superando a parcela das famílias locais com até três meses de compromissos financeiros (29,1%). Na média, os consumidores da cidade têm 31,2% de sua renda comprometidos por dívidas. Mas, 27,7% gastam mais da metade do que ganham e 47% consomem de 11% a 50% de seus rendimentos.

Nada menos do que 60,9% dos endividados locais já está inadimplente, menos do que no levantamento anterior (63,3%). Apenas 19,8% garantem que conseguirão quitar o compromisso integralmente no próximo mês – contra os 20,6% apurados em março. Também há menos consumidores que estimam que vão pagar parcialmente (36,1%) e um percentual maior dos que assumem que vão seguir devendo (43,7%). Em média, as dívidas do consumidor de Manaus estão atrasadas há 62 dias, sendo que o grupo de famílias pendentes por mais de um ano (31,1%) é o majoritário.

Juros e estiagem

Em entrevistas recentes à reportagem do Jornal do Commercio, o presidente em exercício da Fecomercio-AM, Aderson Frota, concorda que a situação de endividamento e inadimplência melhorou em Manaus, embora ressalte que ainda seja motivo para preocupação do setor, principalmente diante da perspectiva de uma nova estiagem severa. “Os empresários estão se reprogramando e planejando suas compras. No tocante ao consumo, ainda temos algumas dificuldades, apesar da redução da carga de juros. Isso já ajudou e diminuir as perspectivas de inadimplência, apesar de todos os problemas que vivemos”, ponderou.

Texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNC aponta que o aumento do endividamento verificado em âmbito nacional é fruto de maior demanda por crédito. Conforme o presidente da entidade, José Roberto Tadros, esse movimento é reflexo da queda da taxa de juros, que estimula o acesso ao crédito por conta de um menor custo financeiro. “As projeções da Confederação indicam que o endividamento deve continuar em ascensão, o que exigirá maior atenção ao risco de aumento da inadimplência, especialmente no fim do ano”, pontuou.

No mesmo texto, o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, salienta que a população de renda menor foi a principal responsável pelo aumento mensal do endividamento geral, embora tenha havido incremento também nas demais categorias. No comparativo anual, somente as famílias mais pobres estão endividadas, ao passo que as mais abastadas foram na direção contrária. “O aumento do endividamento sugere uma melhoria das condições de renda das famílias mais pobres”, encerrou, recomendando que os consumidores busquem educação financeira para evitar a inadimplência. 

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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