A Amazônia ‘esconde’ tantas riquezas ainda inexploradas que, se assim fosse feito, e de forma sustentável, tornariam ricos, a região e seu povo. Uma dessas riquezas é o buriti, só existente em plantações nativas e que somente agora começa a ter o seu potencial reconhecido graças às pesquisas do engenheiro florestal Afonso Rabelo, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia).
“Comecei a pesquisar o buriti em 2012, depois de perceber que o fruto, existente em grande quantidade em toda a bacia amazônica, é desvalorizado e desperdiçado. Como resultado das pesquisas descobri que o fruto tem alto valor medicinal, nutritivo e dele tudo se aproveita”, explicou Afonso.
O produto mais recente desenvolvido por Afonso com o buriti é a Buritinha, bebida alcoólica preparada a partir do xarope concentrado da polpa do fruto, mais cachaça.
“Não é um licor. É um xarope concentrado. Uma bebida inédita. A diferença é que o licor é preparado tendo como base a polpa do fruto”, acrescentou.
A Buritinha é um concentrado líquido, com consistência macia e coloração amarelo-laranja, livre de corantes e conservantes artificiais. O xarope pode ser usado na preparação de bebidas alcoólicas, refrigerantes, sucos e cobertura de doces.
Afonso credita a não popularização do fruto tão rico em propriedades à falta de pesquisas para conhecê-lo melhor. Por isso não tem medido esforços para pesquisá-lo e difundi-lo. Como resultado ele já publicou duas cartilhas. A primeira foi ‘Colheita dos cachos de palmeiras da Amazônia’. Junto com essa cartilha foi lançado o ‘palm-haste’ ferramenta criada pelo próprio Afonso, que pode atingir até 18m de altura e retirar com facilidade os frutos não só do buriti, mas de qualquer outra palmeira. Interessados podem solicitar o ‘palm-haste’ através do [email protected].
Mais de 100 produtos
“Uma palmeira de buriti pode atingir até 30m de altura e o ‘palm-haste’ chega até os 18m exatamente para que os frutos nascidos acima disso, fiquem para a natureza, para os animais e fazer surgir novas plantas. Pelos nossos cálculos, o homem colheria 80% dos frutos e os 20% ficariam na árvore, para que ela os dispusesse na terra”, revelou.
A outra cartilha lançada por Afonso foi ‘Coleta, pós-colheita, processamento e beneficiamento dos frutos do buriti’.
“Depois das duas cartilhas já desenvolvemos mais de 100 produtos surgidos da polpa do buriti, como receitas para doces, molhos, temperos, xaropes e agora a Buritinha. Na festa julhina, que acontecerá aqui no Inpa em 5 de julho, servirei lasanha de pirarucu seco, caranguejo, picadinho de pirarucu fresco, bola de sardinha, todos ao molho de buriti, além de vatapá com azeite de buriti, caldinho feijaburi, a ainda haverá degustação da Buritinha e irei lançar, a pedidos, o licor de buriti”, adiantou.
Afonso dá dicas de como aproveitar melhor o fruto.
“Como eles dão em cachos, no alto da palmeira, ficar difícil a colheita e as pessoas juntam do chão, os frutos que caem aos poucos, mas não é o ideal. Por isso desenvolvi a ‘palm-haste’, para que o cacho seja retirado inteiro, na época certa”, disse.
“Em nossas pesquisas de campo, descobrimos que desde a floração até o fruto ficar totalmente maduro, demora oito meses e a safra ocorre entre a segunda quinzena de fevereiro até o final de agosto. Após retirado o cacho, os frutos devem ser dispostos sobre uma mesa, em área sombreada e arejada. Ao longo de três dias eles vão mudar de cor: do vermelho ao laranja, até ficar cor de vinho quando estarão totalmente maduros e prontos para o consumo”, ensinou.
Afonso Rabelo é autor do livro ‘Frutos nativos da Amazônia comercializados nas feiras de Manaus-Amazonas’, e prepara o lançamento de novos produtos a partir do buriti.
As qualidades da Buritinha
Os extratos naturais de carotenóides presentes no xarope são responsáveis pelas colorações amarelo-brilhante da Buritinha, das coberturas de doces e dos refrigerantes e sucos, melhorando dessa forma a aparência e aceitação.
O xarope de buriti é um alimento nutritivo, energético, sendo rico em β-caroteno (maior precursor da vitamina A) e corantes naturais. Portanto, possui grande potencial para ser utilizado na culinária caseira, lanchonetes, restaurantes e hotéis.
Em lanchonetes, restaurantes e hotéis, o xarope concentrado de buriti pode ser usado na preparação de coquetéis e outros tipos de drinques. Nas agroindústrias pode ser utilizado para preparação de bebidas alcoólicas, como a Buritinha, e refrigerantes de buriti.
O β-caroteno presente no xarope de buriti possui reconhecido poder antioxidante para a saúde humana, em virtude do efeito protetor contra diversas doenças oriundas do ataque dos radicais livres, entre elas: doenças coronárias, câncer de pele, do pulmão e do trato digestivo e ainda possui ação antienvelhecimento e como filtro protetor da pele e da retina dos olhos.