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A praça continua a ver Manaus passar

Na quinta-feira (23), uma das praças mais populares de Manaus, a praça Heliodoro Balbi, a popular praça da Polícia, irá completar 115 anos de inaugurada com a arquitetura que conhecemos hoje, porque antes, no lugar existia apenas um imenso terreno entre o Ginásio Amazonense Dom Pedro II, atual Colégio Amazonense Dom Pedro II e o Regimento Militar, atual Palacete Provincial. Para festejar a data, no sábado (25), membros do Projeto Jaraqui, que tradicionalmente se reúnem no coreto próximo à Sete de Setembro, nas manhãs de sábado, para falar de Amazônia e política, irão promover atrações musicais, que já ocorrem nos seus encontros. O sebo O Alienista, do livreiro Celestino Neto, ocupante de uma das ‘pontas’ da praça, na esquina das avenidas Sete de Setembro com Floriano Peixoto, irá realizar o lançamento de livros de autores locais.

Também conhecida, desde 1954, como a praça onde surgiu o Clube da Madrugada, reunião inicialmente de adolescentes com pretensões intelectuais, que depois cresceram e por mais de 20 anos realmente movimentaram a vida literária da cidade, além de agregar artistas plásticos, a praça Heliodoro Balbi guarda muito mais fatos históricos da urbe que ela viu Manaus se transformar.

Em seu livro ‘Um passeio pelas praças de Manaus’, o historiador Antonio Loureiro conta que, até 1868, a área da praça ainda estava coberta por mata, mas o calçamento de paralelepípedos se aproximava vindo pela rua Brasileira, atual Sete de Setembro. Em 1872 o calçamento alcançou o igarapé do Aterro que, anos depois, foi aterrado para dar lugar à atual av. Getúlio Vargas. A praça, ainda um grande terreno, surgiu nesse período com o nome de 28 de Setembro, homenagem à Lei do Ventre Livre, promulgada no ano anterior.

Fato mais importante

Em 1869 começou a construção do Palacete Provincial para nele funcionar a Assembleia Provincial, o Tribunal do Júri, a Tesouraria, a Recebedoria e a Diretoria de Obras. Somente anos depois o prédio recebeu o Batalhão da Polícia Estadual, quando então a praça passou a ser chamada de praça da Polícia.

O fato histórico mais importante acontecido na praça da Polícia ocorreu em 1884. Escreveu Loureiro.

“Foi da sacada desse palacete que o presidente da província (atual governador) o cearense Theodureto de Faria Souto (março a julho de 1884) proclamou a Igualdade de Direitos no Amazonas, que declarava a população negra livre, a 10 de julho de 1884, se antecipando em quatro anos ao restante do país”.

Após essa proclamação, dois dias depois, Theodureto pediu exoneração do cargo, pois sabia que o seria, e seguiu para o Rio de Janeiro. A rua 10 de Julho homenageia essa data, bem como a rua 24 de Maio quando o mesmo Theodureto Souto, com apenas dois meses como presidente, proclamou a liberdade dos escravos que viviam em Manaus.

Três anos antes, em 1881, com inauguração acontecida no dia 5 de setembro de 1886, foi a vez do Liceu, depois Ginásio Amazonense Dom Pedro II, surgir no cenário da praça. Desde então o hoje Colégio Amazonense Dom Pedro II tem formado gerações de estudantes sem nunca ter perdido a qualidade do ensino. Nos seus bancos formaram-se alunos que depois se tornaram figuras ilustres de Manaus e do Amazonas.

Após a proclamação da república, a praça passou a chamar-se praça da Constituição.

Como num filme

Em 1906 era prefeito de Manaus o baiano Adolpho Guilherme de Miranda Lisboa e foi ele quem mandou transformar o terreno da praça da Constituição numa praça realmente, com obras e ajardinamento. A inauguração do espaço aconteceu em 23 de junho de 1907, data de aniversário do então governador Antônio Constantino Nery (1904/1908), que indicara Adolpho Lisboa para o cargo.

Em 1918 a praça recebeu o nome de Heliodoro Balbi em homenagem ao cronista, poeta, jornalista, advogado e professor do Ginásio Amazonense, morto no Acre, em 26 de novembro daquele ano, em decorrência da gripe espanhola.

Inaugurado em 3 de maio de 1951, o Pavilhão São Jorge, ou Café do Pina, depois de mudar de lugar por três vezes, permanece até hoje como uma referência na praça.

Em 1952 a praça recebeu uma grande vigília, à noite, com os alunos do Ginásio portando velas em homenagem a Delmo Campelo Pereira, morto brutalmente por motoristas de táxi em 5 de fevereiro de 1952. Delmo tinha 17 anos e era aluno do Ginásio. Por décadas, o caso nunca foi esquecido pelos manauaras.

“A praça tem dois coretos, um de ferro batido, no estilo art nouveau, e outro no qual foram aproveitadas algumas colunetas retiradas do Teatro Amazonas durante as reformas de 1929”, lembrou o historiador.

Embora as pessoas não percebam, originalmente, de acordo com Loureiro, as bacias com água existentes na praça formavam o corpo de uma gigantesca sucuri.

Outras esculturas antigas, de ferro fundido, importadas da França, são a de Diana, a caçadora; Mercúrio; cão brigando com javali; ninfa; e um busto de D. Pedro I, de 1972, em homenagem ao Sesquicentenário da Independência. O rosto em bronze, homenageando o poeta paraense Bruno de Menezes, morto em Manaus, em 1963, mandado fazer pelo Clube da Madrugada, foi roubado.

Como nos filmes, que por 77 anos foram exibidos nos cines Alcazar, Julieta e Guarany, prédio construído de frente para a praça e inaugurado exatamente em 1907, a praça Heliodoro Balbi/da Polícia apenas olha Manaus passar.  

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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