Entrevista com Sandro Breval
“Recursos aos zilhões já foram recolhidos pelo poder público nestes 56 anos de ZFM. Mas somente a partir de 2017, foram criados – no âmbito da Suframa – 5 novos programas prioritários para desenvolver habilidades de empreendedorismo, qualificação técnica e tecnológica de recursos humanos para a diversificação efetiva da economia gerada pelo polo industrial de Manaus. Resultado de intensas e incisivas pressões dos diversos atores locais, osprogramas ajudam a investir na região os recursos de P&D gerados para a redução das desigualdades regionais. A batalha é antiga, porém incessante. Dois desses programas estão rodando a duras penas e dependem da burocracia para decolar. Já poderiam ter alcançado as estrelas. Um deles é o de Bioeconomia – nossa vocação natural – e o outro, base da indústria 4.0, é Tecnologia da Informação e da Comunicação. Trata-se de uma teimosia fecunda e promissora saída, se nós, os nativos e os chegados, em mutirão, resolvermos fazer mais por nós mesmos. Esta é a conclusão da entrevista com Sandro Breval(*), um talento e uma paixão por inovação e tecnologia disruptiva, criativa e vetor de transformação na direção do patamar civilizatório e plural. Sandro Breval é doutor em engenharia de produção pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e já rodou o mundo para saber das coisas essenciais. Foi ele quem desenvolveu o programa de Maturidade e Prontidão, que atualmente vem sendo aplicado na Zona Franca de Manaus. Trata-se de um modelo de maturidade industrial e seus principais desafios, já identificados na indústria brasileira e local para a efetiva transformação/revolução digital.”
Confira a entrevista por Alfredo Lopes
Coluna follow-up – Em se tratando de requisitos, o que você chama de mezanino industrial para avançar a manufatura 4.0 na ZFM?
SANDRO BREVAL – Uma nova abordagem com o enfoque na cadeia de valor considerando 3 (três) eixos: gestão, processo e tecnologia (G,P,T). O primeiro eixo – Gestão – está relacionado com a necessidade das organizações buscarem mais agilidade em sua tomada de decisão, o eixo Processo ajustando as estruturas para mais responsividade a uma nova demanda muito mais dinâmica e exigente no tempo de entrega, na qualidade e sobretudo nos custos. A tecnologia é dividida em 2 nichos, de um lado tecnologia da informação (TI) que reforça o fluxo informacional, e de outro a tecnologia da automação (OT) liga aos processos como ferramenta de redução de ciclos e ganhos de capacidade produtiva. Identificamos no ambiente fabril que quando atuamos de forma integrada (G,P,T) o grau de efetividade é maior e por conseguinte melhores resultados na cadeia de valor.
FUp – Anúncios e promessas do novo governo federal abrem perspectivas para a qualificação de recursos humanos necessários para avançarmos na quarta revolução industrial. Que sugestões você teria a dar para essa empreitada decisiva na tribo Manaó?
S.B. – Em nossa pesquisa sobre a Maturidade e Prontidão da Indústria 4.0 no Polo Industrial de Manaus identificamos que há uma necessidade de melhoria na prontidão tecnológica das pessoas, ou seja, eliminar algumas barreiras quanto à mudanças organizacionais culturais e, no caso, tecnológicas. E ainda, melhorar o nível de conhecimento relacionado com as TI , análise de dados e gestão de projetos. A questão da análise de dados tem uma evidência de que quando mais dados sejam coletados do processo produtivo maior será a necessidade de análise e portanto precisamos formar pessoas com esse skill. A palavra de ordem é desenvolvimento de habilidades.
FUp – A máquina pública do estado do Amazonas, muito em particular, é pesada e cara aos contribuintes. Você acredita que uma gestão 4.0 seria a solução para o mega-custeio do serviço público?
S.B. – A visão da indústria 4.0 no que se refere a ganhos de capacidade, eficiência e redução de gastos é extremamente bem vinda em qualquer espectro organizacional. Muito importante salientar que nesse novo ecossistema negocial o fluxo de informação tem uma importância maior que o de materiais, isso significa que as decisões devem ser tomadas com base em dados de forma mais rápida possível. A gestão pública, de um modo geral, poderia buscar a maior interoperabilidade entre os seus sistemas, integrando todos os níveis, certamente um dos impactos seria tratativas imediatas para reduzir a evasão escolar, identificação de gargalos na área de saúde e inteligência operacional na segurança. Mais interoperabilidade menor o custeio da máquina pública.
FUp – Tecnologia da informação e Comunicação e programas prioritários de Bioeconomia. Que medidas imediatas seriam possíveis para diversificar nessa direção ao pólo industrial de Manaus?
S. B. – Com a nossa experiência no Polo Industrial de Manaus (PIM) podemos inferir algumas questões sobre o tema. O PIM possui uma enorme “capability” que propicia ganhos de escala, volumes e capacidade, características que viabilizariam a bioeconomia. A capacidade produtiva é importante para viabilizar o custo operacional influenciando a velocidade da cadeia de valor do polo industrial alavancando a bioeconomia, inicialmente com produtos com customizações a partir da floresta (daí a indústria 4.0 ajudaria já que precisaríamos de customização em massa), no segundo momento a industrialização dos biofármacos (fomentaria a pesquisa, patentes). Aqui também a interoperabilidade é determinante. A indústria, a bioindústria e a agroindústria são momentos fabris, interdependentes e absolutamente promissores para irradiar um novo tempo de prosperidade sustentável a partir da Amazônia.
(*) Esta Coluna Follow-up é publicada às quartas, quintas e sextas feiras no jornal do Comércio do Amazonas, sob a responsabilidade do CIEAM, com a coordenação editorial de Alfredo Lopes, consultor da entidade e editor geral do portal BrasilAmazoniaAgora.