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A datilografia em Manaus

A datilografia em Manaus

Apesar da máquina de escrever ter sido inventada no século XVIII e aperfeiçoada no XIX, a datilografia se popularizou apenas no início do século XX. As empresas e repartições públicas daquele período procuravam cada vez mais a rapidez e a eficiência. Gastava-se um tempo precioso no preenchimento de notas e emissão de documentos escritos a mão. A datilografia possibilitou a produção de documentos através da digitação, uma forma bem mais rápida que a tradicional.

As máquinas de escrever começaram a ser comercializadas em Manaus no início do século XX. As máquinas das marcas Royal, Underwood e Remington eram anunciadas, nos periódicos, como as mais elegantes e modernas do gênero.

Percebida a importância dessa técnica, logo ela foi incorporada ao currículo escolar. Em 1914 a Datilografia tornou-se uma disciplina do Instituto Benjamin Constant, na rua Ramos Ferreira (Mensagem, 10/07/1914, p. 32). Em 1918 é criada oficialmente a Cadeira de Datilografia na Escola Normal (Mensagem, 10/07/1918, p. 140). O público-alvo dessa disciplina seria o feminino. Desde o início essa técnica ficou associada às mulheres. Sobre a importância do ensino de datilografia às órfãs do Instituto Benjamin Constant, o Diretor Desembargador Gaspar Vieira Guimarães afirmou que era seu propósito:

“[…] desenvolver efficazmente o ensino da dactylographia ás educandas que terminem o Curso Medio Complementar, habilitando-as a ganhar a vida no commercio, como auxiliares de escripta, emprego bastante remunerado na actualidade, precisando esta Directoria, para o alcance desse objectivo, apenas do credito indispensavel para a aquisição de seis machinas de escrever de typos diversos”. (Mensagem, 14/07/1923, p. 140).

Como escreveu o Diretor do Instituto Benjamin Constant, o curso de datilografia poderia garantir uma vaga no comércio. Ter um certificado nessa área era um requisito para assumir algum cargo nas instituições e repartições que iam sendo criadas na cidade. Em 1916, quando foi aberta uma agência do Banco do Brasil em Manaus, uma de suas exigências era que os candidatos interessados em uma vaga de emprego deveriam

“Sujeitar-se a exame, perante uma commissão nomeada pelo Banco, de portuguez, francez, inglez, geographia commercial, arithmetica, escripturação mercantil e dactylographia” (Jornal do Commercio, 29/07/1916).

A escola de datilografia mais famosa de Manaus no início do século passado foi a Escola Remington, criada em 1916 pelos proprietários da Livraria Palais Royal, localizada na rua Municipal (Avenida Sete de Setembro). Posteriormente foram criadas as escolas Royal e Underwood, ambas na Avenida Sete de Setembro. Não devem ser esquecidos os cursos de Datilografia da Santo Antônio Commercial School, na Avenida Sete de Setembro, e da Escola de Comércio Solón de Lucena. 

Dois interessantes registros fotográficos sobre alunas de datilografia foram publicados no jornal A Capital em 1917. Neles temos as jovens Bartyra Pucú Aguiar e Aracy Ferreira de Souza, alunas da Escola Remington, durante concurso realizado na mesma em 26 de julho daquele ano. O 1° lugar ficou com Amenaid Durand, enquanto Bartyra foi classificada em 2° lugar e Aracy em 3°, ambas recebendo os diplomas de competência profissional.

Como eram realizadas as provas de datilografia? A esse respeito é bastante elucidativo um informe de 1947 do concurso da Caixa Econômica Federal do Amazonas:

DATILOGRAFIA – A prova de datilografia na qual serão exibidas condições de velocidade e correção, constará de cópia, durante 15 minutos, de trecho impresso, contendo mil e duzentos toques, nestas computados – letras, acentos, números e pontuação, e, também, os espaços entre as palavras e os paragrafos.

Sera atribuida a nota CEM, ao candidato que fizer cópia sem erro, dentro dos 15 minutos estabelecidos.

Os candidatos que não puderem executar a cópia dentro desse prazo, poderão prosseguir na prova, durante mais dez minutos, caso em que a graduação da nota de velocidade decrescerá até ZERO, na razão inversa do tempo utilisado.

A nota final sera dada deduzindo-se dos pontos referentes à velocidade, o total dos pontos negativos, correspondentes aos erros cometidos.

Será considerado habilitado nesta prova o candidato que obtiver nota igual ou superior a CINQUENTA pontos (50)”. (Jornal do Commercio, 20/11/1947).

Além dos cursos particulares, geralmente voltados para pessoas com maior poder aquisitivo, podia-se aprender datilografia em escolas públicas (eram poucas), igrejas e centros comunitários. A datilografia atinge o seu auge nos anos 1970. Entre as décadas de 1980 e 1990, com o surgimento e difusão dos computadores, essa técnica foi desaparecendo. Chegou um momento em que os cursos pararam de ser ofertados, restando apenas lembranças impressas em forma de diplomas ou fotografias.

Fábio Augusto Carvalho

é historiador
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