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“Temos que investir muito nos bairros”, afirma deputado federal José Ricardo

“Temos que investir muito nos bairros”, afirma deputado federal José Ricardo

Nos últimos pleitos, o deputado federal José Ricardo, filiado ao PT (Partido dos Trabalhadores) vem colecionando bons resultados eleitorais, o que lhe dá cacife para figurar entre os principais candidatos a prefeito de Manaus, na eleição deste ano. Em 2018 foi o deputado federal mais votado, quando recebeu197,2 mil votos, dos quais, 140 mil em Manaus. Na eleição complementar para governador, em 2017, foi o segundo mais votado em Manaus, superou o senador Eduardo Braga (PMDB), que já foi prefeito da cidade e governador do Estado. Dia 15/06, foi indicado como candidato do PT, para disputar a vaga de prefeito de Manaus na eleição deste ano, depois de vencer o deputado estadual Sinésio Campos, na votação do Diretório Nacional do PT. Nesta entrevista exclusiva ao JCAM, o agora pré-candidato petista, esclarece o imbróglio que foi a disputa interna no partido, que resultou na sua indicação à disputa pela prefeitura de Manaus e também expõem parte de seus planos, caso seja eleito prefeito da capital amazonense.

JCAM: Com relação à disputa pela candidatura a prefeito de Manaus, na qual o diretório municipal decidiu pelo deputado Sinésio e, após recurso ao diretório nacional, aquela instância decidiu pelo seu nome. O quê houve? A democracia interna do PT foi atropelada em prol dos bons resultados eleitorais seus anteriores?

José Ricardo: Reconheço que nos últimos anos, vem faltando ao PT fazer mais debates junto aos seus filiados, principalmente sobre análise de conjuntura, sobre propostas com a sociedade. Mas no caso da disputa pela candidatura à prefeitura de Manaus, antes da pandemia, já havia uma definição de que Manaus, tendo mais do que uma pessoa inscrita, isso vale para todos os municípios, deveria haver prévias para a escolha do candidato. O PT municipal decidiu que nas prévias votariam delegados indicados pelos filiados, cerca de 300 pessoas. No entanto, com a pandemia paralisou tudo. Então a Nacional decidiu que os diretórios municipais poderiam se reunir. No diretório de Manaus são 46 pessoas. Então há muitos questionamentos sobre como se vai exercer a democracia por 46 dirigentes, se a ampla maioria dos filiados, que em Manaus são aproximadamente 18 mil filiados, não participariam diretamente. Mas de qualquer maneira era o processo que foi sugerido.

JCAM: E como foi o recurso ao diretório nacional do PT?

JR: Na primeira votação eu fui o mais votado e o estatuto diz que havendo segundo turno, deve ser em outra data, para haver tempo para discutir, fazer debates, fazer acordos, um processo normal. Só que o coletivo que apoiava o deputado Sinésio queria fazer o segundo turno na sequência. Então os grupos que me apoiavam não aceitaram e se retiram do processo. Não votaram. Eles concluíram o processo e lógico, deu a vitória para o Sinésio. Então as lideranças que estavam me apoiando fizeram um recurso para a Nacional, por duas razões: pelo processo que não estava correto e também porque o diretório nacional já havia decidido que nas capitais e em cidades com mais de 100 mil habitantes, a direção nacional ia definir o nome para as candidaturas. Seja qual fosse a decisão, a Nacional iria avaliar se era o melhor para o momento político e o melhor para a questão eleitoral. A Nacional avaliou em um debate muito amplo e por ampla maioria decidiu pelo meu nome. Então o processo democrático aconteceu, continua valendo.

JCAM: Como o senhor agiria no caso da pandemia Covid-19, caso fosse o prefeito?

JR  – Todo mundo vai se defender dizendo que não estava preparado. Eu concordo parcialmente. Mas vamos analisar as medidas de proteção, por exemplo, que envolvem as pessoas lavarem as mãos, ter água. As pessoas permanecerem em casa, tem que ter casa adequada, para ficar isolada, inclusive, se caso uma pessoa ficar doente, poder ficar isolado do resto de seus familiares. Então a realidade em Manaus, onde a questão da água ainda é um problema enorme para muitas família, assim como a falta habitações adequadas é um outro desafio na cidade. Dessa forma, é papel municipal, papel do estado tratar dessas questões básicas, de saneamento e habitação. Com relação ao transporte coletivo, cabe ao poder público ser mais rigoroso para evitar superlotação, distanciamento, limpeza dos coletivos para evitar contaminação. Tem muitas ações municipais que deixaram de ser feitas na medida adequada.

JCAM: Como o senhor analisa o atual momento político nacional, com relação aos embates político entre os poderes.

JR: O Bolsonaro foi eleito com apoio de boa parte dos que estão no Congresso Nacional. Também foi eleito, de alguma forma, com apoio do Supremo, que inviabilizou a candidatura do Lula, que iria ganhar a eleição tranquilamente, com apoio do setor empresarial, boa parte também ajudou a eleger o Bolsonaro, bem como boa parte da grande mídia, ajudou a eleger o Bolsonaro. Agora o filho que eles criaram, estão fazendo de conta que não conheciam o Bolsonaro. Bolsonaro é o que sempre foi nesses 30 anos, inclusive como político: irresponsável, sem competência, uma pessoa totalmente fora do espírito democrático, que se espera de um presidente. Então está agindo assim defendendo o fechamento de instituições. Ele, que deveria ser o primeiro a defender o funcionamento regular das instituições.

JCAM: Também essa movimentação entre os poderes, transparece que há forças contrária para que se faça as reforma que o governo federal deseja fazer, as quais acredita serem necessárias ao desenvolvimento do país?

JR: Temos que ver quais são as reformas necessárias e para beneficiar quem? Exemplo: a reforma da previdência beneficiou o setor financeiro do país. Porque o objetivo da reforma era garantir mais recursos para pagamento do serviço da dívida e tinha que tirar do valor da aposentadoria, no caso R$ 900 bilhões que serão retirados de quem ganha pouco. 87% dos aposentados ganham de dois salários mínimos para baixo. Dessas pessoas serão retirados nos próximos 10 anos. A reforma tributária será apenas para unificar impostos de consumo, para poder facilitar a arrecadação pública. Não mexe na tributação das grandes fortunas, dos grandes ganhos do setor financeiro. Não mexe no essencial. Continua tendo a base de cobrança que penaliza os mais pobres, porque quem tem um salário mínimo e gasta tudo no consumo, na compra de alimentação está pagando proporcionalmente mais imposto do que um banco, por exemplo, que ganha lucros enormes. Então a reforma tributária além de não resolver, porque continua mantendo um sistema injusto no país, ainda prejudica a Zona Franca de Manaus.

JCAM: Quais seus planos para minimizar a poluição ou despoluir os igarapés que cortam Manaus?

JR: Eu retomaria o projeto que o deputado Serafim estava desenvolvendo,  quando prefeito de Manaus,  que era revitalizar o igarapé do Mindu todo, desde a reserva Duck até o rio Negro. Cuidar da reserva Duck. Porque lá estão as nascente de vários igarapés e claro, tem que ter uma política de saneamento, que envolve  água, esgoto, coleta de lixo, destinação de resíduos sólidos. Na verdade não temos hoje um plano dessa natureza, organizado. A prova é que o resíduo sólido continua sendo recolhida e jogada no aterro sanitário, que virou uma montanha, porque não tem o reaproveitamento de reciclagem. Não tem nenhum tipo de campanha junto à população para evitar a poluição, para evitar jogar resíduos sólidos em qualquer lugar. Não há ações preventivas ou ações para de alguma forma coibir. Então hoje não tem nada. Isso precisa ser retomado. Manaus pode ser uma grande referência turística. Mas as pessoas querem chegar a Manaus, mas querem ver os igarapés, querem ver árvores, querem ver vida, querem ver água, como o encontro das águas, querem ver indígenas Temos mais de 30 mil indígenas na cidade, mas se você procurar saber onde conhecer a cultura, a música, a culinária indígena, você não tem. Essa questão ambiental precisa ser tratada para o bem da cidade, para o bem econômico, para a saúde, para a vida, para satisfação das pessoas. Um igarapé voltar ter vida é um desafio, mais projetos tem e estou discutindo com especialistas na área ambiental, para discutir sobre isso.

JCAM: Qual será o grande diferencial em uma eventual gestão sua, em relação à gestões dos prefeitos anteriores?

JR : O diferencial que pretendemos em relação às gestões anteriores é ter uma gestão transparente. Prestando contas. Uma gestão participativa. Queremos ouvir a população, porque o povo tem direito de saber o que está sendo feito com os recursos e também o direito de opinar, dar ideia e sugestões, vamos criar canais de participação da população.

JCAM: Quais seus projetos para mobilidade urbana?

JR : A mobilidade urbana é um dos grandes problemas da cidade e não há dúvidas. Estou na comissão de desenvolvimento urbano na Câmara. Eu estou conversando com especialistas de várias cidades, com experiência, inclusive ex-gestores e também com especialistas de Manaus. Tem que haver uma grande intervenção no sistema de transporte, fazer um planejamento de mobilidade urbana, fazer um plano e implantar modalidade, do tipo BRT, os corredores exclusivos, de imediato e depois fazer grandes intervenções no sistema viário.

JCAM: Quais interferências se podem fazer no trânsito de Manaus com objetivo de diminuir os congestionamentos?

JR : Nós temos um problema grande em Manaus, porque nos últimos anos os prefeitos não investiram na questão das vias, expansão das vias, alargamentos e planejamento urbano, temos muitos congestionamentos. O número de veículos continua crescendo. Com isso, o sistema viário cada vez mais ‘estreito’ e mais reduzido. Então temos que fazer uma série de intervenções, com passagens de níveis, novas vias, alargamentos em outras áreas, verificar a expansão da cidade, principalmente nas zonas Norte e Oeste, que é onde mais está crescendo e portanto, com fluxo muito intenso. Ver esse fluxo em direção ao Centro. Na verdade temos também que pensar em redirecionar, na medida em temos atividades econômicas se instalando em outras regiões da cidade.

JCAM: Quais seus projetos para a assistência à saúde no município? O que é possível melhorar?

JR : A saúde básica, o prefeito Arthur, que está oito anos, não aumentou nada. Temos só próximo a 40% da cobertura da atenção básica da cidade de Manaus, por parte da prefeitura. Tem falta de UBS em muitos bairros. Esse vai ser, com certeza um planejamento que vamos fazer de expansão ano a ano de UBSs , com profissionais, com equipes multidisciplinares para atender a população, seja de pediatras, de ginecologistas, todos profissionais de atenção básica. Porque temos que ter muitas ações de prevenção de atendimentos nas periferias, nos bairros novos, portanto tem que ser dado um olhar que não foi dado à saúde básica.

JCAM: Quais seus projetos para educação municipal?

JR : No município de Manaus tem uma situação muito grave em relação às escolas. Um terço das escolas são estruturas alugadas. Algumas precárias, inadequadas, invés de ter uma política de construção de escolas. Acho que o último prefeito que teve uma política bem intensa de construção de novas escolas, foi o Serafim (deputado estadual) , portanto há uns 15 anos. Portanto, precisamos construir escolas decentes, escolas com quadra, escola com bibliotecas, espaço de convivência, auditório, escolas boas, para que as crianças não desistam da escola, gostem de ir para a escola e escolas com equipes completas, uma equipe de psicólogo, assistente social, pedagogos, professores, merendeiras, auxiliares, em número suficiente para atender a demanda, porque temos hoje merendeiros para atender milhares de crianças, em um sufoco enorme, em uma situação até injusta de relação de trabalho.

JCAM: Quais seus projetos de urbanismo e paisagismo para Manaus?

JR : A cidade não tem um planejamento urbano, então se vê em muitos bairros, que quando tem uma praça, a praça é abandonada, porque ela não tem segurança, não tem iluminação, não tem cuidados, ela não tem vida. Muitas pessoas saem de bairros distantes, pegam ônibus com as famílias, para passear nas praças do Centro da cidade, a exemplo da praça de São Sebastião. Então a prefeitura tem um papel de fazer com que, nos bairros, você tenha esses espaços de lazer, de praças de arborização, mas com segurança, com condições, com instrumentos, seja para atividade física, como as academias, mas também para outras atividades como, por exemplo, com os idosos, de passeios, espaços para momentos de convivência saudáveis. Então tem que investir muito nos bairros. Esse é um dos papeis da prefeitura. Fazer um trabalho com a população, para você cuidar da questão ambiental que envolve não jogar resíduos sólidos, cuidar dos igarapés. Uma política ambiental envolve o cuidado nos bairros. Envolve uma boa limpeza pública, mas com a participação das pessoas.

JCAM: Muitos especialistas afirmam que a pandemia Covid-19 só será realmente debelada quando uma vacina for criada. Se eleito, caso os riscos da pandemia continuem até o senhor assumir, qual são seus planos para a pandemia não invadir novamente Manaus?

JR : A pandemia pegou todo mundo de surpresa e mostrou a deficiência do sistema de saúde público. Mas ao mesmo tempo mostrou que a saúde pública é que atendeu a população e não a saúde privada. Então significa que temos que apostar mais e investir mais na saúde pública. Saúde básica que o papel das prefeituras e saúde especializadas que é o papel do Estado e da própria União. Então acredito que a partir do ano que vem, com a nova gestão, nós temos que ter medidas de prevenção, inclusive para não ter uma nova onda de contaminação. Para isso, temos que cuidar de garantir água, começar logo um projeto habitacional, para aumentar o número de famílias com casa própria, e não morar de qualquer jeito, podendo também ser um fator de contaminação. Tem uma série de ações que podem ser implementadas, inclusive o sistema de transporte, de orientações de distanciamento, de proteção individual. Toda essa experiência pode ser utilizada, para que na gestão possamos alertar a população, orientá-la e com isso evitar contaminações e claro, mortes.

Severo Neto

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