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Rocha dos Santos e as fotos do JC

Com certeza quando o português Joaquim Rocha dos Santos fundou o Jornal do Commercio, em 02 de janeiro de 1904, não deve ter pensado que 119 anos depois o jornal continuaria circulando da mesma forma como naquela Manaus do início do século 20. Só mudaram ‘um pouquinho’ as formas de produzir as edições. A composição dos textos não surge mais a partir de pequenas chapas de chumbo (linotipos), mas do teclado e tela de um computador. Você sabia que antes da máquina de linotipo os textos dos jornais eram montados letra por letra, ou tipo por tipo, substituídos, depois pelos linotipos, e desde a segunda metade do século 20 estes deram vez a impressão em offset, uma chapa de alumínio contendo a página inteira do jornal. E é assim até hoje?

Quando Rocha dos Santos montou o Jornal do Commercio adquiriu uma linotipo, então o mais moderno equipamento para imprimir jornais. A Manaus de 1904 era uma cidade rica. O comércio da borracha tornara isso possível. Rocha dos Santos viveu aquele momento. Nascido em 6 de dezembro de 1851, em Lisboa, com onze anos, chegou ao Brasil morando em Fortaleza, Caxias/MA e Belém antes de vir para Manaus onde, como era comum naquele tempo, atuou em diversas atividades. Foi delegado de polícia, juiz de paz, deputado, administrador do Trapiche da Recebedoria, provedor da Santa Casa de Misericórdia, membro da Irmandade do Santíssimo Sacramento (grupo de religiosos bastante respeitados e que deixou de existir há alguns anos) e cônsul da Argentina. Também foi comerciante (mas não se sabe de que) e veio daí o nome de Jornal do Commercio. Como o atual, o JC de 1904 tinha 16 páginas, só com textos e algumas pequenas litogravuras. Fotos, nem pensar.

Primeiras fotos

Curiosamente, no ano em que o JC começou a circular, foi quando a fotografia surgiu nos jornais, no caso, o Daily Mirror, da Inglaterra, fundado um ano antes, em 1903, e também circulando até hoje. Rocha dos Santos morreu em 9 de dezembro de 1905, menos de dois anos após a fundação do JC, portanto é provável que não tenha tomado conhecimento dessa novidade. Somente em 1912 as fotografias surgem no Jornal do Commercio, ainda chamadas de fotogravuras. Desde 2007 o proprietário do JC era o carioca Vicente Torres da Silva Reis. Naquele ano de 2012 ele investiu pesado na modernidade do jornal adquirindo três máquinas de linotipo fabricadas pela Mergenthaler Linotype Company, de Nova York, e na impressão fotográfica.

No dia 23 de novembro de 1912 o jornal circulou pela primeira vez com fotografias e publicou um texto exaltando o fato. A grafia é a da época e o texto histórico está completo.

‘Iniciamos hoje o nosso serviço de illustrações por meio de photogravuras, que devemos á competência artística do sr. Tercio de Miranda, hábil profissional que se acha a testa de nosso atelier.

Inserimos, como se vê, oito clichês, confeccionados de photographias apanhadas com a maior nitidez possível, umas pelo sr. Miranda, outras pelo reputado sr. Huebner da acreditada Photographia Allemã cujos proprietários são credores do nosso agradecimento pelo auxílio que nos tem prestado, fornecendo-nos chapas do seu afamado atelier. Dentre estas estão as dos novos bacharéis que a Photographia Allemã confeccionou em vistoso quadro ora em exposição do certamen pedagogico.

Registrando mais este melhoramento que introduzimos em nossa folha, com o intuito de corresponder á confiança que o publico nos vae dispensando, affirmamos que haveremos de cumprir a nossa promessa de aperfeiçoar cada vez mais as edições do JORNAL DO COMMERCIO, para assim tornar um diário elegante e sempre de accordo com os progressos da imprensa moderna’.

Foto inédita

Em 1897 o fotógrafo alemão George Huebner inaugurou o ateliê fotográfico Photographia Allemã, no Hotel Cassina, em Manaus, e se tornou o pioneiro nesse segmento, no Amazonas, por isso é quase certo ter sido ele a ‘tirar’ as únicas fotos conhecidas de Rocha dos Santos. Uma delas, na qual aparece como major, é bastante circulada e sempre que se fala do português, ela é publicada, mas recentemente surgiu uma nova imagem do fundador do JC descoberta em arquivos perdidos na Itália. Trata-se de uma foto postal com um Rocha dos Santos ainda bastante jovem. Está datada de 8 de fevereiro de 1900 e ele escreve, em italiano, a Eduardo Ribeiro, que havia deixado o governo do estado quatro anos antes e estava em tratamento médico na Itália. Oito meses depois, já em Manaus, o ex-governador, segundo versões da época, se suicidou.

Rocha dos Santos morreu de infarto, com apenas 54 anos, depois de agonizar por alguns dias, sem conhecer as fotos publicadas de forma pioneira pelo seu jornal, além da impressão em offset, as fotos coloridas em junho de 1990, os computadores na redação e a chegada da internet no final da década de 1990, mas deixou para os manauaras, o Amazonas e a Amazônia o legado de um jornal tradicional e respeitado pela credibilidade mantida pelos demais proprietários que se seguiram: Vicente Reis, Assis Chateaubriand, Guilherme Aluízio e agora Sócrates Bomfim.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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