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As grandes reportagens do Jornal do Commercio ao longo de 119 anos

Primeira edição do Jornal do Commercio. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Não tem como falar de um jornal sem fazer menção às suas grandes reportagens. Por mais de um século o Jornal do Commercio foi testemunha dos principais acontecimentos no Brasil e no mundo, os veiculando através de matérias altamente elaboradas. São momentos que, assim como o jornal, entraram para a História.

A primeira grande reportagem, considerando o peso que o Jornal do Commecio tem na História do Amazonas e do Brasil, foi a produzida sobre sua primeira edição, em 02 de janeiro de 1904. O pesquisador a deve ter como uma relíquia, certidão de nascimento de um moderno jornal empresa na Amazônia. Nela encontramos um rico arcabouço de informações sobre o cotidiano da população manauara e as mudanças no espaço urbano e na economia.

Cada página contou com seis colunas. Vejamos os conteúdos das da primeira página: Na primeira coluna foram apresentadas indicações de serviços de profissionais liberais como advogados, engenheiros, médicos e tabeliães. Abaixo dela começavam as notas estatísticas dos correios, que tomavam por completo a segunda coluna. Parte da terceira foi utilizada para a publicação do texto de apresentação do jornal. A outra parte até a quarta era a seção dos Telegramas nacionais e internacionais, com notícias do Rio de Janeiro e de Roma. Da quarta em diante foram publicados diferentes tipos de notícias, poemas e gravuras de personalidades nacionais e estrangeiras. Nas demais páginas foram publicadas estatísticas do Tribunal de Justiça, informações teatrais, artigos de ciências e artes, as rendas do mercado público, poemas, estatísticas eleitorais, relatórios do Município, da Associação Comercial do Amazonas, folhetins traduzidos e inúmeros anúncios de estabelecimentos comerciais. Essa edição contou com 12 páginas.

Afirmando deixar a velha política partidária de lado e ser um órgão dedicado ao comércio e à população, se descrevia “Como atalaia vigilante dos interesses comerciaes do Amazonas”. Seus votos eram de esperança, desejo de servir à população e frutificar na arena jornalística amazonense, bastante competitiva: “O Jornal do Commercio, surgindo na liça da imprensa amazonense, envia tão alacre e de bom augurio, curva-se diante da população deste grande e hospitaleiro Estado e apresentado-lhe os seus mais sinceros cumprimentos, pela entrada do anno novo, faz votos ardentemente, que elle o seja mais propicio e feliz para todos que convivem nesta abençoada terra”.

Homenagem do Jornal do Commercio à Rocha dos Santos. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

O aparecimento do Jornal do Commercio em 1904 foi um sucesso, como vimos, comentado no Amazonas e em outros Estados. Joaquim Rocha dos Santos estava na melhor fase de sua vida. Tudo corria tranquilamente até o dia 09 de dezembro de 1905, quando um infarto fulminante causou sua morte. Seu desaparecimento pegou de surpresa a sociedade amazonense, afeita com seu espírito batalhador e criativo. Em 10 de dezembro o jornal publicou uma edição especial dedicada ao pranteado major, contando com uma fotogravura sua, textos, poemas e depoimentos de redatores e colaboradores. No primeiro desses textos, lemos o seguinte:

Quando menos se esperava, um collapso cardiaco victimou em poucas horas aquelle organismo de luctador, affeito à adversidade, batalhador vigoroso que, sahindo do nada, vindo do povo, conquistou á golpes de intelligencia, de tenacidade e esforço na senda do bem, posição elevadissima na sociedade, aliás exigente na bemquerença dos seus membros. O que foi a vida de Rocha dos Santos, é um exemplo vivo de quanto podem o esforço e o trabalho humano. Para elle nada era difficil, nada era insuperavel. Dotado de uma intelligencia lucida, affeita ás sutilezas com que a politica nos surprehende, tinha o condão de prever as cousas, e de vêr claro n’um horizonte longinquo.

A morte de Rocha dos Santos gerou incertezas sobre o futuro do jornal, que ficou sem circular por alguns meses. A folha foi herdada por seu filho, Raymundo Rocha dos Santos, que o vendeu para o Superintendente Municipal Adolpho Guilherme de Miranda Lisboa. A cada ano o fundador era lembrado nas edições de aniversário. Para ele foi erguido um belo túmulo no Cemitério de São João Batista, encimado pelo seu busto artisticamente trabalhado em mármore. Essa obra, aliás, está merecendo limpeza e restauro, ações louváveis que demonstrarão que Rocha dos Santos permanece vivo na memória da empresa e da sociedade.

Reportagem do Jornal do Commercio sobre o início da Primeira Guerra Mundial. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Contando com correspondentes em Portugal e no Rio de Janeiro, o Jornal do Commercio foi um dos primeiros periódicos a noticiar o início do conflito mais violento do início do século XX, a Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Após o assassinato do Arquiduque da Áustria Francisco Ferdinando, herdeiro do trono do Império Austro-Húngaro, a Áustria-Hungria declarou guerra à Sérvia em 28 de julho de 1914. No dia seguinte, o jornal noticiava: “Está declarada a guerra entre a Áustria e a Sérvia. Parece inevitavel uma conflagração geral na Europa”. O jornal destacou, ao lado da notícia, as reações dos líderes mundiais diante da declaração. Na Áustria-Hungria o Arquiduque Carlos Francisco José, herdeiro do trono, submeteu a assinatura do Imperador Francisco José a declaração de guerra à Sérvia. Neste último país a população dinamitou a ponte sobre o Rio Danúbio. Na Itália, o Rei Vittorio Emannuele III se reuniu com o ministério, presidido por Antonio Salandra, para que encontrassem alguma forma de evitar o conflito. Na Inglaterra, Lord Asquith, Primeiro Ministro, após uma conferência com o Rei Jorge V, convocou o ministério, ordenando que o exército fosse mobilizado.

O Jornal do Commercio noticiou todo o desenrolar da guerra, pois a beligerância rapidamente deixou reflexos na economia. Ela era acompanhada ao lado das estatísticas comerciais. O Amazonas, combalido desde 1912 pela queda na exportação da borracha amazônica, superada pela asiática, viu a situação piorar quando, por conta dos ataques, as rotas de comércio e navegação foram bloqueadas e, em momentos mais graves, navios com mercadorias foram afundados em combates, como foi o caso do Paquete Antony, propriedade da empresa Booth e Company, torpedeado na costa da Grã-Bretanha em 1917. Nesse ataque foram perdidas 386 toneladas de borracha e 366 de farinha de mandioca.

A Gripe Espanhola chegou a Manaus através do vapor Valparaíso. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

No início de 1918, em plena Primeira Guerra Mundial, surge um inimigo invisível que, em dois anos, seria responsável pela morte de 50 milhões de pessoas ao redor do mundo: a Gripe Espanhola. A doença se disseminou rapidamente pelos campos de batalha, atingindo em seguida povoados, vilas e cidades ao redor do mundo, tornando-se uma pandemia. Ela chegou ao Brasil em 09 de setembro de 1918 através do navio inglês ‘Demerara’, que partiu de Lisboa em direção às cidades de Recife, Salvador, Rio de Janeiro e Santos, grandes polos comerciais. Nesse mesmo mês, militares brasileiros que estavam em Dakar, no Senegal, para patrulhar a costa africana, desembarcaram em Recife. Estavam infectados. A gripe se alastrou pelo Nordeste, atingindo em seguida as demais regiões.

O Governo do Estado do Amazonas e os médicos sanitaristas acompanhavam o desenvolvimento da gripe em outras regiões através da imprensa. Em 20 de outubro de 1918 o Jornal do Commercio publicou um telegrama do Diretor Geral de Saúde Pública endereçado ao Inspetor de Saúde do Porto no Amazonas com alguns esclarecimentos sobre a doença, suas causas, formas de transmissão, formas de profilaxia e recomendações médicas. Uma parte desse telegrama que sem dúvida assustou as autoridades locais foi a que o Diretor Geral afirma ser impossível impedir a chegada da Gripe Espanhola: “[…] tentar impedir a invasão pela grippe ou influenza de uma região ou de uma cidade é procurar resolver problema actualmente insoluvel. E’ um sonho, uma utopia scientifica em sua marcha caprichosa e vagabunda; a influenza ou grippe tem agora, em todos os paizes menospresado todos os regulamentos e todas as medidas administrativas e todas as quarentenas”.

Apesar de terem sido tomadas todas as medidas para evitar a chegada da gripe no Amazonas, em 24 de outubro de 1918 aportou no porto de Manaus o vapor Valparaíso, com tripulantes e passageiros infectados. O Jornal do Commercio noticiou a chegada dos doentes e as primeiras ações do poder público, como o fechamento das escolas: “Em virtude da terrivel epidemia o Gymnasio Amazonense fechou hontem as suas portas, devendo tal providencia ser seguida pelas demais escolas e colégios públicos existentes nesta capital, após os exames que estão sendo realisados, com presteza, por ordem do director geral da Instrucção Pública”. Em poucos dias começaram a surgir casos pela cidade, com grande mortandade no mês seguinte. O jornal acompanhou de perto o desenrolar da pandemia, denunciando o abandono de cadáveres nas ruas, o aumento do preço dos alimentos e, para o alívio da população, o recrudescimento e desaparecimento do mal em 1919.

O Jornal do Commercio foi empastelado durante a revolta tenentista, reaparecendo em 05 de agosto de 1924. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

A década de 1920 foi bastante agitada no Brasil. O sistema político da República oligárquica, praticamente imóvel, com o Presidente da República ora paulista, ora mineiro, estava começando a se desgastar. Oligarquias de outros Estados e novos grupos sociais de origem urbana passaram a reivindicar maior participação na política. Os militares, que haviam dado o golpe em 15 de novembro de 1889, pediam melhorias nas Forças Armadas e no país como um todo. Em 1922 São Paulo e Minas Gerais lançaram como candidato a presidência Artur Bernardes. Rio Grande do Sul, Bahia, Pernambuco e Rio de Janeiro, lançaram Nilo Peçanha. Bernardes foi eleito. Contra ele foram forjadas cartas falsas, publicadas no jornal carioca Correio da Manhã, nas quais atacava o Exército e o candidato Nilo Peçanha. Mesmo após a comprovação de que as cartas foram forjadas, elas foram o bastante para que um grupo de oficiais do Exército no Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, se rebelasse em 05 de julho de 1922, no evento que ficou conhecido como Revolta dos 18 do Forte de Copacabana.

Em 05 de julho de 1924 ocorre a Revolta Paulista, a segunda revolta tenentista ocorrida no país. Os militares tinham como objetivo derrubar o Governo de Artur Bernardes, representante do sistema oligárquico, instalar o ensino obrigatório, o voto secreto e a justiça gratuita. Após intenso combate, conseguiram instalar um governo provisório. O movimento se espalhou para outros Estados, como Amazonas, Pará, Rio Grande do Sul, Sergipe e Mato Grosso. Os contextos políticos e econômicos locais influenciariam a ação dos tenentes.

Desde 1921 o Amazonas era governado por César Resende do Rego Monteiro. Sua administração foi marcada por perseguições a opositores, nepotismo, corrupção, fraudes e apropriação indébita das rendas públicas. O Estado estava passando por uma de suas piores crises. A carestia e o desemprego fazia parte do cotidiano de boa parte da população. Os militares amazonenses, atentos ao desenrolar dos movimentos no Rio de Janeiro e em São Paulo, passaram a planejar a deposição de Rego Monteiro. O estopim do movimento tenentista em Manaus foi a tentativa do grupo de Rego Monteiro em se perpetuar no poder através da indicação de Aristides Rocha para o Governo do Estado. Rego Monteiro viajou para a Europa, deixando como substituto Turiano Meira. Os tenentes derrubaram o governo em 23 de julho de 1924, com o Tenente Alfredo Augusto Ribeiro Júnior assumindo o poder. O combate com as forças legalistas foi intenso. O Jornal do Commercio, um dos maiores críticos do movimento tenentista, foi empastelado, voltando a funcionar no dia 05 de agosto de 1924:

Mais ou menos às dezenove horas do dia vinte tres de julho ultimo, as forças de terra e mar conjugadas, após uma ligeira lucta, sem consequencias de vulto, com a policia estadoal, investiram nas funcções de governador militar o sr. primeiro tenente do exército Alfredo Augusto Ribeiro Junior. A ordem foi conservada inalterada, continuando a população na sua actividade costumeira. As rendas entradas no thesouro do estado têm sido distribuidas regularmente, entre os funccionarios publicos, sem distincção de pessoas, reinando entre elles grande regosijo. A nossa folha, precisando reparar alguns apparelhos de suas officinas, tendo tido necessidade de interromper a sua publicação por alguns dias, reapparece hoje para continuar a cumprir o seu programa traçado, ha vinte annos, de orgam, como toda a gente sabe, simplesmente informador de factos, allicio por completo ás injucções da politica, sem comtudo eximir-se ao applauso a actos bons e, consequentemente, á censura em termos, é claro, á aquillo que se não enquadrar nas normas da justiça (Jornal do Commercio, 05/08/1924, p. 01).

Os tenentes amazonenses ficaram no poder de 23 de julho a 28 de agosto de 1924. Para esmagar o movimento, o Governo Federal enviou para Manaus um destacamento militar, o Destacamento do Norte, comandado pelo General João de Deus Mena Barreto. Em 28 de agosto de 1924 as forças legalistas desembarcaram em Manaus, depondo e prendendo Ribeiro Júnior e seus aliados. Ribeiro Júnior foi condenado a três anos de prisão. Foi solto em 1927 e reincorporado ao 27° Batalhão de Caçadores, em Manaus. Após a derrota dos tenentes, o Jornal do Commercio voltou a se manifestar sem maiores problemas.

O Jornal do Commercio saudou os líderes do movimento revolucionário. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Entre 1926 e 1929 o Amazonas foi governado pelo político mineiro Ephigênio Ferreira Salles, apoiado pelas oligarquias locais. O Presidente da República era o paulista Washington Luís. Para a sua sucessão, indicou o paulista Júlio Prestes, indo contra os mineiros, que tinham como candidato Antônio Carlos e estavam na vez de assumir a presidência, conforme a Política do Café com Leite. Em resposta à indicação de Washington Luís, foi criada em agosto de 1929 a Aliança Liberal, formada por Minas Gerais e Rio Grande do Sul. O candidato da Aliança era Getúlio Dornelles Vargas, Governador do Rio Grande do Sul, com o paraibano João Pessoa, Governador da Paraíba, como vice.

Com a máquina pública na mão e a utilização de meios fraudulentos e coercitivos, não foi difícil para que Washington Luís conseguisse eleger Júlio Prestes. A Aliança Liberal ficou insatisfeita com o resultado. Passou-se a buscar uma alternativa para romper os grilhões do poder oligárquico. A revolução foi a solução encontrada. Onde encontrar apoio? Nos militares do movimento tenentista da década de 1920. O estopim do movimento se deu com o assassinato de João Pessoa em 26 de julho de 1930, no Recife. Em 24 de outubro, as Forças Armadas depuseram Washington Luís e impediram a posse de Júlio Prestes. Getúlio Vargas, articulador do movimento, assumiu a presidência.

Às 16:00 horas do dia 24 de outubro, Manaus é sacudida pela notícia do sucesso do movimento revolucionário. Governava o Amazonas naquele momento Dorval Pires Porto, eleito para o quadriênio de 1930 a 1934. Dorval Porto ficou no poder por 9 meses, de 01 de janeiro a 24 de outubro de 1930. Os integrantes da Aliança Liberal, liderados por José Alves de Souza Brasil, professor da Faculdade de Direito, juntamente ao Coronel Pedro Henrique Cordeiro Júnior e o jornalista Francisco Pereira da Silva, acompanhados pela população, se dirigiram em caminhada ao Palácio Rio Negro para exigir a renúncia de Dorval Porto, ocorrida naquele mesmo dia. No dia 25 o Jornal do Commercio estampava na primeira página: “O POVO SOBERANO, usando do direito da revolução, confraternisa com as forças armadas e faz victoriosa a causa nacional. A ira popular manifestou-se contra os remanescentes do ephigenismo que formava a “entourage” do governo decahido”. O jornal considerava a revolução uma vitória sobre o antigo regime político, há muito com seus valores deturpados: 

A data de hontem vae figurar em alto-relevo d’ouro na história do nosso paiz: 7 de setembro foi a independência; 15 de novembro, a república; 24 de outubro, a reconquista das liberdades públicas, conspurcadas, nestes ultimos annos, pelos mandarins, que transformaram as areas sagradas da nação em salas de lupanares, fazendo a ascensão dos valores negativos.

O Estado passou a ser governado por uma junta governativa. O Jornal do Commercio escreveu que ela era formada por homens serenos e sensatos, que saberiam honrar seus deveres e dar novos rumos para o Amazonas. O periódico esperava dias melhores: “Acatemos as suas deliberações [junta], certos de que, respeitando os demais, teremos cumpridos os ideaes da revolução, os dictames da consciência e as responsabilidades para com o Brasil”. Em 20 de Novembro, Álvaro Botelho Maia é indicado por Juarez Távora para a Interventoria do Estado, que ficou nesta até agosto de 1931 após desentendimentos por sua medida de reforma do Tribunal de Justiça do Amazonas. Até 1935, ano da nova constituição estadual, estiveram a frente do governo 6 interventores federais.

No dia 02 de setembro de 1939 o Jornal do Commercio anunciava o início da Segunda Guerra Mundial. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

A década de 1930 foi marcada pela ascensão do autoritarismo. Na Europa, o fascismo e o nazismo, aos poucos, iam se espraiando pela população e pelas instituições. Foi essa a solução encontrada por líderes como Benito Mussolini e Adolf Hitler para superar o desgaste da democracia liberal, abalada desde o final da década de 1920 com a quebra da Bolsa de Nova York e os efeitos da Primeira Guerra Mundial. Itália e Alemanha tinham pretensões expansionistas, oriundas do século XIX, e revanchistas, por conta das sanções sofridas ao fim da Primeira Guerra. Os Estados Unidos, desde sua participação na Primeira Guerra, estava consolidando sua posição como grande potência mundial. A União Soviética era governada com mãos de ferro por Josef Stálin. Na Ásia, o Japão, em ascensão desde a Revolução Meiji (1868), procurava estabelecer o controle sobre o continente, invadindo a China e a Coreia.

Em 1938, Hitler anexa a Áustria à Alemanha. No ano seguinte, através de um acordo com a Itália e a Inglaterra (Pacto de Munique), anexou a Checoslováquia. O alvo principal das anexações era a Polônia, formada por territórios que no passado pertenceram à Alemanha. Forjando um falso ataque polonês, Hitler autorizou a invasão da Polônia em 01 de setembro de 1939. Inglaterra e França declararam guerra à Alemanha. Tinha início o conflito que ficou conhecido como Segunda Guerra Mundial, a mais mortífera da História.

No dia 02 de setembro o Jornal do Commercio anunciava: “A Allemanha e a Polonia em fogo”. Nessa edição foram publicados telegramas nacionais e estrangeiros. Os nacionais traziam as reações das autoridades brasileiras diante da declaração de guerra. O Ministro Oswaldo Aranha lamentava os fracassos das tentativas de negociação da paz. O Itamaraty determinou que os cônsules na Polônia abandonassem as cidades de Danzig e Gdynia. O Estados Unidos apenas observavam atentos o desenrolar dos fatos. A França lamentava ter feito de tudo para evitar a guerra, já mobilizando suas tropas. A Inglaterra também estava mobilizando suas tropas, em aliança com a França. As notícias vindas da Alemanha, obviamente, não era das melhores. Hitler avançava de forma esmagadora sobre a Polônia. Da Polônia vinham as notícias do bombardeamento das cidades de Varsóvia, Cracóvia, Putsk, Zukw, Gdynia e Vilna. A Itália preferiu se abster de tomar partido nesse primeiro momento.

Em 22 de agosto 1942, o Brasil, agora parceiro dos países Aliados, após ter inúmeros navios mercantes torpedeados por submarinos alemães e italianos, causando a morte de milhares de brasileiros, declarou guerra ao Eixo. O governo se mobilizou para enviar combatentes para as frentes de batalha, criando em 1943 a Força Expedicionária Brasileira (FEB). Mais de 25 mil soldados foram enviados para a Itália, desempenhando com heroísmo suas funções, como foi o caso do soldado amazonense Manoel Freitas Chagas (1920-1945), que abateu soldados nazistas em 1945, tombando em combate. Nos seringais, os ‘Soldados da Borracha’, por conta dos Acordos de Washington firmados entre Brasil e Estados e Unidos, se empenhavam na produção de borracha para a indústria bélica. No início da Guerra, o Eixo avançou com bastante força, conquistando territórios na Europa e na Ásia. A situação virou a partir de 1944, com pesadas derrotas para os alemães e a retomada de territórios. Em 1945 a União Soviética invadiu Berlim com seu poderoso Exército Vermelho. A Alemanha se rendeu em 08 de maio de 1945. O Japão se rendeu apenas em 02 de setembro de 1945. Nesse dia o Jornal do Commercio publicava na primeira página: “Assinado o Termo Final de Rendição!”.

A morte de Getúlio Vargas abalou o Brasil. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

No início da década de 1950 o Brasil ficou arrasado com o suicídio do presidente Getúlio Vargas, ocorrido em 24 de agosto de 1954. Após a redemocratização do país, Vargas foi eleito presidente da República em 1950. Nessa nova fase de sua carreira política, implantou no país um modelo de desenvolvimento nacionalista, com o controle do Estado sobre os principais setores da economia. Tal atitude desagradou profundamente setores ligados ao capital estrangeiro, como a União Democrática Nacional (UDN). A oposição passou a acusar Vargas de ser comunista. Esse era um velho artifício que, uma década mais tarde, seria novamente utilizado pelos militares para justificar o golpe.

A situação estava se tornando cada vez mais crítica. Vargas estava sendo pressionado por todos os lados. Para piorar ainda mais a situação, em 05 de agosto de 1954, Carlos Lacerda, líder da UDN, sofre um atentado na rua Tonelero, no Rio de Janeiro. No ataque, foi vitimado o guarda-costas Rubens Florentino Vaz, Major da Aeronáutica. Investigações apontaram que Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente, foi o mandante do atentado. A oposição e as Forças Armadas passaram a pedir a renúncia de Vargas, que afirmou que só sairia morto. Em 24 de agosto, Getúlio Vargas cometeu suicídio com um tiro no peito. A notícia rapidamente se espalhou pelo país, levando multidões às ruas, que prestaram suas últimas homenagens. Em 25 de agosto o Jornal do Commercio noticiava na primeira página: “Deplora a Nação o suicídio de Getúlio Vargas”. Foi reproduzida nessa edição uma fotografia do ex-presidente, uma nota de pesar do Governo do Estado do Amazonas e da Assembleia Legislativa, sua carta de suicídio e uma nota informando sobre o ocorrido:

Para desapontamento dos brasileiros e inquietação de todos os meios nacionais, suicidou-se, ontem, pela manhã, com um tiro de revólver no coração, em seus aposentos particulares, no Palácio do Catete, o presidente Getúlio Vargas. A sua morte inesperada deixou chorando a sua família e todos os seus amigos. Vargas, após vários dias de tentativa para debelar a crise político-militar oriunda do assassinato do major aviador Rubens Florentino Vaz, infelizmente, não encontrando outro meio para conseguir o seu intento, usou de uma arma de fogo e pôs fim à própria vida. Com tristeza registramos o fato lutuoso e de consequências até agora imprevisíveis para o futuro da pátria. Nunca se poderia esperar tal fim para um homem que durante mais de vinte anos comandou a política nacional.

Após a morte de Getúlio Vargas, o país teve, em 17 meses, três presidentes: João Bernardes Campos Café Filho, Carlos Coimbra da Luz e Nereu de Oliveira Ramos. Novas eleições foram realizadas em 1955. Venceu o candidato Juscelino Kubitschek, que assim como Vargas, enfrentaria forte oposição. As homenagens à sua figura são feitas até os dias de hoje através da construção de monumentos e o batismo de ruas e instituições com o seu nome.

A criação da Zona Franca de Manaus despertou a atenção do empresariado local, nacional e internacional. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

No alvorecer da década de 1950, Manaus era uma cidade que ainda sentia os efeitos da desestruturação de sua economia, que por décadas esteve quase que exclusivamente alicerçada na exportação da borracha. As arrecadações estadual e municipal ficavam muito abaixo do esperado, sendo insuficientes para sanar dívidas, para o pagamento do funcionalismo público e para abastecer hospitais e escolas. Dia sim, dia não, ocorriam racionamentos de energia elétrica. Em 1957 os bondes elétricos foram desativados, sendo substituídos por ônibus de madeira construídos de diferentes formas por seus proprietários. Na orla do Rio Negro, a Cidade Flutuante, uma grande favela fluvial, se expandia rapidamente.

Em maio de 1953, a cheia do Rio Negro, que atingiu a marca de 29,69 metros, devastou as cidades do interior, sendo um dos fatores que concorreu para a vinda de pessoas para Manaus, que também viu os bairros da orla serem alagados. Novos bairros surgiram. Santo Antônio, São Jorge, São Francisco, Santa Luzia, Crespo e São Lázaro passaram a abrigar as novas levas populacionais que a cada dia chegavam à cidade. Como contornar a crise? Pensou-se na criação de uma zona de livre comércio que incentivasse a instalação de empresas em Manaus. O Deputado Federal Francisco Pereira da Silva (1890-1973) idealizou a Zona Franca de Manaus, à época um Porto Livro, através da Lei n° 3.173 de 06 de junho de 1957. Em 31 de julho estampou a primeira página do JC a matéria “Zona Franca em Manaus na ordem do dia”, que discorria sobre as expectativas que a medida gerava nos empresariados local, nacional e internacional, interessados nas importações e exportações. A Zona Franca seria oficialmente criada dez anos depois, em 1967.

O primeiro mundial do Brasil foi comemorado de forma apoteótica. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Os anos 1950, denominados ‘Anos Dourados’, ficaram marcados pelos avanços tecnológicos, mudanças na arte, na arquitetura e na moda. Não era para menos. O mundo vivia o pós Segunda Guerra Mundial. A produção industrial, desde o fim do conflito, havia se normalizado, atingindo grandes volumes. Países da África e da Ásia, que no passado haviam sido colonizados, conseguiram, após décadas de luta, suas independências. A Guerra Fria estava a todo vapor, com Estados Unidos, líder do bloco capitalista, e a União Soviética, líder do bloco socialista, digladiando-se indiretamente pela hegemonia mundial.

No final da década, em 1958, as nações estavam se preparando para a sexta edição da Copa do Mundo, realizada na Suécia entre 10 e 29 de junho daquele ano. Participaram 16 seleções: Alemanha (Ocidental), Áustria, Suécia, Tchecoslováquia, França, União Soviética, Hungria, Irlanda do Norte, Iugoslávia, Inglaterra, País de Gales, Escócia, Argentina, Brasil, México e Paraguai. A competição foi transmitida na Europa graças ao lançamento do satélite soviético Sputnik III. Os demais países, como o Brasil, tiveram que adquirir kinescópios, posteriormente transformados em videoteipe. 

Foram realizadas 35 partidas. A final foi entre Brasil e Suécia. A seleção brasileira venceu a disputa por 5 a 2. Esse foi o primeiro mundial brasileiro. Em 01 de julho, o Jornal do Commercio noticiava efusivamente na primeira página: “Brasil: o maior campeão de todos os tempos”. As comemorações se espalharam pelo país. No Rio de Janeiro, a então capital federal, houve mortos e feridos. O Presidente Juscelino Kubitschek ofereceu seu avião particular para transportar os jogadores de Recife ao Aeroporto do Galeão. O jornal informava que na Europa só se falava do Brasil:

A imprensa européia virtualmente esgotou o dicionário em busca de palavras para elogiar o Brasil por sua vitória no Campeonato Mundial de Futebol. Jamais se falou tanto do Brasil no Velho Mundo. E se alguém ainda tinha dúvida de que o Rio de Janeiro e não Buenos Aires é a capital Brasileira, a dúvida foi definitivamente varrida pela gigantesca publicidade que o Brasil capitalizou com a conquista da Taça do Mundo.

Foram vários dias de festa. Os jogadores foram recebidos como heróis. Compunham a seleção Gilmar dos Santos Neves, Djalma dos Santos, Hilderaldo Luís Bellini, Orlando Peçanha de Carvalho, Nilton dos Santos, José Ely de Miranda (Zito), Waldir Pereira (Didi), Manoel Francisco dos Santos (Garrincha), Edson Arantes do Nascimento (Pelé), Edvaldo Izídio Neto (Vavá) e Mário Jorge Lobo Zagallo.

Na década de 1960 a Guerra Fria entrava em sua fase mais dura, com a implantação de regimes ditatoriais ao redor do mundo. A polarização ideológica, no Brasil, tomava proporções assustadoras. Os Estados Unidos buscavam a hegemonia política sobre o continente americano, financiando políticos e grupos militares para impedir a instalação de regimes comunistas. O Governo norte-americano temia que o Brasil caísse nas mãos dos soviéticos, e por isso passou a acompanhar de perto os bastidores da política brasileira.

Em 1960, Jânio Quadros, do Partido Trabalhista Nacional (PTN), conservador, contando com apoio da União Democrática Nacional (UDN), vence as eleições para Presidente da República. Venceu para vice-presidente João Goulart, do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), alinhado à esquerda. Jânio Quadros adotou um discurso de moralização da política nacional e, externamente, buscou certa independência, mantendo relações tanto com os Estados Unidos quanto com a União Soviética. Essa postura, aliada a uma péssima política econômica, fez com que Jânio perdesse a base aliada. Em 25 de agosto de 1961, ele renuncia. O vice João Goulart, que deveria assumir, estava em viagem na China. Ele era frequentemente atacado pelo Exército por suas “tendências” comunistas. Oposição e militares, com apoio financeiro dos Estados Unidos, começam a tramar um golpe de Estado.

Ranieri Mazzilli, Presidente da Câmara dos Deputados, assumiu a presidência. O Congresso propõe uma emenda constitucional, estabelecendo o parlamentarismo no país. João Goulart seria o presidente, mas com poderes limitados. O parlamentarismo dura até 1963, quando é realizado um referendo para determinar qual deveria ser o modelo político a vigorar, o presidencialismo ou o parlamentarismo. Quase 80% dos eleitores votaram contra o parlamentarismo. Com plenos poderes restabelecidos, Goulart lança em 1964 as reformas de base, que dentre outras medidas, determinavam desapropriações de terras, reforma agrária, nacionalização de refinarias de petróleo, reforma eleitoral garantindo o voto dos analfabetos e reforma universitária. Os grupos de oposição e os militares viram essas reformas como uma ameaça de “comunização”, se articulando para concretizar o golpe.

A oposição fez apelos à população, a chamando para as ruas em passeatas contra a ameaça comunista. Em 13 de março de 1964, Jango realizou o Comício da Central do Brasil, no Rio de Janeiro, contando com a participação de cerca de 300 mil pessoas. Ele anunciou que as reformas de base seriam feitas. Os grupos golpistas viram o evento como o início de uma tentativa autogolpe, e aceleraram o movimento, iniciando o processo de deposição, com o envio de tropas para o Rio de Janeiro. Em 31 de março João Goulart foi deposto pelos militares. Em 02 de abril a presidência foi declarada vaga. Em uma clara demonstração de apoio ao movimento, o Jornal do Commercio publicou no dia seguinte a matéria “Exército consolida a Revolução Democrática”, trazendo pequenas notas sobre as movimentações em Porto Alegre, Rio de Janeiro, Brasília, Montevidéu, no Uruguai, onde João Goulart e sua família se exilaram, e um texto intitulado “Operação Limpêsa”, do qual reproduzidos alguns trechos abaixo:

O sr. João Goulart está deposto. A imediata resposta das Forças Armadas ao desafio que lhes foi lançado evidenciou o grande blefe do ex-presidente da República. Quis pagar para ver e nem esperou pelo resultado, desaparecendo aos primeiros sinais de vitória das fôrças democráticas. Traduzindo os mais profundos anseios do povo brasileiro, as Fôrças Armadas opuseram um basta ás tentativas de bolchevização do País.

Com a imediata e esmagadora vitória dos verdadeiros princípios cristãos e democráticos, inicia-se a grande e urgente tarefa de reorganização da vida política nacional. A fuga do sr. João Goulart é um espetáculo por demais vergonhoso para servir de ponto final no processo revolucionário que se instaurou no País. O ex-presidente comportou-se como um pigmeu, sem a estatura do próprio Getúlio Vargas, de quem se dizia herdeiro, apesar de suas reiteradas afirmativas de que não desertaria nem se deixaria prender.

Cumpre agora proceder á higienização da vida pública brasileira, até porque a pessoa do sr. João Goulart pouco interessa, mas sim o esquema subversivo em que êle se encontrava montado, ameaçando os alicerces do regime. Não é possível que depois de arranhada a ordem legal se mantenha intacto êsse dispositivo, por falsos pruridos legalistas.

O sangue derramado em holocausto á liberdade exige a destruição dessa máquina viciada, para que os sacrifícios não tenham sido em vão. Os erros do passado não devem repetir-se, para que não se frustrem as esperanças da Nação de reencontrar-se, de fato, com os caminhos da lei e da ordem. Seria uma traição aos ideais que inspiraram a revolução vitoriosa permitir-se que aquêles que infelicitaram o País conservem as posições que ocupam, tramando novas investidas contra as instituições.

O Jornal do Commercio não foi o único periódico a apoiar o golpe. Outros o fizeram com a mesma ou mais veemência. Não era de se estanhar, pois os Diários Associados, desde que João Goulart assumiu a presidência, deixou de receber aportes financeiros do Estado. Com isso, tornou-se um veículo de forte oposição. Como empresa, também não esteve sozinho. A Associação Comercial do Amazonas (ACA), bem como algumas das mais tradicionais famílias do Amazonas, por exemplo, apoiaram o movimento, chegando a organizar comícios para saudar os militares que haviam “livrado” o país das garras do comunismo.

A Zona Franca de Manaus foi um marco na História do Amazonas, trazendo novos ventos de esperança. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Apesar das críticas, Foi somente no Regime Militar (1964-1985), período em que uma nova política de integração nacional foi pensada para a região Amazônica, que a Zona Franca de Manaus foi regulada e implementada. No Governo do Presidente Humberto de Alencar Castello Branco, o Decreto-Lei n° 288, de 28 de fevereiro de 1967, alterou as disposições da Lei n° 3173 de 6 de junho de 1957 e regulou a Zona Franca de Manaus. Era Governador do Estado do Amazonas, na época, Danilo Duarte de Mattos Areosa (1921-1983).

O primeiro artigo desse Decreto-Lei define bem o modelo econômico a entrar em vigor: “Art 1º A Zona Franca de Manaus é uma área de livre comércio de importação e exportação e de incentivos fiscais especiais, estabelecida com a finalidade de criar no interior da Amazônia um centro industrial, comercial e agropecuário dotado de condições econômicas que permitam seu desenvolvimento, em face dos fatôres locais e da grande distância, a que se encontram, os centros consumidores de seus produtos” (Decreto-Lei n° 288, de 28 de fevereiro de 1967). Para administrá-la foi criada a SUFRAMA (Superintendência da Zona Franca de Manaus). No dia 01 de março daquele ano era publicada na primeira página do Jornal do Commercio a matéria “Nova fase para o Amazonas. Manaus dentro da Zona Franca”, em que o autor afirmava que “A transformação da cidade de Manaus em Zona Franca provocou justificado entusiasmo nos circulos administrativos, industriais, comerciais e, enfim, em todos os setores das mais diversas atividades, sendo saudada com a maior euforia”.

Era chegada a hora do Amazonas se reerguer. Apenas em seu primeiro ano de existência, a Zona Franca fez surgir 1.339 novos estabelecimentos comerciais. Eram empresas dos ramos de eletrodomésticos, alimentos, tecidos e hotelaria. No Centro de Manaus, antigos prédios do tempo da borracha eram adaptados ou demolidos para dar lugar a novos empreendimentos. Estrangeiros de diferentes partes do mundo e brasileiros de outros Estados vinham em busca dos artigos regionais e internacionais. Faziam sucesso as calças Lee, His, Lewis, as televisões, as câmeras fotográficas, os brinquedos chineses e japoneses e as vitrolas portáteis. Passados 55 anos, a Zona Franca continua sendo a base de nossa economia.

O Jornal do Commercio acompanhou de perto a chegada do homem à lua. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Voltando a falar sobre Guerra Fria, um dos capítulos desse conflito foi a disputa pela conquista do espaço sideral. Os soviéticos saíram à frente, lançando na órbita terrestre, em 1957, o satélite Sputnik I e, em 1961, o primeiro homem no espaço, o astronauta Yuri Gagarin. Os norte-americanos deram a largada em 1958 com a criação da Nasa (Administração Nacional de Aeronáutica e do Espaço), lançando o Programa Mercury (1959-1963), de desenvolvimento de tecnologia aeroespacial. 

O programa que melhor frutificou foi o Apollo, posto em prática entre 1963 e 1972. Em 16 de julho de 1969 foi lançada a nave espacial Apollo 11, tendo como tripulantes os astronautas Neil Armstrong, Michael Collins e Buzz Aldrin. No dia 20 de julho o homem finalmente pisava na lua, feito empreendido por Neil Armstrong, autor da famosa pegada.

O Jornal do Commercio acompanhou de perto esse processo, noticiando, no dia 22, “A conquista da Lua. Feito norte-americano é enaltecido no mundo”, trazendo fotografias do local do pouso e da equipe da estação espacial. O mundo, de acordo com o jornal, parou para assistir a transmissão. No México as ruas estavam vazias, com seus habitantes acompanhando a missão. Em Londres, o astrônomo Bernard Lovell comemorava o feito. Na Alemanha, as ruas também estavam desertas. Os russos noticiaram, sem alarde, o acontecimento. O Papa Paulo VI orava pelos astronautas.

Desde o final da década de 1960 a população manauara viu os crimes violentos crescerem assustadoramente. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

A Zona Franca de Manaus, sem dúvidas, deu novo rumo para o Amazonas, que viu a arrecadação crescer a níveis estratosféricos. No entanto, Também surgiram graves problemas. Uma grande quantidade de migrantes vieram de outros Estados em busca de oportunidades de emprego em Manaus. A população saltou de 175.343 habitantes em 1960 para 314.197 em 1970. Os administradores municipais e estaduais não preparam a cidade, fazendo com que muitos trabalhadores passassem a viver na periferia, em péssimas condições de vida. Verifica-se, nesse período, uma explosão de crimes violentos, crimes esses que, pela forma como foram perpetrados, ficaram gravados na memória coletiva dos manauaras.

Um dos mais célebres foi o caso do Monstro da Colina. No dia 14 de novembro de 1976, o criminoso Wallace Barreto de Oliveira, de 19 anos, assassinou com requintes de crueldade o menor Carlos Andrade de Oliveira, de 14 anos. O crime ocorreu na rua 5 de Setembro. Até aquele momento os crimes mais comuns eram as brigas de rua, o desentendimentos entre casais e, vez ou outra, algum roubo. Rosalvo Reis, no texto ‘Os “monstros” da cidade‘, publicado em 26 de junho de 1977 no Jornal do Commercio, afirma que Wallace Barreto, homossexual, estava apaixonado e tentava induzir Carlos Andrade de Oliveira ao mundo do crime. Carlos passou a evitar qualquer forma de contato com ele. Enfurecido e com ciúmes, este arquitetou sua vingança: Na madrugada de 14 de novembro, invadiu a residência de Carlos, entrando em seu quarto. Os pais do menor, no momento, estavam ausentes. Estuprando o menor, Wallace, com uma faca, lhe fez novas propostas. Carlos, novamente, recusou todas. Wallace lhe golpeou mortalmente com uma facada na nuca. Depois, lhe estripou e decepou seu pênis, eliminando o cadáver em uma fossa na parte de trás da casa.

O Monstro da Colina foi apturado pelos familiares de sua vítima, passou por um longo processo judicial, com duração de pouco mais de quatro anos, sendo condenado a 23 anos de prisão. Fugiu várias vezes da prisão, até desaparecer dos noticiários em 1986. Rosalvo informa que “atualmente, no presídio estadual, existem cerca de dez sádicos, alguns deles esperando decisão da justiça. Contudo, muitos outros continuam soltos, parecendo gente pacata, à procura de vítimas para dar vasão a seus instintos bestiais”.

A visita do Papa João Paulo II a Manaus foi uma apoteose, com a participação de milhares de pessoas da capital, dos interiores, de outros Estados países. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Em 1980, o Brasil teve a honra de receber, pela primeira vez, a visita de um pontífice. Na tarde de 30 de junho, desembarcava no Aeroporto de Brasília Karol Józef Wojtyla, o Papa João Paulo II (1920-2005). A visita, de caráter pastoral e religiosa, teve início Brasília, percorrendo ao longo de 12 dias as cidades de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Aparecida do Norte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife, Teresina, Belém, Fortaleza e Manaus. Estima-se que cerca de 12 milhões de pessoas acompanharam a visita do sumo pontífice.

No dia 10 de julho de 1980, com um atraso de 30 minutos, o Papa desembarcou no Aeroporto Eduardo Gomes, em Manaus, sendo recebido por autoridades civis, militares, eclesiásticas e o corpo consular. Manaus foi escolhida para ser o destino final de sua viagem. Em 11 de julho o Jornal do Commercio publicou na primeira página, acompanhada de fotografias: “Manaus acolheu peregrino de Deus em clima de apoteose e entusiasmo”. No trajeto do aeroporto até a Catedral de Nossa Senhora da Conceição, 100 mil pessoas o aplaudiram das ruas e das casas. Na Matriz, saudou a população amazonense e benzeu o altar. A edição do dia anterior teve uma tiragem de 45 mil exemplares, que se esgotaram rapidamente.

O ponto alto da visita ocorreu na manhã do dia 11, quando o Papa realizou uma missa campal na Praça Francisco Pereira da Silva, mais conhecida como Bola da Suframa. Estima-se que participaram da celebração entre 150 e 300 mil pessoas. Em texto publicado na edição do dia 11, registrou-se que “Na verdade é notável o poder de comunicação que transmite a figura de Carol Wojtyla. Dificilmente neste século, haverá algo semelhante. Atrai milhões sem apêlos a qualquer artifício. Nele brota a autenticidade nos gestos e nas palavras”.

Depois da missa, o Papa almoçou no tradicional restaurante Canto da Peixada, na Praça 14 de Janeiro. Após participar de uma procissão fluvial na Base Naval do Rio Negro, o Papa foi, às 15 horas, para o aeroporto, de onde partiu às 16:30. Sua visita entrou para a História do Amazonas, deixando na memória dos que a assistiram uma imagem fixa de fé e esperança em dias melhores.

A chapa Tancredo Neves e José Sarney saiu foi a vencedora da última eleição indireta realizada no Brasil. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. 

Quando a Ditadura Militar havia completado 10 anos, em 1974, Ernesto Beckmann Geisel assumiu a presidência prometendo retomar o crescimento econômico e restabelecer a democracia. Em seu governo ele aumentou a participação do Estado na economia, dando continuidade a projetos arrojados como a Ferrovia do Aço, em Minas Gerais, e a Hidrelétrica de Tucuruí e a mineração em Carajás, ambos no Pará. Em 1979 o Ato Institucional 5 (AI-5) foi revogado. O sucessor de Geisel, João Batista de Figueiredo, assume em 1979.

O bipartidarismo é extinto em 1980, surgindo novos partidos políticos. Em 1983 tem início no país a campanha Diretas Já, que pedia eleições diretas para Presidente, que desde 1964 eram eleitos indiretamente. O regime foi pressionado de todos os lados pela oposição e pela população. Em uma aliança entre PMDB e PDS – cujos dissentes formaram o Partido da Frente Liberal (PFL) – que formavam a Frente Democrática, foi lançada a candidatura de Tancredo Neves para presidente e José Sarney para vice. Em 08 de agosto de 1984 o Jornal do Commercio noticiava que “PMDB e dissidentes do PDS lançam Frente Democrática”.

Em 1985 ocorre a última eleição indireta, saindo vencedora com mais de 70% dos votos a chapa Tancredo Neves e José Sarney. Com a morte de Tancredo Neves, em 1985, Sarney assume a presidência como o primeiro Presidente da redemocratização. Assumiu o país no auge da dívida externa, com uma inflação de mais de 200%. Foram lançados planos econômicos desastrosos como o Plano Cruzado, Plano Cruzado II, Plano Bresser e Plano Verão, que dentre outras coisas, estabeleceram o congelamento de preços. Em 1988 é promulgada a nova constituição, denominada Constituição Cidadã.

Com a abertura às importações, no Governo Collor, a Zona Franca de Manaus foi fortemente abalada. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Entre 1975 e 1976, o Governo Federal implementou na Zona Franca o Índice Mínimo de Nacionalização. As empresas sediadas na Zona Franca estavam autorizadas a importar apenas peças, componentes e matérias-primas que não eram produzidas no mercado interno, sendo o restante adquirido localmente. Também foi imposto um limite anual de importação. A liberdade de importação foi restringida, mas o mercado interno foi estimulado. 

No Governo do Presidente Fernando Collor de Mello (1990-1992) o mercado brasileiro foi aberto às importações, cujas tarifas eram extremamente baixas. A Zona Franca, desde 1975 vinha nacionalizando sua produção, se viu diante de uma concorrência desigual, pois os produtos nacionais, dadas as tarifas e carências tecnológicas, passaram a ser menos visados que os importados. Em 22 de março o Jornal do Commercio publicou a matéria “Importadores da ZFM ameaçados de falência”, mostrando os efeitos desastrosos da modificação de liberação de depósitos registrados em moeda estrangeira, ação que teve forte impacto na economia local:

O Banco Central, através da circular 1.611, decidiu modificar os critérios de liberação de depósitos registrados em moeda estrangeira, fixados na resolução número 1.646. Agora, quando do vencimento das operações de câmbio depositadas no Banco Central, a conversão será feita nas seguintes proporções: 20% serão transformados em cruzeiros e 80% ficarão retidos no BC, durante 12 meses. Como não existe “hedge” cambial e os 80% dos fundos dos importadores depositados no BC ficaram congelados por 12 meses, os importadores da Zona Franca de Manaus, que não dispõem de cruzados suficientes para cobrir os 80% dos recursos retidos, correm o risco de não poder sanar seus compromissos junto aos seus credores, e com isso terão dificuldades em conseguir a abertura de novas linhas de crédito para financiamento de suas importações.

Essa foi apenas uma das medidas do Governo Collor que prejudicaram a ZFM. A diminuição da competitividade foi superada no final da década de 1990 e início dos anos 2000 com medidas como a redução de 88% do Imposto de Importação, a implantação de normas técnicas de qualidade, automação das fábricas, reestruturação fabril, criação do Centro de Ciência, Tecnologia e Inovação do Polo Industrial de Manaus e do Centro de Biotecnologia da Amazônia. 

Em 29 de setembro de 1992, pela primeira vez na História do país, um Presidente sofreu impeachment. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Como Collor chegou à presidência? No final do Governo Sarney, em 1989, seriam realizadas as primeiras eleições diretas para Presidente desde 1964. Após o desastroso governo de Sarney, a esquerda apresentava-se como uma alternativa, apostando suas fichas em Luís Inácio Lula da Silva, do PT, e Leonel Brizola, do PDT. Temendo uma guinada à esquerda, setores de direita lançaram a candidatura do jovem Fernando Collor de Mello, de influente família de políticos de Alagoas.

Ele se lançou como um candidato apolítico, “caçador de marajás” que se apropriavam da máquina pública. O fato de ser um político jovem e aparentemente desvinculado das querelas políticas o ajudou bastante. Esse discurso fez sucesso na grande mídia e entre os empresários, que fizeram grandes doações à sua campanha, para a qual foi criado o Partido da Reconstrução Nacional (PRN). Durante a campanha, não apresentou projetos e não participou dos debates. Foi o mais votado no primeiro turno, enfrentando Lula no segundo. Venceu com 42,75% dos votos.

Assumindo a presidência em 1990, prometeu modernizar o país através da redução do papel do Estado, da defesa do livre mercado, abrindo a nação às importações, encerrando subsídios e privatizando estatais. Em síntese, instalava no país o modelo econômico neoliberal. Congelando preços e abrindo o mercado para os produtos estrangeiros, teve alguns bos resultados por um breve período. Rapidamente o país entrou em recessão, com a atividade industrial caindo por conta da concorrência estrangeira. O desemprego, consequentemente, aumentou.

Em outubro de 1991 foram feitas denúncias de que Paulo César Farias, amigo pessoal de Collor e seu tesoureiro de campanha, estava pressionando presidentes de estatais para prejudicar as empresas, favorecendo os interesses de grupos privados. O beneficiário desse esquema seria Collor. Em junho de 1992 foi instaurada uma CPI pelo Congresso Nacional, que apurou o funcionamento de um esquema em que o Governo recebia dinheiro para favorecer empresas. O dinheiro era enviado para paraísos fiscais no exterior, posteriormente retornando ao país, onde era depositado em contas fantasmas que dirigiam os valores para contas de membros do governo, de PC Farias e da família Collor. O caçador de marajás, na verdade, era o maior deles.

A população saiu às ruas pedindo o impeachment do presidente. Em 29 de setembro de 1992 a Câmara dos Deputados decidiu pelo afastamento de Collor por 441 votos a favor e 38 contra. No dia seguinte o Jornal do Commercio noticiava: “Câmara aprova impeachment e povo comemora”. O país, de acordo com o jornal, estava em polvorosa com a decisão. “No Palácio do Planalto”, registra, “a reação oficial foi o silêncio”. “Em todo o País, milhares de pessoas foram às ruas e praças para fazer manifestação a favor do impeachment. Em Manaus, o ato público foi na Praça da Saudade”. Os caras pintadas tomaram a praça, festejando a saída de Collor. Pela primeira vez na História do Brasil um presidente era afastado do cargo.

No final do século XX, a clonagem da ovelha Dolly deu margem a intensos debates na sociedade. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

No final do século XX, um experimento científico abalaria as certezas e as crenças humanas. Em 05 de julho de 1996 nascia na Escócia a ovelha Dolly, primeiro mamífero clonado através de uma célula somática adulta. Os autores da façanha, pesquisadores do Instituto Roslin, na Escócia, só tornaram o experimento público em 22 de fevereiro de 1997. Poderiam os cientistas clonaram seres humanos? Os debates em torno do assunto até hoje são acalorados. Quais os limites da ciência? O homem brinca de Deus? Existe ética na clonagem? Essas foram algumas das perguntas feitas tanto pela população quanto pelos meios especializados.

Um texto do editorial do Jornal do Commercio, com certa doze de irreverência e machismo, discutiu o processo e qual seria a utilidade do homem, já que, pelo visto, não haveria necessidade de intercurso sexual para a perpetuação da espécie: “Qualquer célula serve. Da pele ou de qualquer órgão. Não existe mais necessidade de haver amor entre homem e mulher e, entre animais, cruzamento”. O homem, de acordo com o texto, estava ameaçado de extinção. A conclusão do texto é um tanto exagerada: “E agora? Essa metade da humanidade não tem utilidade! Consola-nos a declaração do presidente da Associação de Criadores da França: “A natureza vai reagir”. É a nossa única esperança”.

Passados 25 anos da publicação desse texto, o homem continua existindo e, para alegria dos mais tradicionais, procriando aos montes. Hoje a clonagem de mamíferos como ovelhas, porcos, macacos, veados, cavalos e touros já não é nenhuma novidade. Da Espanha à China, todos os dias, são clonados milhares desses animais. As pesquisas avançaram, principalmente sobre as célula-tronco. No futuro, animais extintos poderão ser revividos. Novos debates surgirão e, como de costume, o JC estará lá para noticiar.

2004 foi o ano do primeiro centenário do Jornal do Commercio. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

2004 foi um ano especial para o Jornal do Commercio. Em 02 de janeiro o tradicional periódico amazonense completava seu primeiro centenário. Foi produzida uma belíssima edição de 152 páginas, contando com artigos, depoimentos, mensagens e um almanaque com o resumo dos principais acontecimentos do Amazonas, do Brasil e do mundo noticiados pelo JC. Os leitores ganharam um CD com conteúdos históricos e uma caneta como brindes. Guilherme Aluízio, proprietário desde 1984, saudou os leitores com uma breve mensagem:

Obrigado! Primeiramente a Deus, que permitiu chegarmos hoje aos cem anos do Jornal do Commercio. Em seguida, obrigado aos que por aqui passaram, desde a fundação do jornal até os nossos dias, sem os quais nada do que aqui está poderia ter sido feito. Obrigado aos nossos leitores, assinantes e anunciantes, única razão da existência do jornal por todo este século percorrido. Obrigado aos governantes desta terra, aos políticos e empresários com quem convivemos há tanto tempo. Obrigado à Democracia que nos permitiu a liberdade de escrever o que pensamos. Obrigado à Pátria que nos fez unidos num idioma só. Obrigado aos amigos e à família pelo incentivo nunca negado. 

A todos, enfim, nosso imorredouro obrigado!

Manaus, 2 de janeiro de 2004.

Guilherme Aluízio – presidente.

Entidades nacionais e internacionais de imprensa saudaram o jornal pela passagem de seu aniversário. Timothy Balding, então presidente da Associação Mundial de Jornais (WAN), afirmou estar “entusiasmado em enviar meus parabéns calorosos, em nome da Associação Mundial de Jornais e seus 18.000 membros em cem países, para o Jornal do Commercio no seu 100° aniversário. Este é verdadeiramente um marco significativo na história da publicação e desejo a você tudo de bom por outro século de grandes serviços a seus leitores”. Júlio E. Muñoz, diretor executivo da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), registrou que “O Jornal do Commercio tem sido um exemplo de longevidade e um pioneiro na modernização de suas instalações. É um jornal que através das páginas dos seus cadernos cobre as notícias econômicas, de opinião e de política de sua região, do Brasil e do mundo”.

Dentre os artigos, destacam-se o de Ozório Fonseca, “Registros da memória”, em que o autor lembra da Manaus das décadas de 1950 e 1960, período em que o JC contava com um time de peso de redatores e colaboradores como Herculano de Castro e Costa, Epaminondas Barahuna, Nogar, Genesino Braga, Padre Nonato Pinheiro e José Cidade de Oliveira, “autênticos marcos da cidade e do Jornal do Commercio que foi, e é, uma das melhores escolas do jornalismo amazonense”; o do Professor José Aldemir de Oliveira, “Manaus, cem anos de festas”, sobre as festas que ocorriam em Manaus no século passado; e o dos professores do curso de História da UFAM Maria Luíza Ugarte Pinheiro e Luís Balkar Sá Peixoto Pinheiro, “Uma história de altos e baixos no jornalismo”, no qual contextualizam o surgimento e desenvolvimento da imprensa no Amazonas, destacando o Jornal do Commercio como um marco que “[…] consagra o veículo jornal como empreendimento moderno, afastando-se do jornalismo mais artesanal e amador, que caracterizou boa parte dos primeiros periódicos de nosso Estado”. 

Essa edição de aniversário termina com um almanaque de fatos históricos noticiados pelo jornal de 1904 a 2004. Analisando as edições comemorativas anteriores, essa foi a mais detalhada, bem trabalhada e acabada e, consequentemente, a que teve mais impacto. Foi vendida a 1,50 reais. Hoje, pode-se dizer, é um item de colecionador, procurada em bibliotecas e arquivos particulares.

O aniversário de 40 anos da Zona Franca de Manuas foi comemorado com uma edição especial. FONTE: Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional.

Em 28 de fevereiro de 2007 a Zona Franca de Manaus completou 40 anos. Para a ocasião foi produzida uma edição especial de 88 páginas. Ela contou com artigos, entrevistas e reportagens especiais. Foi a primeira vez que se fez uma edição desse porte em comemoração ao aniversário da ZFM. Destaco o artigo “Desafio permanente”, do jornalista Fred Novaes. O autor propõe uma reflexão sobre o uso dos recursos advindos com a Zona Franca: “O que estamos fazendo com os fartos recursos advindos do pólo industrial? O que fizemos com aproximadamente 30 bilhões de dólares repassados por meio do ICMS, nestes quarenta anos?”. Era necessário um olhar mais humano sobre esse modelo econômico: “O viés social do desenvolvimento precisa ser resgatado, sob o risco de construirmos uma sociedade em simulacro àquela dos grandes centros do País, em cidades invadidas pelas mazelas antes escondidas sob morros intransponíveis para a maioria”. Naquele momento – e até hoje – o grande desafio enfrentado pela ZFM era a tentativa de se retirar de Manaus a exclusividade do incentivo para a produção de aparelhos conversores de sinais de TV Digital (set-top box). Novaes conclui seu texto afirmando que “A planilha de faturamento com indicadores dos últimos sete anos do PIM não pode retrair-se, principalmente quando a autarquia adentra o período de maturidade industrial”.

A morte de Guilherme Aluízio comoveu a sociedade amazonense. FONTE: Acervo do Jornal do Commercio.

Triste raiou o dia em 03 de junho de 2019. Morria em São Paulo, aos 82 anos, Guilherme Aluízio de Oliveira Silva, Presidente do Jornal do Commercio desde 1984. Muito antes de ter realizado seu sonho de ter o próprio jornal, Guilherme trabalhou como jornalista no jornal A Gazeta entre 1955 e 1960. Foi um profissional completo, produzindo matérias de diferentes gêneros, da investigação aos relatos de viagem.

Entidades e autoridades lamentaram sua passagem, conforme publicação do jornal. O presidente da Associação das Empresas do Mercado Imobiliário (ADEMI-AM), Albano Maximo, destacou o papel de Guilherme na expansão da comunicação no Amazonas: “Guilherme Aluízio foi importante na fomentação da comunicação no Amazonas, seu compromisso com a região. Neste momento de dor nos unimos em oração à família e amigos para que esta perda possa ser compreendida com a esperança do conforto em Deus”. O Centro das Indústrias do Estado do Amazonas (CIEAM), na pessoa de Wilson Périco, lamentou a perda, registrando sua grandeza: “Grande Homem! Grande aglutinador de pessoas do bem. Muito triste com a perda do amigo Guilherme Aluízio. Perdemos nós. Perde o Estado. O céu ganha mais uma estrela que estará a nos guiar, da forma que lhe for possível, da mesma forma que procurava fazer quando entre nós”.

Nelson Azevedo, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado do Amazonas (FIEAM), o descreveu como um grande defensor da Zona Franca de Manaus: “A gente lamenta a perda de uma pessoa que sempre colaborou e contribuiu, não apenas como comunicador, mas como um próprio empreendedor. Ele esteve sempre esteve presente em todos nos acontecimentos em defesa ao modelo Zona Franca. Ele deixa um legado. Que outros possam ter assimilado essa lição. Que Deus o receba na sua eterna morada de um conforto a família e todos nós amigos, que estimamos. Contribuiu para o Amazonas por meio do centenário Jornal do Commercio, que sempre teve uma linha editorial séria e excelente conteúdo. E esperamos que seja mantido”.

Ataliba Filho, da Associação Comercial do Amazonas (ACA), salientou a ativa participação de Guilherme nas entidades amazonenses: Eu vejo como uma perda irreparável da área de comunicação. Ele foi um expoente. Deixa um legado, um exemplo. Ele realmente vai fazer muita falta para todos nós. O dr Guilherme não só era uma pessoa da comunicação, mas também participativo nas entidades. Apoiava as causas empresariais e as atividades comerciais do estado. Uma pessoa que foi além. Foi importante para todas entidades que representam o setor produtivo”. Josué Neto, presidente da Assembleia Legislativa do Amazonas (ALEAM), disse que ele era “Um grande homem, de coração bom, exemplo para todos os profissionais da área de comunicação do Amazonas, deixa um belíssimo legado”.

Alfredo Menezes, superintendente da Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA), frisou que “A Zona Franca de Manaus perdeu, nesta manhã, uma grande voz. O jornalista Guilherme Aluízio deixa um grande vazio na defesa do setor produtivo de nossa região. A este grande guerreiro só podemos desejar que descanse em paz”. Yedo Simões, presidente do Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM), o distinguiu como um amazônida ilustre: “Guilherme Aluísio, um dos grandes filhos desta terra abençoada, parte para a eternidade, deixando seu exemplo de homem honrado, empreendedor, pai de família exemplar, amigo leal, e acima de tudo um Amazônida que sempre esteve à frente das lutas em defesa de nossos interesses maiores, e que sempre será lembrado pelas gerações presentes e vindouras. Morre o homem, fica sua obra!”. Para Cyro Anunciação, vice-presidente do Grupo Diário de Comunicação (GDC), “a morte do jornalista abre uma grande lacuna na Imprensa do Amazonas, com a importância histórica de uma das mais tradicionais empresas de comunicação do Estado. O GDC mantém parceria comercial com o grupo do empresário ao longo dos últimos anos. Além disso, o GDC manifesta seu profundo sentimento de pesar aos familiares e inúmeros amigos de Guilherme Aluízio”.

E assim o Jornal do Commercio chegou aos 119 anos. De Rocha dos Santos à Guilherme Aluízio foram inúmeros os acontecimentos. A Amazônia despertou a cobiça internacional com a borracha. A humanidade travou duas grandes guerras. Uma pandemia sem precedentes dizimou milhões de pessoas. O Amazonas entrou em crise, renascendo com a Zona Franca. Golpes foram dados e impeachments realizados. O homem chegou à lua e dominou a engenharia genética. E, em todos esses momentos, lá estava o JC, vigilante, forte, vencendo os desafios da notícia para bem informar a sociedade.

Compilado teve a curadoria de Fábio Augusto de Carvalho Pedrosa – Graduado em História (UFAM), professor e pesquisador. Criador do blog História Inteligente (www.historiainte.blogspot.com).

Fábio Augusto Carvalho

é historiador
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