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“O futuro do esporte amazonense está nas crianças”

Com uma passagem pela Semdej (Secretaria Municipal de Juventude Desporto e Lazer) considerada exitosa, ao lado de Amazonino Mendes, o vereador reeleito Fabrício Lima (PRTB) é um dos mais cotados a voltar para a pasta a partir de janeiro, quando se inicia a gestão Artur Neto. Em entrevista ao Jornal do Commercio, o parlamentar admitiu que mantém conversas nesse sentido com o prefeito eleito. Ele falou também sobre os planos para estimular o esporte local e sua expectativa com relação à Copa de 2014 em Manaus.

Jornal do Commercio – Vereador Fabrício, o que falta ser feito em Manaus para alavancar o setor do esporte?

Fabrício Lima – Graças a Deus nós construímos uma coisa muito bacana, que foi o hábito de praticar esportes. Mas agora quando se trata de esporte de alto rendimento, que é o que as pessoas realmente esperam, aí deve ser tratado de maneira diferente. Temos um grande centro de treinamento, que é a Vila Olímpica de Manaus, onde nós estamos fazendo esse trabalho de base, de divulgação do esporte, procurando novos talentos. Mas essas pessoas precisam de uma referência. Então nós precisamos tratar a Vila Olímpica e construir outros espaços para trabalhar o alto rendimento. Aí você entra, além do Bolsa Atleta, com uma estrutura de psicólogos, nutricionistas, fisiologistas, laboratórios para que se façam exames de maneira periódica e regular, ou seja, uma estrutura realmente voltada para os atletas. Hoje, a Vila Olímpica, sem desmerecer o trabalho que é feito lá, atende não só o alto rendimento, mas também outras demandas. O que foi feito exclusivamente para os atletas, hoje atende um outro público. A escola que foi construída para atender aos atletas que treinariam lá foi transformada numa escola pública que atende toda a comunidade (Escola Estadual Francisca Botinelly). Não estou desmerecendo, nem dizendo que não é importante, mas aquela estrutura não é utilizada hoje da maneira que deveria.

JC – E qual é o papel da prefeitura nesse processo?

Fabrício – Cabe à prefeitura fomentar isso, divulgar o alto rendimento, fomentar as federações. O alto rendimento deve ser tratado de forma firme e prática na Vila Olímpica. É ali que é o polo, inclusive de descoberta do interior. O hotel que funciona dentro da Vila era para atender à demanda vinda do interior e aquela escola era para eles estudarem. O Amazonino pensou em tudo isso quando criou a Vila Olímpica, e agora cabe à gente retomar isso. Temos tempo ainda. O (prefeito eleito) Artur (Neto) quer investir no esporte. Agora o alto rendimento tem um custo. Mas, quanto custa um exemplo? Quando você consegue atingir uma Olimpíada, ou um resultado grande, como o (lutador amazonense) José Aldo do MMA, você alimenta a esperança de outras pessoas serem como esses atletas. Outro exemplo: quando estava na Secretaria Municipal de Desporto e Lazer (Semdej) eu ajudei a (triatleta) Jéssica dos Santos, e a prefeitura continua ajudando. Jéssica foi a terceira colocada no Long Distance, disputado recentemente na Nova Zelândia. Ela é filha de um sargento reformado do E xército e de uma dona de casa. Ela é uma aluna aplicada na Universidade Federal do Amazonas, faz jornalismo inclusive. Ainda usa o transporte coletivo, ou seja, tem uma vida muito parecida com a vida da maioria dos amazonenses. Mas, ela conhece muitos países, conhece o Brasil inteiro. É uma atleta de renome, conhecida internacionalmente. É atleta da Seleção Brasileira de Triatlo. Tudo isso são coisas que o esporte proporcionou na vida dela.

JC – Então, há menos de dois meses do início de uma nova gestão municipal, que conselhos o senhor daria ao futuro secretário municipal de Esportes?

Fabrício – Tenho alguns conselhos. Inclusive, me propus a fazer isso por escrito e já conversei com o senador Artur para ajudar na transição da secretaria. Temos vários bairros sem complexos esportivos, outros precisam ser reformados. Precisamos criar referências de esportes nesses bairros que não existem. E, principalmente, conscientizar a população para manter o que é público. Eu recuperei complexos esportivos que o (ex-prefeito) Serafim (Corrêa) entregou e que na minha gestão já estavam precisando de reforma. Temos que continuar o trabalho de fomento, e os eventos são muito importantes para isso. Divulgar outras modalidades além do futebol, que já é bem divulgado. Eu, particularmente, aconselho criar projetos de referência sub-11 de todas as modalidades esportivas, porque você não constrói um atleta em quatro anos. Temos um projeto muito parecido com isso, que pouca gente tem acesso que é o PAF (Programa Atletas do Futuro). É um programa bancado pela empresa Recofarma, já visando os Jogos Olímpicos de 2020. Temos atletas já sendo acompanhados no tênis de mesa, ginástica numa parceria entre prefeitura e Recofarma. Quem banca a maior parte do programa é a Federação da Indústria. Eu já falei ao (prefeito) Artur que os frutos do esporte não serão colhidos agora. Eu construi um projeto que vai colher frutos daqui há dez ou 12 anos. O próximo secretário tem que estar consciente disso. Não dá mais para tratar a secretaria de Esportes como antes. Não dá mais para ficarmos distribuindo bolas, equipamento, medalhas, troféus e ficar organizando campeonatos nos fins de semana. A secretaria está muito além disso. Agora, é uma coisa que não dá o retorno político, mas nós precisamos começar esse trabalho sério e técnico. Precisa ter começo, meio e fim.

JC – O senhor está falando em Olimpíadas de 2020, mas antes disso, já em 2014, teremos uma Copa do Mundo em Manaus…

Fabrício – Temos que saber surfar a onda da Copa. Temos o exemplo da África do Sul: na Cidade do Cabo o estádio virou um elefante branco. Os problemas começaram já na construção. O estádio foi construído em cima de um campo de golfe, que é o esporte mais popular na cidade. As pessoas já criaram ojeriza ao projeto de início. O estádio só serve para futebol, não tem shows porque está em uma área residencial. Não é uma arena multiuso e ficou obsoleta. Por outro lado, temos o exemplo de Durban, que construiu um estádio com shoppings em volta, com lojas de artigos esportivos. O material da Copa é vendido lá até hoje. Eles criaram uma visita guiada pela cidade e eu participei dessa visita. Onde eram os camarotes da Fifa foram criadas salas de reuniões que transformaram o estádio em um grande centro de convenções. Outra coisa que eu achei super interessante: eles construíram um teleférico no alto do estádio. A pessoa paga para subir no teleférico e de lá de cima se tem a visão da cidade toda. Na outra metade da cobertura, a exemplo da Torre Eiffel, em Paris, construíram uma escada com mais de 300 degraus que a pessoa paga para ter o desafio de subir. São ideias que deram resultado, além de ser uma arena multiuso. Então, nós temos dois exemplos no mesmo país: um que deu certo e um que deu errado. No caso da nossa arena multiuso temos que saber administrar, saber aproveitar os espaços. Vamos ter um centro de convenções construído pelo governo do Estado. Acho que estávamos precisando disso. Vai dar para receber shows grandes que vão para Rio de Janeiro e São Paulo, mas que não vinham pra cá por falta de espaço adequado. Além disso, claro, o futebol. O futebol amazonense pode crescer muito. Eu estou defendendo -estou adiantando isso a você- e criamos estrutura para a realização da Copa Manaus de Futebol Sub-11, como é a Copa São Paulo de Futebol Júnior. Por que sub-11? Porque é aí que a gente começa a formar um atleta. Outro ponto é a questão econômica. Quando uma criança vem à cidade ela nunca vem só. Vem pai e mãe. Às vezes, vem também irmãos, avô, avó, tio, vizinho… Então mexe com tudo. Mexe com a rede hoteleira e de restaurantes. Além disso estamos criando hábitos saudáveis nessas crianças. Se elas não forem campeãs no esporte, serão campeãs na vida.

JC – Na sua opinião, a cidade estará preparada para receber a Copa?

Fabrício – Não tenho dúvidas! Eu vejo o comprometimento do governador. Já vi que a obra da arena está bem adiantada, sendo tocada com muita responsabilidade. O governador já licitou o monotrilho. O prefeito Artur já conversou com o governador sobre o BRT. Nós nunca tivemos sinal vermelho. O Ministério do Esporte trabalha com sinais verde, vermelho e amarelo para cada uma das sub-sedes. Das reuniões que participei estivemos várias vezes no verde, chegamos algumas vezes no amarelo, mas nunca no vermelho, como já aconteceu com Natal, por exemplo. Os prazos passados pelo (coordenador da Unidade Gestora da Copa do Estado – UGP) Miguel Capobiango estão todos sendo cumpridos. Nós não temos tanta pressa porque não participaremos da Copa das Confederações, já no ano que vem, então temos um prazo maior para entregar as obras. Acho que o Artur vai entrar e vai botar uma boa equipe e conseguir dar um bom andamento a isso tudo.

JC – Qual o balanço que o senhor faz de sua passagem pela Semdej?

Fabrício – Se eu pudesse falar do meu momento mais importante dentro da política -e olha que eu já estou há um tempinho na política- eu diria que foi lá. Eu casei a minha vontade de ser atleta com a oportunidade de fazer muita gente, por exemplo, ver a seleção campeã de 1994 aqui. Criamos uma competição que é referência mundial, que é a Copa Brasil de Beach Soccer de clubes, que não existia. Essa ideia foi criada aqui. Hoje, ela existe em outras cidades do Brasil, mas foi criada e concebida por nós. Incluímos o Circuito de Águas Abertas na cidade, resgatamos a corrida Almirante Tamandaré. Tivemos competições de hugby, tênis de mesa, futebol de mesa, corrida infantil, X-Terra. Ao mesmo tempo conseguimos ampliar a questão da terceira idade: quadriplicamos o número de idosos praticando esportes. Promovemos a “Faixa Liberada” na Ponta Negra. Promovemos a discussão pelas ciclovias. O número de ciclistas na cidade aumentou estupidamente. Temos o Pedala Manaus, Jungle Bike. Nós tínhamos dez atletas de triatlo federados em Manaus. Hoje, nós fazemos competições com 150 e ainda fica gente de fora. O grande legado que eu deixo é o hábito de fazer atividades físicas e praticar esportes. Mas, eu fiz isso -e falei isso ao senador Artur- porque eu vivi o esporte. Não dá mais para a secretaria de Esportes ser o local daquele que “não tem mais canto”. Não podemos retroagir. Eu digo a todo mundo que o melhor secretário de Esportes será sempre o que vem depois. O futebol de areia feminino, que hoje é uma realidade, não fui eu que criei. A Olimpíada da Terceira Idade não fui eu que criei. Mas eu adaptei, mantive e dei continuidade. E eu acho que é isso que tem que acontecer. Os projetos são da prefeitura. A Copa dos Bairros, por exemplo, tem a finalidade de integrar os bairros com competições o ano inteiro. Por isso, são jogos de ida e volta, um bairro contra o outro. Nós criamos a Copa dos Bairros de Basquete e a intenção era criar Copa dos Bairros de todas as modalidades. E o próximo passo seria criar essas competições sub-11, que serviriam como laboratórios. Eu fiz um alicerce e acredito que agora é a hora de levantar a obra.

JC – E, pensando nisso, existe a possibilidade de o seu nome voltar a figurar na secretaria de Esportes?

Fabrício – Existe sempre. Eu fui secretário, vejo as pessoas sondando meu nome, conversei com o senador. Eu tenho amor à essa causa. Não estou nisso por aventura ou porque eu quero status. Se eu quisesse status iria ser secretário em uma grande pasta, como a Saúde. Hoje, a secretaria de Esportes é grande, ela existe. Eu estou muito feliz e orgulhoso. Vou te dizer em primeira mão: semana que vem estou indo para Nova York. Vou correr a Maratona de Nova York, e na segunda-feira eu encontro com o sheik de Abu Dhabi, dos Emirados Árabes Unidos, para fechar o Abu Dhabi de Jiu-Jitsu. Nós levamos 11 amazonenses com tudo pago pelo sheik daqui de Manaus pra Abu Dhabi. Eu tenho contatos com as federações japonesas de judô e jiu-jitsu, Federação Olímpica do Canadá de Judô e a Federação de Jiu-Jitsu do Canadá. Então Manaus estar figurando hoje no calendário esportivo. Se você me perguntar se eu tenho intenção de dar continuidade a esse trabalho, eu tenho; ou lá (na secretaria), ou aqui (na Câmara Municipal). Se for daqui, dando suporte, orientação, conversando, apontando caminhos. E caso eu vá pra secretaria, dar continuidade ao trabalho, estou despido de vaidades. Falei com o Artur, nós montamos um projeto para a cidade. Eu quero usar essa minha experiência, ou lá ou aqui. Eu só não quero que não tenha continuidade, e isso eu não vou permitir, já falei para o senador. Essa é minha causa, é no que eu acredito. Não vou permitir que misturem as coisas. Durante muito tempo, as secretarias de Esportes foram alvos de comitês políticos, e ali não é o local para esse tipo de prática. Ali é para se fazer esporte. Esporte não tem religião. Esporte não tem partido. Não tem oposição e situação. Existem as federações e, fortalecendo as federações e as ligas desportivas, conseguimos fomentar o esporte nos bairros e de alto rendimento. Já falei para o senador que vou olhar atentamente o orçamento para o esporte que vai ser votado agora. Temos que ter recursos para construir complexos. Nós andamos muito, mas ainda falta muito para chegarmos ao ideal. Paramos no tempo durante muito tempo. Mas, não por culpa dos secretários e prefeitos que passaram. Foi por questões de prioridades mesmo. Manaus cresceu de uma forma assustadora, e nesta lista de prioridades o esporte acabou ficando meio que de lado. Mas, graças ao esforço de muita gente -e eu ajudei a adubar essa ideia- em 2020 esses frutos vão sair.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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