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O dilema do PT

A eleição é um espaço onde se cristalizam os conflitos das distintas forças que emergem na sociedade moderna e se apresentam sob a forma de partido. Por isso, constitui também um lugar privilegiado para observação empírica de como essas forças políticas se articulam ou se movimentam para atingir seus objetivos estratégicos.
As eleições atuais, sobretudo em âmbito local, têm se caracterizado pela indefinição das composições dos distintos grupos e partidos que tem interesse em disputar os cargos majoritários. Uma dificuldade, cujas raízes parecem estar, para alguns, na incapacidade de aglutinação de forças, e, para outros, na impossibilidade de se chegar a um consenso interno.
Na semana passada foi amplamente divulgado pela imprensa local a nítida divisão envolvendo o Partido dos Trabalhadores (PT) quanto a como deve seguir na disputa para o governo do Estado. A sua decisão anterior de alinhar ao lado de Alfredo Nascimento vem sendo cada vez mais questionada, ao ponto de se admitir encampar duas candidaturas.
Se isso ocorresse com qualquer outra sigla dessas dos partidos tradicionais, muitos dos quais foram criados para acomodar interesses privados, não chamaria tanto a atenção. No entanto, não se está falando de um partido qualquer. Trata-se de uma organização que ao longo de sua trajetória se afirmou perante o público com um perfil de coerência de classe e de um padrão ético inquestionável.
Refere-se a um partido que tem uma rica história de luta e que ao longo dos anos 1980, tornou-se um importante instrumento para aqueles que buscavam transformar profundamente o país. Um partido que cresceu e se desenvolveu por fora das estruturas de poder, questionando as práticas fisiologistas e apontando uma saída que privilegiasse a maioria da sociedade.
O ponto nodal da questão aqui não é se o PT vai de Alfredo ou Omar ou de ambos. A questão que se coloca é como esse partido chegou a esse cenário. Levantar esse tipo de questão talvez seja mais útil para se pensar não como recuperar algo que parece irrecuperável, mas superar essa experiência como alternativa da classe trabalhadora.
O dilema atual do PT aqui, embora possa parecer um escândalo para aqueles que se habituaram com a imagem de um partido coerente, diz muito da domesticação do seu ímpeto mais combativo e de sua afinidade cada vez mais presente ao regime – propondo uma saída nos marcos do capitalismo.
Essa é uma mudança que já vem ocorrendo algum tempo quando o partido começou a administrar as primeiras cidades e que se aprofundou com a ascensão de Lula ao governo do país. Ao se propor governar nos marcos do capitalismo e administrar os conflitos de interesses inconciliáveis, o partido em vez de ser um sujeito de transformação converteu-se num agente de manutenção do status quo.
Os detalhes desse processo mais amplo aparecem nas situações concretas em que o partido está envolvido. Antes mesmo de seu dilema atual em apoiar Alfredo ou Omar, o partido já havia renunciado o seu papel de organizador coletivo das classes trabalhadoras. Em função disso, não hesitou em fazer alianças eleitorais com os setores da burguesia e, até fazer parte de seus governos, a exemplo de sua participação no governo de Eduardo Braga.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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