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Nosso lixo de cada dia

O lixo acumulado nas ruas de Nápoles virou notícia mundial e reacendeu o debate sobre a responsabilidade pela destinação do lixo urbano. Em São Paulo, dois aterros em operação –Bandeirantes e São João– estão com capacidade esgotada. A expansão de um deles é po­lêmica entre os moradores do entorno. Se nada for feito, caminhamos para uma situação similar a de Nova York, que aluga espaços em cinco Estados para mandar o lixo gerado diariamente.
Este cenário reflete a mudança de hábitos da população das últimas décadas. Ao mesmo tempo em que o estilo de vida moderno privilegia o conforto, a conveniência e a praticidade, também estimula a indústria a desenvolver produtos menores e com embalagens descartáveis. E são estes os grandes responsáveis pelo aumento do volume de lixo produzido nos centros urbanos. Só a cidade de São Paulo gera 15 mil toneladas de resíduos por dia. São 1,5 kg diários por habitante.
A destinação do lixo é, sem dúvida, um problema que exige posicionamento do governo. Porém, não é possível nem viável deixar apenas nas mãos da administração pública a missão de encontrar soluções. Entendemos que a prefeitura tem obrigação de implantar a coleta seletiva, incentivar cooperativas de catadores e de reciclagem, promover a educação ambiental, etc.
Mas, de nada adianta uma cidade adotar um sistema eficiente de reciclagem de resíduos se cada morador não fizer a sua parte. A mudança cultural é necessária para que cada cidadão se coloque como parte do problema e também como parte da solução. Segundo o Ibope, 92% dos cidadãos concordam que separar o lixo para a reciclagem é uma obrigação da sociedade, mas só 30% fazem isso.
O incentivo à coleta seletiva é uma das maneiras mais eficazes de tratar a destinação do lixo, porque reduz sensivelmente a quantidade de materiais que não se decompõem facilmente na natureza. O plás­tico, por exemplo, representa 15% do lixo urbano e uma garrafa PET pode demorar 500 anos para se degradar; o papel, quase 30% e, se tiver tinta, pode levar 50 anos para se decompor. O mais assustador é que a cidade de São Paulo recicla menos de 4% de todo o lixo produzido. O Brasil aproveitou apenas 11% de todo o lixo gerado em 2005, segundo o Cempre (Compromisso Empresarial pela Reciclagem). Em Nova York, 18% são reciclados. É muito pouco, considerando que a capacidade mundial de produzir lixo aumenta drasticamente a cada dia.
A boa notícia é que esse trabalho pode ser feito e já é uma realidade em muitas prefeituras, por meio do estímulo à formação de cooperativas para trabalhar com os resíduos. De acordo com dados do Cempre, 43,5% dos programas de coleta seletiva do país mantêm relação direta com cooperativas de catadores. É uma solução eficiente porque ti­ra os catadores da informalidade, au­menta sua renda e os transforma em “agentes ambientais”. O número estimado de catadores em atividade no Brasil beira 800 mil pessoas.
Um dos exemplos bem-sucedidos nesta área é desenvolvido pela prefeitura de São José dos Campos, que implantou um programa de coleta seletiva baseado em cooperativas. Por meio de uma parceria com o Sescoop-SP (Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo Paulista), foram ministradas oficinas para preparar os catadores para trabalhar de forma cooperada. Mais de 40 pessoas foram capacitadas e formaram a Cooperativa Futura, que funciona desde 2005.
Uma coisa é certa: se nada for feito, a convivência com o lixo, a exemplo da assustadora visão dos resíduos nas ruas de Nápo­les, ­poderá se transformar em realidade em mais cidades, inclusive em São Paulo.

EDIVALDO DEL GRANDE é presidente da Ocesp (Organização das Cooperativas do Estado de São Paulo).

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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