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“Esperamos atualizar o conhecimento”

Acaba de ser lançado o livro ‘Amazonian mammals: current knowledge and conservation priorities’ (Mamíferos amazônicos: conhecimento atual e prioridades de conservação), que tem como editor sênior o pesquisador do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia) e líder do Grupo de Pesquisa de Mamíferos Amazônicos, Wilson Spironello, ecólogo, com graduação pela Unesp de Rio Claro e doutorado pela Universidade de Cambridge/UK. Constam no livro mais de 70 artigos de especialistas em mamíferos amazônicos, com dados atualizados sobre a ecologia dos grupos de mamíferos não roedores na Amazônia brasileira. Em entrevista ao Jornal do Commercio, o pesquisador falou mais sobre ‘Amazonian mammals’.

Jornal do Commercio: Quais são os mamíferos personagens de seu livro Mamíferos Amazônicos?

Wilson Spironello: Neste livro atualizamos o conhecimento, excluindo os roedores e marsupiais, da maioria dos grupos de mamíferos que ocorrem na Amazônia brasileira, como morcegos, primatas, tatus, tamanduás, preguiças, carnívoros e mamíferos aquáticos.

JC: Hoje a Amazônia abriga quantas espécies de mamíferos?

WS: Atualmente, são reconhecidas cerca de 800 espécies de mamíferos nativos para todos os ecossistemas do Brasil, distribuídas em 247 gêneros, 51 famílias e 11 ordens: Rodentia (267 espécies), Chiroptera (182), Primates (131), Didelphimorphia (66), Cetartiodactyla (60), Carnivora (37), Pilosa (13), Cingulata (12), Lagomorpha (4), Sirenia (2) e Perissodactyla (1). Cerca de 60% dessas espécies são encontradas apenas na Amazônia brasileira. Neste livro não foi possível incluir os grupos de roedores e marsupiais da Amazônia brasileira, mas atualiza o número de espécies para a maioria dos demais grupos, como morcegos (144 espécies), primatas (128 espécies/subespécies); Xenarthra, representada pelos tatus (22 espécies), tamanduás (10) e preguiças (7); carnívoros (22); e mamíferos aquáticos (7), que são os botos, peixes-boi, lontras e ariranhas.

JC: Dos mamíferos constantes no livro, qual a espécie mais antiga pesquisada pelo Inpa?

WS: Um dos mamíferos mais estudados no Inpa são os primatas (macacos) e os mamíferos aquáticos, como o peixe-boi e os botos.

JC: Qual a espécie mais ameaçada de extinção e por quê?

WS: Uma das espécies mais ameaçadas de extinção é o macaco sauim-de-coleira, (Saguinus bicolor). Esse primata tem uma distribuição geográfica restrita, ocorrendo nos municípios de Manaus, Rio Preto da Eva e Itacoatiara, no Amazonas. Esses municípios têm os maiores polos de desenvolvimento no Estado, principalmente Manaus. Como consequência há um grande avanço na ocupação da terra, seja para expansão urbana como para o agronegócio, resultando em perda e fragmentação do habitat do sauim. Aparte ao sauim, outras 35 espécies de primatas já têm maior ou menor grau de ameaça de extinção, principalmente espécies que ocorrem no arco do desenvolvimento, que além da perda de habitat e fragmentação, as de maior porte como o macaco-barrigudo e o macaco-aranha, também sofrem com os efeitos de caça.

JC: Com o desmatamento incessante, todas essas espécies correm risco de desaparecer?

WS: Nem todas as espécies de mamíferos correm risco de extinção real, mas as espécies de maior porte como anta, veados, porcos, onça-pintada e macacos sofrem com a perda de habitat e caça, podendo levar à extinção local. Por consequência, os predadores de topo, como a onça. Já os que têm distribuição geográfica restrita correm o risco de desaparecer a médio e longo prazo.

JC: Quais os objetivos do livro e para qual leitor é indicado?

WS: O livro é composto por 18 capítulos, com uma grande diversidade de tópicos, tais como o conhecimento atual das espécies de mamíferos amazônicos, lacunas de conhecimento, caça de subsistência, pressão e gestão da caça, ecoturismo, resiliência das espécies à extinção, doenças infecciosas, perda e fragmentação de habitat, e os efeitos das alterações climáticas nas espécies de mamíferos da região alvo. Com ele, esperamos atualizar o conhecimento atual, identificar tópicos, espécies, regiões e habitats pouco estudados, sugerir novas pesquisas e destacar as principais ameaças e prioridades de conservação para os mamíferos amazônicos. Assim acreditamos que essas informações sejam relevantes para despertar interesse de estudantes e pesquisadores, bem como para órgãos públicos e organizações não-governamentais que trabalham com questões ambientais na Amazônia. Além de mim, o grupo de editores foi composto por mais quatro pessoas: Adrian Barnett, Jessica Lynch, Paulo Bobrowiec e Sarah Boyle.

JC: O livro só tem edição em inglês?

WS: A princípio o livro foi publicado em inglês, mas conseguimos uma exceção com a editora Springer que autorizou a inclusão de um resumo em português no início de cada capítulo. Mas não descartamos editar uma versão em português no futuro próximo.

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Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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