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Endividamento se mantém estagnado

Nível de endividamento segue mais alto entre os consumidores com renda familiar igual ou superior a dez salários 

A proporção de consumidores de Manaus endividados com cartões, carnês e outros meios de pagamento estagnou, entre fevereiro e março. A Peic (Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor), da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) revela que 66,9% delas (430.968) se dizem endividadas, praticamente o mesmo do mês anterior (67% e 430.989), e abaixo da marca de 12 meses atrás (68,1% e 432.608). O nível de endividamento segue mais alto entre os consumidores com renda familiar igual ou superior a dez salários mínimos.

Em paralelo, a inadimplência quebrou uma série de cinco altas consecutivas para encolher no mês passado. O índice de negativados passou de 29,7% (190.913) para 28,8% (185.487), entre fevereiro e março, e também perdeu força em relação ao terceiro mês de 2021 (31,5% e 200.283). Ao menos 15,3% (98.840) declararam já não ter condições de quitar dívidas atrasadas, número inferior ao de fevereiro (16,2% e 104.508), mas igualmente aquém do patamar de março do exercício anterior (19,8% e 125.733). Desta vez, os atrasos passaram a ser mais frequentes também entre as famílias mais ricas.

O desempenho do Estado foi melhor do que o da média nacional. A proporção de brasileiros endividados alcançou novo recorde em março: 77,5%. Foi a maior proporção já registrada nos 12 anos do levantamento. Há um ano, essa parcela era de 67,3%. Já o percentual de famílias com contas em atraso (27,8%) alcançou o maior patamar da pesquisa, superando fevereiro de 2022 (27%) e março de 2021 (24,1%). A parcela de consumidores sem condições de pagar os débitos também acirrou na variação mensal e passou de 10,5% para 10,8%.

Na análise da CNC, os números apontam a tendência de alta do endividamento, apesar de os juros de mercado estarem mais elevados e encarecerem o crédito. Dados recentes do BC (Banco Central) informam que as taxas de juros médias nas linhas de crédito com recursos livres às pessoas físicas aumentaram de 39,4%, em janeiro de 2021, para 46,3%, em janeiro de 2022. Já a Fecomércio-AM (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Amazonas) assinala que o endividamento estabilizou em Manaus, em razão da cautela e das dificuldades do consumidor em conseguir crédito. A mais recente sondagem da CNC para o índice de ICF (Intenção de Consumo das Famílias) mostra que, em Manaus, 64,5% delas ainda dizem que o acesso está mais difícil, quando comparado a 2021.

Cartão e comprometimento

A sondagem mostra que houve uma piora relativa, mas não qualitativa no nível de endividamento dos manauenses. Uma fatia ainda maior do que a do levantamento anterior se diz “muito endividada” (39,4%), seguida pelos “mais ou menos endividados” (16,1%) e pelos “pouco endividados” (11,5%). Consumidores com renda total superior a dez salários mínimos (74,4%) figuraram em número bem acima da média do indicador (66,9%) – puxados pelo grupo dos “muito endividados” (35,4%).

Assim como na média brasileira, o cartão de crédito é o principal vilão do endividamento em Manaus, respondendo por 86,5% do bolo das dívidas e com novo predomínio das famílias com mais renda (96,7%). Os carnês (56,3%) seguiram na segunda posição, sendo também impulsionados pelos que recebem mais (67,2%). A lista se completa com cheque especial (26,9%), crédito pessoal (20,5%), financiamentos de carro (19,3%) e de casa (19%), crédito consignado (4,2%), cheque pré-datado (0,7%) e “outras dívidas” (0,1%). 

A situação piorou também nas estimativas de tempo de comprometimento com as dívidas, já que aumentou o percentual dos que estimam levar mais de um ano para tanto –de 42,2% para 43,3%. Em paralelo, a proporção dos devedores comprometidos entre seis meses e um ano (25,6%) e de três a seis meses (16,9%) também aumentou. O oposto aconteceu no grupo dos endividados até três meses (13,1%). 

A renda ficou mais comprometida por juros e inflação. Em média, as famílias manauenses consomem 40% de seus ganhos com dívidas. O grupo dos que recebem mais de dez mínimos seguiu preponderante (41,3%), pelo sétimo mês seguido. A maioria (52,6%) gasta mais da metade de seus ganhos mensais com dívidas. Na sequência estão os que gastam de 11% a 50% (41,3%) e os que limitam os dispêndios a 10% de seus ganhos (4,4%).

Entre os consumidores com compromissos em atraso, os mais pobres (16,2%) superam os mais ricos (6,1%). Só 24,2% garantem que conseguirão quitar integralmente e outros 22,5% estimam que conseguirão pagar apenas parcialmente. Ao menos 23,7% devem há mais de 90 dias –especialmente os que ganham menos (25,9%). A fatia de manauenses com dívidas atrasadas entre 30 e 90 dias (63,2%) ainda é majoritária, enquanto o grupo pendente há menos de um mês responde por somente 13,1% do bolo. Em média, as dívidas das famílias inadimplentes de Manaus estão atrasadas há 61 dias.

“Preocupação dúbia”

Embora ressalte que Manaus segue abaixo da média nacional, o presidente em exercício da Fecomércio-AM, Aderson Frota, pontua que a estabilização no nível de endividamento não é exatamente uma boa notícia, já que seria uma indicação de que o consumidor está segurando gastos, ou mesmo sem crédito para compras. O dirigente lembra que muitos estão desempregados, em vias de perder o emprego, ou mesmo negativados.   

“As dificuldades são impulsionadas pela inflação, que é mais sentida aqui, por conta das distâncias e dos fretes. A esse cenário, soma-se a preocupação dúbia do BC (Banco Central) de continuar aumentando a Selic. Isso tira dinheiro da produção e das vendas, além de produzir desemprego e fazer os governos arrecadarem menos. O comércio vai ter de se reinventar para superar essas dificuldades o mais rápido possível”, asseverou.

“Inflação persistente”

Em texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNC, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, diz que o resultado da Peic reflete a pressão da inflação nos orçamentos. “Essa inflação alta, persistente e disseminada mantém elevadas as necessidades de crédito para recomposição da renda, fazendo com que as famílias encontrem nos recursos de terceiros uma saída para manutenção do nível de consumo”, observa.

No mesmo texto, a economista responsável pela pesquisa, Izis Ferreira, destaca que a retomada do consumo, especialmente de serviços, pelas famílias brasileiras de maior poder aquisitivo, em um ambiente de reajustes de preços, ajuda a explicar o maior uso do cartão de crédito por esses consumidores. Ela considera que o panorama de endividamento elevado deve se manter, dada a continuação da deterioração das condições de consumo, principalmente com inflação persistentemente alta. 

“O crédito continuará caro, com a manutenção dos juros altos por mais tempo, em razão do novo choque nos preços aos consumidores.  Somando-se à fragilidade apontada no mercado de trabalho, a dinâmica da inadimplência dos consumidores nos próximos meses seguirá sendo negativamente afetada”, encerrou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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