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Crise afeta indústrias de eletroeletrônicos em razão da carência de crédito

Jornal do Commercio – Como se pode caracterizar a crise no mercado mundial?

Denise Toledo – Não se trata mais de uma crise financeira em outro país, mas sim de uma grave crise mundial, a maior desde a depressão de 29, que se espalhou com maior ou menor intensidade pelos diversos  países e da qual ninguém vai sair ileso. E as perdas para as empresas podem vir de várias formas.

JC – Quais as influências que essa crise econômica pode trazer para o orçamento das empresas brasileiras?

Denise Toledo – Além dos problemas relacionados ao crédito, que vai ficar mais caro e escasso, ainda se trabalha com a previsão de uma desaceleração da demanda externa e interna, o que pode prejudicar as vendas tanto das exportadoras como das que têm atuação mais voltada para o mercado doméstico.

JC – Então, os importadores serão os mais impactados, caso permaneça essa instabilidade?

Denise Toledo – As empresas importadoras terão de administrar os efeitos do avanço do dólar. Já as que atuam em segmentos que dependem muito do crédito, ainda podem ter dificuldades adicionais na evolução das vendas e dos contratos.

JC – Quais as consequências dessa atual crise para pólos concentradores de indústrias de grande porte, como é o caso de São Paulo e Manaus?

Denise Toledo – O desempenho industrial será afetado por todos os fatores citados. Podemos verificar inclusive o adiamento de projetos por conta da perspectiva de desaceleração da demanda, além das dificuldades que as empresas vão enfrentar para a obtenção de crédito e financiamento. Mas a indústria não será o único setor prejudicado. A agricultura também vai sentir os efeitos da demanda mais fraca, além da baixa de preços de commodities no exterior. No caso da Zona Franca, ainda vale observar a perspectiva de desempenho pior dos setores que dependem mais do crédito, como o de eletroeletrônicos. O ritmo de expansão da indústria, com certeza, vai cair.

JC – É possível considerar que a economia interna está ‘vacinada’ contra crises econômicas nos mercados externos?

Denise Toledo – De modo algum. Desta vez não vamos sofrer abalos como em crises anteriores, porque o país registrou avanços macroeconômicos importantes nos últimos anos. Derrubou a inflação, expandiu o crédito e o consumo doméstico, assim como os investimentos produtivos. Além disso, reestruturou a dívida externa, acumulando reservas de mais de US$ 200 bilhões, e ganhou credibilidade no exterior, o que pode garantir a retomada de um bom fluxo de investimentos, quando a poeira baixar no exterior e diminuir o movimento de aversão ao risco.

JC – E os exportadores? Podem se beneficiar de algum modo?

Denise Toledo – A escassez de crédito no exterior prejudica empresas, bancos menores e exportadores que dependiam bastante de linhas externas. A desaceleração da economia mundial e do comércio vai reduzir a atividade exportadora. Tudo isso vai ter impacto sobre o ritmo de expansão da economia brasileira. Sem esquecer do próprio receio dos empresários com relação às perspectivas futuras, o que pode segurar novos projetos e contribuir bastante para a desaceleração da economia.

JC – O recuo nos valores dos alimentos e do petróleo são indícios do retorno à estabilidade?

Denise Toledo – Os preços estão se desacelerando na Europa e nos Estados Unidos, o que é favorável do ponto de vista da condução da política monetária, pois permite estímulos ao crescimento por meio de expansão da liquidez ou, pelo menos, evita a necessidade de aumentos na taxa de juros. A atenção agora se volta para o crescimento econômico ao invés da inflação, já que se espera um crescimento nulo ou baixo nas economias dos EUA e da União Européia em 2009 (entre 0,2% e 0,6%), o que deve, de alguma forma, afetar os países emergentes, com destaque para os que são fortemente dependentes das exportações.

JC – Com a diminuição do crédito internacional, qual a saída para os exportadores brasileiros?

Denise Toledo – O governo tenta suprir essa carência, com linhas internas que possam atender à demanda, mas o custo tende a ser mais elevado do que o registrado antes do avanço da crise internacional. Tudo leva a crer que o governo federal vai se empenhar no estímulo às exportações, até pra preservar um bom saldo no comércio exterior.

JC – Uma grande parcela de pequenas empresas vem sendo estimulada a se tornar exportadora. A crise pode refrear esse crescimento?

Denise Toledo – Com certeza, por conta dessas mudanças no cenário do comércio internacional.

JC – É possível considerar que a balança comercial dos grandes centros industriais brasileiros no primeiro trimestre de 2009, como São Paulo e Manaus, por exemplo, já está comprometida?

Denise Toledo – A previsão para o ano que vem já vem sendo revista para baixo há um bom tempo. Já se fala em, no máximo, um superávit de US$ 17 bilhões para o país. Alguns analistas contam com menos de US$ 10 bilhões na balança comercial, dependendo da evolução da crise externa.

JC – Como é possível analisar o novo sistema de drawback diante de um contexto global da economia conturbada pela falta de crédito internacional?

Denise Toledo – A iniciativa do governo federal é muito importante e é fundamental para que o país mantenha um constante aperfeiçoamento de regras, se preparando para um ambiente melhor no futuro. Essa crise compromete muito a atual conjuntura dos mercados e as estimativas para o próximo ano, mas não vai durar para sempre.

JC – O novo drawback traz mecanismos que poderão reduzir os custos da produção destinada à exportação. Esse fator é eficiente diante da falta de dinheiro no mercado internacional?

Denise Toledo – Ele não vai funcionar necessariamente diante da falta de dinheiro, mas é uma forma de ampliar a competitividade do produto brasileiro, via redução de custos. Daí servir de estímulo para a indústria nacional.

JC – Quais os investimentos menos arriscados em época de crise como a atual?

Denise Toledo – Os investimentos mais conservadores, atrelados aos juros, de instituições mais sólidas ou mesmo do governo. Não se pode confiar muito em projeções para ativos de risco, já que a conjuntura está mudando com muita rapidez em função da crise e derrubando todas as previsões.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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