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Consumidor ainda está com o modo cautela ainda ativado

Consumidor ainda está com o modo cautela ainda ativado

A reabertura de comércio e serviços em diversos pontos do país e os indicadores econômicos mais generosos de junho trouxeram alguma confiança ao empresariado brasileiro, mas não foram suficientes para tirar o consumidor do modo de cautela. Prevalece o medo de perder o emprego e a expectativa de que a crise da covid-19 pode ganhar sobrevida. A cautela se traduz em uma disposição de consumir menos e apenas o básico. 

O lado bom é que a parcela de endividados diminuiu em relação a maio – de 53% para 45%. O ruim vem da constatação que 30% das famílias ainda dependem de auxílio emergencial para sobreviver, encurtando o horizonte de recuperação. Os dados estão na mais recente sondagem da CNI (Confederação Nacional da Indústria), encomendada ao Instituto FSB Pesquisa. Fontes ouvidas pelo Jornal do Commercio, contudo, apontam Manaus como um ponto fora da curva brasileira.

A pesquisa revela que 67% dos entrevistados acredita que a recuperação econômica ainda não começou e 61% afirmam que a retomada vai demorar pelo menos um ano para ocorrer. Embora a fatia de pessoas que disseram ter perdido renda tenha encolhido de 40% para 31%, nada menos do que 71% afirmam que reduziram gastos mensais desde o início da pandemia.

A menor disposição para o consumo segue em paralelo com a desconfiança em relação ao futuro. O percentual de trabalhadores formais e informais que dizem ter “algum medo” de perder a atividade remunerada também é de 71% – abaixo da marca anterior (77%). Entre os que admitem ter “medo grande” ou “muito grande” de ficar sem emprego, o índice recuou de 48% para 45%.

O levantamento aponta também que o nível reduzido de consumo tende a ser mantido, mesmo após o fim do isolamento social. Para todos os produtos pesquisados, que vão desde itens como roupas, produtos de higiene pessoal até bebidas alcóolicas, eletrodomésticos e eletroeletrônicos, a maioria dos consumidores pretende manter os gastos com eles. Entre os itens que sinalizam maior crescimento de consumo no pós-isolamento estão os itens de vestuário, sendo que apenas 21% dos entrevistados afirmam que pretendem ampliar o consumo de tais produtos.

A fatia de brasileiros endividados encolheu, ao mesmo tempo em que o percentual dos que afirmam que vão conseguir quitar o compromisso aumentou: de 52% para 62%. Entre os 30% que pediram ou estão recebendo o auxílio emergencial do governo, 35% destinaram os valores para liquidar pendencias financeiras e 57% estão usando os recursos para compras. 

“Rumo do crescimento”

No entendimento do presidente da Fieam (Federação das Indústrias do Estado do Amazonas) e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, é natural que a maioria dos consumidores apresente cautela quanto à dinamização das compras, em face da pandemia. O dirigente lembra que apenas sete Estados tiveram redução de casos e mortes, dez estão estáveis e os demais estão em crescimento. E são justamente estes últimos, situados nas regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste, que concentram o maior número de consumidores. 

“Mesmo assim, as vendas têm alcançado números crescentes. Creio que aqui, no Amazonas, o consumo tem um comportamento próximo ao normal, o que é favorável à manutenção do emprego no comércio. Quanto à recuperação da indústria, estamos no rumo do crescimento, mas que só será consistente se a demanda nacional mantiver sua recuperação. Em relação ao auxílio emergencial, seria bom que o Congresso derrubasse os vetos do presidente da República e houvesse a prorrogação”, asseverou.

Fora da curva

O presidente da Eletros (Associação Nacional de Fabricantes de Produtos Eletroeletrônicos), Jose Jorge do Nascimento Junior, avalia que, embora o cenário atual esboçado pela sondagem da CNI já tenha sido antecipado de alguma forma pela indústria, o futuro imediato da economia brasileira ainda é imprevisível. O dirigente acrescenta, contudo, que Manaus é um ponto fora da curva, com vida praticamente normal e bem diferente do restante do país.

“Mesmo que junho tenha demonstrado algum tipo de crescimentos de 3% a 10% para alguns setores, ninguém sabe se isso vai ser sustentado nos próximos meses, ou se era uma demanda reprimida que se expressou quando alguns mercados brasileiros reabriram, no fim de uma quarentena mais flexível. Sentimos que o consumidor está bem receoso de voltar para as compras. Manaus pode até ter um crescimento diferenciado no consumo, mas o padrão brasileiro não é esse. Temos que aguardar para entender”, ponderou.

Incertezas renovadas

Na avaliação do presidente do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Francisco de Assis Mourão, a sondagem da CNI traça um quadro nada positivo para a economia brasileira e mesmo o fato de o endividamento ter caído é a confirmação do estreitamento do consumo, fato que aponta para uma recuperação econômica mais lenta do que o esperado, em um ambiente de incertezas renovadas. 

“Ninguém sabe dizer como vai ficar a situação quando acabar a vigência do auxilio emergencial. Acredito que o governo vai ser pressionado a prorrogar o programa. Por outro lado, temos a sinalização de que a economia vai continuar girando devagar, porque o consumidor que ainda tem alguma esta preocupado em reduzir gastos. E há a perspectiva de mais dificuldades para as empresas, que terão custos operacionais maiores com demanda menor”, resumiu.   

Agenda de retomada

No texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNI, o presidente da entidade, Robson Braga de Andrade, arrisca dizer que o pior da crise da covid-19 pode ter ficado para trás, mas salienta que a pesquisa reforça a “enorme importância” de construção de uma agenda consistente para retomada das atividades produtivas e do crescimento do país. 

“Recuperar a confiança brasileiro, para que ele volte a consumir, é de suma importância para acelerar esse processo. Também é fundamental dar andamento às reformas estruturais e atacar os problemas que aumentam os custos de produção e diminuem a capacidade da indústria brasileira de competir e gerar emprego e renda para os brasileiros”, encerrou.  

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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