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Comerciantes estão mais otimistas no AM

Reportagem: Marco Dassori

Twitter: @marco.dassori

O otimismo dos comerciantes de Manaus voltou a crescer em agosto, na contramão da média nacional. O entendimento é que os estímulos anticíclicos governamentais ainda ajudam a demanda atravessar as altas da inflação e dos juros, apesar das vendas terem sido menos aquecidas do que o esperado, no mês do Dia dos Pais. Com isso, a percepção dos lojistas locais sobre a situação atual da economia brasileira, do comércio e da empresa seguem no azul. A aproximação de datas comemorativas caras ao setor também ajuda a melhorar as expectativas e a intenção de contratar, embora a disposição de investir tenha sofrido refluxo. 

A conclusão vem da análise dos dados locais do Icec (Índice de Confiança do Empresário do Comércio), pesquisa da CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo) realizada com 6.000 empresas brasileiras. O indicador registrou 135,7 pontos em Manaus, sendo que valores acima de 100 indicam satisfação. O número superou em 1,42% a marca de julho (133,8 pontos) e foi 9,52% melhor do que o dado de 12 meses atrás (123,9 pontos). Em contraste, a média brasileira caiu 1,8%, totalizando 124 pontos. Foi o primeiro resultado negativo após quatro meses de alta. No confronto com agosto de 2021, entretanto, a confiança avançou 7,8%.

Em comunicado à imprensa, a CNC informa que, no âmbito nacional, tanto a avaliação das condições atuais (-2,3%), quanto as expectativas para os próximos meses (-2,4%), andaram para trás em agosto, sendo que a perspectiva da economia no curto prazo (-3,1%) teve a maior diminuição. A entidade empresarial observa também que a percepção dos lojistas piorou na mesma medida do encolhimento das vendas apontado pelo IBGE, em junho (-2,3%), com decréscimos em nove dos segmentos pesquisados no varejo ampliado –a exceção veio de farmácias e perfumarias (+1,3%).

A pesquisa da CNC mostra, por outro lado, um panorama global melhor entre os comerciantes de Manaus, embora o Amazonas também tenha desempenhado mal nas vendas, na variação mensal de junho (-1,8%). Mas, quatro dos subcomponentes do indicador mostraram piora, com destaque para as expectativas do comércio (-1,5% e 164,5 pontos) e das empresas comerciais (-0,8% e 170,9 pontos), seguido pelo nível de investimento das empresas (-0,5% e 125,3 pontos) e pela avaliação sobre a situação atual dos estoques (-0,3% e 95,5 pontos) –o único dado de insatisfação da lista.

No extremo oposto, o otimismo dos comerciantes da capital amazonense melhorou principalmente na percepção das condições atuais das empresas (+7,4% e 137,4 pontos), da economia brasileira (+4,3% e 103,4 pontos) e do comércio (+4,1% e 126,3 pontos). Na sequência estão o indicador de contratação de funcionários (+1,4% e 142,6 pontos) e as expectativas em relação à economia (+0,7% e 155,1 pontos).

Contratações e investimentos

Aumentou o percentual de varejistas locais que consideram que a situação atual da economia brasileira “melhorou um pouco” (39,7%) e que “melhorou muito” (16,8%), enquanto a proporção de empresários que consideram que a economia piorou um pouco” (20,5%) ou piorou muito” (23%) diminuiu na mesma comparação. A confiança é mais forte entre as empresas com mais de 50 empregados (124,2 pontos) e as que vendem bens duráveis (121 pontos). As avaliações majoritárias sobre as condições atuais do setor e da empresa também são de melhora relativa (52% e 49,4%) e também expandiram.

A pontuação média das expectativas dos comerciantes ainda é a mais favorável do que a da percepção do momento atual, seguindo acima dos 150 pontos. Desta vez, a maioria aposta que a economia brasileira vai “melhorar muito” (44,4%), ou pelos menos “melhorar um pouco” (41,9%), ao passo que apenas 6,8% acreditam que vai “piorar um pouco” ou que vai “piorar muito”. As avaliações que pesam mais para o setor e para a empresa também são de progressos mais significativos (47,4% e 54,9%, respectivamente), em detrimento das melhoras parciais (44,8% e 39,9%).

A parte majoritária dos comerciantes locais ainda aponta que as contratações devem “aumentar pouco” (64,7%), seguida de longe pelos 20,1% que avaliam que pode “aumentar muito”. A projeção predominante para investimentos ainda é que estes sejam “um pouco maiores” (48,9%), embora 21,7% digam que o aporte será “um pouco menor”. Sobre os estoques, 63,2% consideram que este está “adequado”, mas 20,2% indicam que está acima dessa marca, e outros 15,6%, que está abaixo –contra 62%, 20,5% e 16,3%, em julho. 

Inflação e juros

O assessor econômico da Fecomércio-AM, Enio Ferrarini, avalia que o resultado negativo do ICEC em âmbito nacional foi uma surpresa, dado que o mercado aguardava por uma variação positiva em decorrência dos “recordes positivos” apresentados pelos indicadores econômicos do Brasil e sua posição de “destaque mundial na recuperação econômica”, em tempos de Covid e guerra na Ucrânia. “Como vimos, esse recuo no otimismo contrasta imensamente com o ciclo virtuoso que os indicadores econômicos vêm registrando. Este leve recuo pode ser visto mais como cautela pela agudização do cenário internacional com risco de reflexos sobre nossa economia”, frisou, sem mencionar os dados locais.

Em texto distribuído pela assessoria de imprensa da CNC, a economista responsável pela análise da pesquisa, Izis Ferreira, salienta que as expectativas para o desempenho do comércio apresentaram queda em todas as regiões do país, o que não acontecia desde a segunda onda da Covid-19. Embora a região Norte (165,8 pontos) tenha registrado a pontuação mais elevada, também sofreu a maior redução (-3,3%). “A diminuição das expectativas ocorreu mesmo que seus empreendimentos estejam situados nos Estados onde foram destinados os maiores valores médios pagos pelo Auxílio Brasil”, observou.

No mesmo texto, o presidente da CNC, José Roberto Tadros, salienta que, mesmo com a redução das expectativas, a comparação anual mostra que o comerciante brasileiro está mais otimista com o futuro no curto prazo do que em anos anteriores. O dirigente concorda, no entanto, que as medidas federais de injeção de recursos na economia e no comércio estão sendo limitadas pelo impacto da inflação e dos juros nos orçamentos familiares. “O consumidor está mais cauteloso com os gastos, principalmente as famílias de menor renda”, finalizou, acrescentando que os níveis de endividamento e de inadimplência também podem reduzir o impacto positivo das transferências de renda.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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