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Remédios milagrosos

O mundo anda assustado com o vírus da Covid-19, já foram mais de 100 milhões de contaminados com mais 2 milhões de mortes. O início das vacinações em vários países faz surgir a luz no fia pandemia, que dura quase um ano, pode estar a caminho do seu final em alguns meses.

Fundamentais para combater doenças as vacinas ajudaram a reduzir nas sociedades as incidências inúmeras enfermidades e são consideradas a forma de prevenção e tratamento com melhor custo-benefício em saúde pública. Os primeiros vestígios do uso de vacinas, segundo a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), foram relacionados ao combate à varíola no século 10, na China. Os Chineses trituravam cascas de feridas provocadas pela doença e assopravam o pó sobre o rosto das pessoas. 

Detalhando sobre o uso de cascas de feridas o historiador da ciência Roberto de Andrade Martins da Universidade, de São Paulo, autor da obra ‘Contágio: história da prevenção das doenças transmissíveis’, conta que uma monja chinesa vivia como eremita em uma montanha próxima ao Tibet. Para proteger as crianças, preparava um pó utilizando cascas secas das feridas de varíola, que eram pulverizadas e misturadas com uma planta chamada Uvularia Grandiflora. O pó era soprado na narina de crianças sadias, utilizando-se um canudo de prata e, após alguns dias, os pacientes desenvolviam uma forma branda de varíola, recuperavam-se e ficavam protegidos durante o resto da vida contra a doença.

O homem então sempre buscou formas de prevenção e imunização contra as doenças que afetava, e ainda afetam, a sua saúde. Da crença que doenças vinham de castigos divinos ou sobrenaturais até se chegar à descoberta de que microrganismos eram as causas de diversas enfermidades transmissíveis, inúmeras estratégias foram utilizadas para o desenvolvimento de diferentes ‘vacinas’, termo que surgiu de uma experiência feita pelo médico inglês Edward Jenner com a inoculação do vírus causador da varíola bovina, chamado Variolae vaccinae, em um garoto.

 Experiências começaram a criar as chamadas vacinas da primeira geração, produzidas a partir de microrganismos vivos e atenuados, mortos ou inativados. Com a noção de que, em alguns patógenos, a proteção vacinal poderia ser obtida após a indução de anticorpos voltados para um único alvo, como uma toxina, responsável pelos sintomas da doença, surgem as vacinas de segunda geração. A mais recente geração de vacinas, a terceira, surge a partir do momento em que se passa a entender a informação genética do patógeno e como combate-lo, são as vacinas de DNA.

De um sopro com pó de casca de feridas, inspirado por forças divinas, até se chegar ao entendimento cientifico do DNA dos agentes causadores de doenças passamos por vários momentos pandêmicos que ceifaram milhões de vidas e, curiosamente, nesse caminho muitos remédios e curas miraculosas foram utilizadas como solução para as mais diversas e mortais doenças.

Chamada de “mãe das pandemias” a ‘gripe espanhola’ foi uma onda mortal que atingiu a humanidade nas primeiras décadas do século XX, matou de 50 a 100 milhões de pessoas em 1918 e 1919 e o Brasil não passou ileso por ela, foram 35 mil mortos. Quando começou com a mortalidade pela gripe, iniciou-se o pânico e os falsos tratamentos. Acreditava-se que a cachaça poderia curar porque esterilizava a garganta ou gargarejo com substância de eucalipto, ou alho ou limão.

Em Manaus a gripe começou a ser noticiada nos jornais locais em outubro de 1918 com relatos da “terrível epidemia” que atingia vários estados brasileiros. Os primeiros casos da gripe espanhola em Manaus foram relatados no dia 24 de outubro de 1918, em soldados da “Força Policial do Estado-Auxiliar do Exército Activo recolhidos a respectiva enfermaria do Hospital de Misericórdia, pelo médico Dr. Alfredo da Matta”, segundo a publicação trimestral ‘Amazonas Medico’ da Sociedade de Medicina e Cirurgia do Amazonas, Anno II, V.II, Nº5, de 1919.

Antes e depois dos primeiros casos da Gripe Espanhola, provocada por uma mutação do vírus influenza, vários remédios milagrosos com a capacidade de curá-la eram divulgados no Jornal do Commercio e muitos eram curiosos. A Tabacaria Boer, localizada à época na Avenida Eduardo Ribeiro, oferecia ‘Cigarros Antisepticos’ como ‘o preventivo da influenza’, aromatizante do hálito que tornava a boca perfeitamente asséptica, impedindo assim a entrada e proliferação do micróbio da gripe. Já o ‘Pó Asiatico de Carvalho’, era o medicamento de ação eficaz na asma e suas diversas manifestações, além de combater a Influenza. Com a mesma eficiência tinha também o ‘Xarope de Alcatrol’.

A ‘Phamacia Cesario’ na Rua Marcílio Dias oferecia o ‘Funkus’, admirável remédio para curar a influenza, também tratável em pouco tempo com o remédio ‘Corysina Palhano’, vendido na ‘Pharmacia do Povo’. Mais eficiente ainda era os ‘Pós Louis Legras’ com resultados maravilhosos em menos de um minuto de tratamento e o Laxativo Bromo Quinina que fazia desaparecer a causa, curando ‘promptantemente’ Constipações, Influenza e Gripe.

Ao final da Gripe Espanhola foi possível constatar o aparecimento de remédios jamais vistos e, que durante a pandemia, ganharam atribuições curativas para a influenza por conta da falta de respostas mais consistentes da medicina da época para combater a doença. Então, se olharmos por esse prisma da Gripe Espanhola, não podemos ser tão rigorosos com aqueles que acreditam em cloroquina, ivermectina, gargarejo de água morna com limão, alho, chá de boldo e tantos outros ‘remédios’ que apareceram prevenir e tratar o vírus da Covid-19. 

Na nossa atual realidade a ciência é muito mais eficaz e em um ano criou várias vacinas para combater o vírus da Covid-19. Para entender a evolução da ciência a vacina contra o Sarampo levou 10 anos para ser criada, contra a catapora 42 anos, conta Hepatite-B 26 anos, contra a Pólio 47 anos, contra meningite 93 anos e contra o rotavírus 33 anos. Talvez não haja mais espaço para o curandeirismo ou fake news sobre remédios milagrosos. A ciência já provou sua eficiência.

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