26 de julho de 2024
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Furo na dignidade

O período de pandemia tem sido algo muito além de um simples período de sofrimento e desgraça com elevado número de vidas ceifadas. Este período tem mostrado elementos positivos e negativos da própria índole humana diante de uma situação social, onde a visão grotesca de pessoas morrendo por falta de leitos ou até mesmo pela falta de oxigênio, como agora em Manaus, nos faz questionar o valor da tecnologia e do progresso humano.

Durante todo o processo crítico da pandemia da Covid-19 o mundo esperou pela vacina como uma âncora salvadora, que os cientistas conseguiram colocar à disposição em um tempo recorde. Neste ponto a tecnologia e a capacidade humana foram irrefutáveis e dignas de todo o reconhecimento mundial, pois chegaram a duvidar da capacidade de colocar uma vacina tão poderosa à disposição do público em um período inferior a quatro anos.

Logo surgiu o problema brasileiro que, na mistura das necessidades humanas e a gestão pública com os interesses político-ideológicos, deixaram passar o tempo de se preocupar com a logística da vacina e ficamos para trás na produção e distribuição das mesmas. Lembrando que o Brasil tem dois dos maiores Institutos produtores de vacinas do mundo, o Butantan e o Fundação Osvaldo Cruz, sendo pioneiro na erradicação de doenças que fizeram a miséria mundial em décadas passadas.

Quando finalmente a vacina chegou e foi liberada, em doses insuficientes, começou um processo que infelizmente é uma chaga social em nosso país. Em primeiro lugar a determinação dos “grupos prioritários” que receberiam as doses das poucas vacinas disponíveis. A lógica determinaria de cara que os profissionais da área da saúde deveriam ser os primeiros e ÚNICOS vacinados, não apenas pelo fato de estarem na atividade de SALVAR VIDAS como pela dependência dos outros grupos da atuação destes profissionais.

Estaria eu menosprezando outros grupos como os idosos por exemplo? Não, simplesmente creio sinceramente que a lógica de limitação de doses de vacina deveria colocar este grupo na espera da produção ou recebimento de uma quantidade adicional para começarem sua imunização. Da mesma forma os indígenas, colocados como prioridade por uma questão puramente ideológica e política, pois deveriam esperar assim como os idosos.

No entanto, mesmo com as distorções as vacinações foram iniciadas e o procedimento brasileiro da falta de caráter público acabou se revelando novamente e, desta vez infelizmente, mexendo com a vida de pessoas. Estou me referindo ao processo de “Fura Fila” que foi revelado aqui em Manaus, porém se mostrou em quase trinta municípios brasileiros. A figura de um secretário de saúde em Minas Gerais que furou a fila sem ser do grupo de prioridades e ainda por cima mandou vacinar sua esposa justificando que “estava cuidando de seu grande amor! ”, foi algo tão patético quanto imoral e criminoso. 

Os casos foram os mais diversos, porém a questão se resume a uma só: o crime cometido contra a honra daqueles que deveriam receber a vacina e foram atropelados por pessoas insensíveis que se apropriaram de seus cargos para roubar um direito inalienável dos cidadãos que verdadeiramente mereciam.

A questão fica mais complicada pelo fato de haver aquela sensação dominante nos brasileiros e, infelizmente, já incorporada pela sociedade, de que estes crimes hediondos não vão dar em nada. A justiça não tem mais a credibilidade do povo para cumprir seu papel de punir quem comete os crimes. E exatamente esta sensação de IMPUNIDADE é que está alavancando cada vez mais a onda de corrupção e de crimes financeiros na máquina pública brasileira.

Existia um mote que dizia “A justiça tarda mas não Falha !” . No caso do nosso país, isso mudou para “ A JUSTIÇA TARDA E FALHA! “ Fica muito difícil conviver com uma situação como essa, onde as pessoas continuam morrendo asfixiadas pela falta de planejamento para providenciar oxigênio aos hospitais enquanto os gestores públicos a cada compra efetuada desviaram milhões de reais que seriam suficientes para salvar metade daqueles que partiram. Estes desvios até hoje não foram punidos pela justiça e o sistema de Saúde colapsado e totalmente destroçado de Manaus continua disponível para os chefões vacinarem suas famílias enquanto aqueles que realmente precisam morrem pelos corredores dos hospitais. ISSO QUANDO CONSEGUEM ENTRAR!

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