Os servidores da Suframa se reuniram nesta segunda-
feira pela manhã para debater acerca da 2º proposta
enviada pelo governo federal, na última sexta-feira
buscando o fim da greve da Suframa. No entanto a
proposta foi considerada “uma afronta” pelo sindicato,
que acusa o governo federal de descaso com a autarquia
e diz estar sofrendo ameaça de corte no ponto.
Em greve há 35 dias, o presidente do Sindframa
(Sindicato dos Funcionários da Suframa), Estênio
Garcia, classifica como “indecente” as duas propostas
enviadas pelo governo federal. “A primeira se referia
a um estudo que não teria impacto financeiro até 2015.
Isso não é proposta. Mandamos uma contraproposta e
veio algo mais absurdo ainda. Subiram o prazo de 180
dias para 210 dias”, reclama.
A proposta do governo federal propõe a criação de um
grupo de trabalho, com duração de 210 dias, para gerar
um relatório que serviria de base para futuras
negociações quanto à possibilidade de reajustes
salariais. O vice-presidente do sindicato, Anderson
Belchior, afirma que o grupo de trabalho não teria
nenhuma utilidade. “Ele não tem o objetivo de elaborar
uma proposta concreta de reestruturação. É pior que a
anterior de 180 dias”.
Ainda pela manhã o superintendente da Suframa, Thomaz
Nogueira, realizou uma reunião a portas fechadas com
os servidores, onde se comprometeu com a criação do
grupo técnico, que envolveria o Ministério do
Planejamento, e discutiria não só um reajuste de
salário mas uma reestruturação na autarquia. “Nós
precisamos ter apenas um realinhamento das
renumerações da Suframa. Devemos ter um outro patamar,
dada a realidade de defasagem da Suframa. Isso seria
uma proposta efetivamente estruturante que pudesse pôr
a Suframa, nos próximos anos, apta a desenvolver o
seu papel de controladora do desenvolvimento
regional”, comenta.
Segundo o superintendente, ele tem a palavra do
Ministro interino do Mdic (Ministério da Indústria,
Desenvolvimento e Comércio), Mauro Borges. A proposta
apresentada pelo superintendente não exigiria a
assinatura de um termo de comprometimento, o que
possibilitaria aos servidores retomarem a greve dentro
de 90 dias, caso não estivessem de acordo com os rumos
tomados pelo grupo de trabalho.
A nova proposta também foi rechaçada pelo sindicato,
que exige ser ouvido pelos Ministérios. “Acordo é
acordar e não mandar termo aditivo que não dá
oportunidade de conversar. Queremos sentar e
conversar, mas o governo se nega a isso. Demoramos 30
dias pra ter algum impacto em Brasília. Ninguém
voltaria a trabalhar depois de 35 dias de paralisação
com ameaça de corte de ponto sem que tivesse alguma
garantia, o que não nos deram. A palavra do
superintendente nós já temos faz dois anos e nada
acontece porque foge à alçada, isso é com o Ministério
do Planejamento”, rebate.
Corte de ponto
O Sindicato também acusa o governo de estar ameaçando
realizar corte no ponto dos servidores que participam
da greve. Segundo o sindicato a medida é ilegal e
serão tomadas as medidas cabíveis caso aja algum
corte. “Ele pediu para que a imprensa se retirasse do
auditório por que teve ameaça de corte de ponto. Já
estudamos as medidas judiciais. O ponto só pode ser
cortado depois da declaração de ilegalidade da greve,
o que não há. Se houver corte de ponto vamos entrar
junto ao STJ ou STF como medida ilegal e
inconstitucional. Já havia ameaças. Achamos uma ameaça
infundável e incabível e decidimos manter a greve”,
explica Anderson Belchior.
Comércio
O vice-presidente do sindicato também afirmou que os
grevistas irão provar judicialmente que estão
liberando os 30% referente ao comércio. “Fazemos a
liberação, mas a prioridade são alimentos e remédios.
Semana passada a liberação foi de 60%. Não vemos
fundamento nas acusações. Esse desabastecimento,
entendemos que é o lucrativo, como calados e
informática, mas nós cumprimos tudo que nos foi
submetido”, destaca.
O diretor do Sindframa, Sidney Nunes, afirma que há a
necessidade de se terem critérios sobre o que será
liberado, já que não estão trabalhando com a força
total de funcionários. “Querem que liberem 30% para o
comércio, mas isso já acontece. Cumprimos as decisões
judiciais. O bom senso diz que se priorize
medicamentos e alimentação e continuaremos liberando
apenas isso para o comércio. A prioridade para o
comércio são os produtos mais básicos”.
Cronologia
5/02 – Assembléia geral extraordinária é realizada
pelos servidores da Suframa para deliberar sobre a
greve, que foi acatada unanimemente.
11/02 – A decisão da greve é comunicada oficialmente
às autoridades governamentais e entidades de classes
empresariais. Na época foi firmado o compromisso de
que o desembaraço de medicamentos, materiais
hospitalares e alimentos de primeira necessidade
continuariam sendo feitos.
14/02 – O Sindframa entrega carta a presidente Dilma
Rousseff, que visitava Manaus.
19/02 – Tem início a greve dos servidores da Suframa.
14/03 – Quase um mês depois do início da greve, os
representantes do Sindframa são ouvidos pelo líder do
governo no Senado, senador Eduardo Braga (PMDB).
17/03 – É encaminhada a primeira proposta do governo
federal ao Sindframa. A proposta foi rejeitada pelo
sindicato por não conter valores para vencimento
básico, nem gratificação e não conter uma garantia de
que os pleitos seriam atendidos.
19/03 – O Sindframa encaminha uma contraproposta ao
governo federal.
21/03 – Na última sexta-feira o governo encaminha uma
resposta aos servidores, com a proposta de criação de
um grupo de trabalho, a se desenvolver no prazo de 210
dias.
24/03 (9h) – Na manhã de ontem, os servidores se
reuniram e decidiram não acatar a nova proposta do
governo federal, e exige ter garantias vindas do
Ministério do Planejamento.
24/03 (11h) – O superintendente da Suframa, Thomaz
Nogueira, se reúne com os servidores, sem a presença
da imprensa, para reiterar o posicionamento do governo
federal. Com a criação de plano de reestruturação de
carreira para os servidores, a ser discutido durante
2014 e entrando em vigor em 2015.
24/03 (12h) – Em votação, realizada com a presença da
imprensa, os servidores decidem de forma unânime, que
não haviam garantias para seus pleitos e mantém o
posicionamento de serem ouvidos pelos ministros. A
greve segue sem prazo para o fim. O sindicato também
acusa o superintendente, Thomaz Nogueira, de ter
ameaçado corte de ponto dos funcionários, medida
considerada ilegal pelo Sindframa.