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Juros aumentam nos bancos e sinalizam seguir subindo

Os juros dos financiamentos bancários escalaram pelo nono mês consecutivo, em agosto. Ao contrário do ocorrido em julho, o crédito para as pessoas jurídicas voltou a puxar a alta, embora o aperto também tenha sido significativo para as pessoas físicas. É o que revela a pesquisa mensal da Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade), que aponta a maior aversão ao risco nos bancos e os aumentos da Selic como motivos para o reajuste. A entidade, por sinal, prevê uma nova subida na taxa básica, amanhã, ao final da reunião do Copom. 

As estatísticas mais recentes do Banco Central, por outro lado, indicam que o novo reajuste foi precedido por um repique nas taxas de inadimplência e por aumento nas concessões para consumidores e retração para empresas, nas operações de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional). A expansão ocorreu principalmente no cartão de crédito e nos créditos consignado e pessoal. Entre as empresas, as modalidades de financiamento de veículos, capital de giro e antecipação de faturas de cartão de crédito – especialmente em varejo e serviços – ajudaram a minimizar a queda.

De acordo com a Anefac, o acréscimo no custo de dinheiro pesou mais sobre as pessoas físicas, que amargaram reforço de 1,17% no custo do dinheiro, reposicionando a taxa do empréstimo de 5,99% para 6,06% mensais – o patamar mais elevado desde dezembro de 2019. Para as pessoas jurídicas, o incremento foi de 1,56%, passando de 3,20% (julho) para 3,25% (agosto) ao mês – o maior valor desde setembro de 2019. Com a nova correção, as respectivas taxas anuais ficaram em 102,59% e 46,78%.

A linha de crédito com maior alta mensal para as pessoas físicas voltou a ser o cartão de crédito (+1,63%), que passou de 12,30% para 12,50% ao mês e segue com a maior taxa do ranking. Foi seguida pelo empréstimo pessoal em bancos (+1,47%), que chegou a 3,45% mensais, e o CDC para financiamentos de automóveis, que foi para 1,58% ao mês. Na sequência estão o empréstimo pessoal em financeiras (+0,62%), o cheque especial (+0,54%) e os juros do comércio (+0,41%) – cujas taxas se situaram em 6,52%, 7,42% e 4,86%. 

Do lado das pessoas jurídicas, o maior reajuste ocorrido entre julho (1,40%) e agosto (1,45%) se deu no financiamento para desconto de duplicatas, que ficou 3,57% mais caro e voltou ao topo do ranking. O crédito para capital de giro, que havia liderado a lista no mês anterior, foi para o segundo lugar, com taxa mensal de 1,30% e incremento de 3,17% ante o levantamento anterior. Embora tenha registrado o menor acréscimo (+0,72%), a conta garantida também segue como a modalidade mais onerosa ao mês (6,95%), para esse tipo de público.

Inadimplência e Selic

Vale notar que o aumento segue em ritmo mais acelerado do que o dos juros básicos da economia. A Anefac informa que, considerando todas as elevações e reduções da taxa Selic (5,25% ao ano) promovidas pelo Banco Central desde março/2013 (7,25%), a taxa básica de juros caiu 27,59%, em mais de oito anos. No mesmo período, o custo médio do dinheiro para pessoas jurídicas ficou 7,34% mais caro. Para as pessoas físicas, a elevação chegou a 16,62%.

Em material divulgado pela assessoria de imprensa da Anefac, o vice-presidente de estudos e pesquisas da entidade, Miguel José Ribeiro de Oliveira, reforçou que as novas elevações das taxas no crédito bancário podem ser atribuídas ao aumento dos juros futuros no mercado financeiro e às expectativas de mais aumentos da Selic frente ao comportamento da inflação. Pressionado pelo aumento do preço dos combustíveis, o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) bateu novo recorde e agosto, ao subir 0,87%, o maior resultado para o mês, desde 2000.

Outros fatores citados pelo dirigente são o anúncio da elevação da alíquota de CSLL (Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido) para instituições financeiras e uma “provável” nova elevação nos índices de inadimplência – favorecida pelo fim das carências nos empréstimos, “desemprego elevado”, redução ou corte dos benefícios do auxílio emergencial, aumento da inflação e maior seletividade dos bancos para emprestar. Diante do maior risco ao crédito e das incertezas da economia, Oliveira avalia que a tendência dos próximos meses é que as taxas de juros devem prosseguir e trajetória de expansão. 

O BC ainda não divulgou os dados de agosto, mas sabe-se que a inadimplência nas operações de crédito com recursos livres do SFN, voltou a subir em julho, após a queda anterior. Para as pessoas jurídicas, ela avançou de 1,61% para 1,63%, além de ficar aquém de julho de 2020 (1,85%) – já em um período de reabertura pós-primeira onda. O mesmo se deu para as pessoas física, onde a taxa aumentou de 4,03% para 4,10%, e encolheu ante o patamar de 12 meses atrás (5,12%). 

O mesmo BC indica que o saldo brasileiro das operações de crédito do SFN apontou resultados diferentes para consumidores e empresas. Para as pessoas físicas julho (R$ 190,221 bilhões) foi um pouco melhor (+0,36%) do que junho (R$ 189,533 bilhões) e 26,72% superior ao sétimo mês de 2020 (R$ 150,112 bilhões). Para as jurídicas (R$ 165,987 bilhões), houve um tombo de 13,88% diante do mês anterior (R$ 192,746 bilhões) e elevação de 21,86% em relação ao mesmo mês do ano passado (R$ 136,205 bilhões). 

“Intervenção no câmbio”

O consultor empresarial, professor universitário e conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Francisco de Assis Mourão Júnior, concorda que a inflação “no patamar de dois dígitos” e a escalada Selic estão pressionando os juros bancários para cima, além da maior aversão das instituições ao risco de um estouro na bolha do endividamento. O economista destaca, no entanto, o papel preponderante do câmbio na alta do IPCA e dos juros básicos, em um ambiente de menor consumo das famílias e exportações em alta. 

“A pressão inflacionária vem dos custos, como os encargos sobre combustíveis e os efeitos da crise hídrica, dada a necessidade de contratação de termoelétricas. No aspecto macroeconômico, vemos uma diminuição da oferta da carne e de outros alimentos, por conta da alta do dólar e do incentivo às exportações, com a demanda se mantendo constante. A alta na Selic também busca valorizar o real. No longo prazo, se essa inflação continuar nesse patamar, provavelmente teremos uma intervenção do Banco Central no câmbio. Por enquanto, ainda se espera uma resposta do mercado”, arrematou.

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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