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Ausência de obras públicas afeta setor de construção do Amazonas

As construtoras do Amazonas levaram um banho de água fria no terceiro trimestre de 2021, a despeito da chegada do verão e da entrada da vazante. A expectativa era que a sazonalidade positiva, aliada ao avanço da vacinação e o recuo nas estatísticas locais da covid-19, ajudasse a alavancar os negócios. Segundo o Sinduscon-AM (Sindicato da Indústria da Construção do Estado do Amazonas), contudo, as obras públicas estão em estado de semiparalisia, levando as empresas a dependerem essencialmente do mercado imobiliário – que segue relativamente aquecido – para fechar o ano no azul. 

Mas, as altas da inflação e dos juros, assim como os efeitos indiretos da instabilidade política, entre outros fatores, já começam a fazer sombra sobre o balanço das construtoras amazonenses. A ‘tempestade perfeita’ se completa pelos efeitos indiretos de um eventual calote da mega-incorporadora chinesa. O temor é que, caso o passivo de US$ 300 bilhões da empresa asiática de fato não seja honrado, gere uma debacle que faça sumir uma quantidade expressiva de fornecedores para a atividade, em um contexto que já é de desarticulação da cadeia mundial de suprimento.

“Na realidade, não há novidades nas obras públicas. O governo estadual só está investindo no interior e em algumas obras viárias. Empreendimentos de volume, que de para muita costura não tem, está tudo parado. E o município tem muitos projetos, mas não está executando nada, a não ser asfaltamento. É claro que este período de verão é mais propenso para as obras. A gente esperava que essa cidade estivesse movimentando e tendo mais contratações de empresas, mas está tudo muito devagar, infelizmente”, lamentou o presidente do Sinduscon-AM, Frank Souza. 

O dirigente avalia que, diante das atuais circunstâncias, não há muito espaço para melhora no segmento de obras públicas, ainda neste ano. “Acho que vamos terminar com essas metas de asfaltamento da prefeitura e as obras públicas do Estado vão ser as que estão aí mesmo. Ainda estamos em um momento crítico em relação a verbas de saúde e necessidades de ajuste. O município lançou um pacote de R$ 1,2 bilhão em obras, passiveis de execução. Mas, acho que neste ano não sai, por problemas econômicos. A projeção de crescimento da contribuição do poder público em obras não é relevante”, frisou.

Mercado imobiliário

Sem citar números, o presidente do Sinduscon-AM ressalva que o mercado imobiliário ainda tem “muitas obras” em andamento e deve seguir no ritmo projetado inicialmente para este ano, a despeito de todas as variáveis negativas vindas da política e da macroeconomia brasileiras. O dirigente, salienta que, uma vez que o primeiro semestre deste ano registrou “o dobro” de lançamentos em relação ao mesmo período de 2020, “certamente vai haver crescimento”. 

A pesquisa trimestral mais recente da Ademi-AM (Associação das Empresas do Mercado Imobiliário do Amazonas) informa que a indústria imobiliária do Estado encerrou o segundo trimestre de 2021 com faturamento recorde de R$ 304 milhões, no melhor trimestre da série histórica iniciada em 2016, em termos de comercialização de imóveis novos. Na comparação com os três meses iniciais de 2021 (R$ 162 milhões) – marcado pela segunda onda de covid-19 no Amazonas –, a alta foi de 87,65%. No confronto com os registros do segundo trimestre do ano passado (R$ 221 milhões), o incremento no VGV (valor geral das vendas) foi de 37,56%.

“O que me preocupa é essa inflação que está escalando, assim com a subida da taxa Selic, que vai aumentar ainda mais o custo do dinheiro. Há também o aumento dos preços da energia e de combustíveis, que vão elevar o valor do produto final, assim como toda essa instabilidade econômica em relação à pressão política e o avanço das metas inflacionárias. Há apreensão em relação ao resto do trimestre e aos próximos três meses, mas acho que, mesmo com todas essas dificuldades, vamos certamente fechar o ano com saldo positivo, devido ao que já foi lançado lá atrás”, ponderou.

Efeito Evergrande

Indagado pela reportagem do Jornal do Commercio sobre os possíveis efeitos locais do já aguardado calote da Evergrande, Frank Souza concorda que a confirmação dessa expectativa traria “problemas sérios” para a economia global, em patamares semelhantes aos registrados durante a quebra do Lehmann Brothers, em 2008. Para o setor, haveria ainda o problema adicional de afunilar ainda mais o estoque de empresas fornecedoras.

“Para início de conversa, o governo brasileiro não permite essas alavancagens que Evergrande dava. Tem que ter uma conta garantida para suportar isso aí. A empresa faturava US$ 100 bilhões por ano, mas deve o triplo. Tem 1,6 milhão de clientes e quase a população do Amazonas, em número de funcionários. Ela tem uns 1.000 fornecedores e, se a metade quebrar junto com ela, será um problema sério. Quando uma companhia dessas quebra, pode arrastar até bancos. Mas, o governo chinês é sócio e vai ter de ajudar, se não vai ficar muito mal”, finalizou. 

Foto/Destaque: Divulgaçaõ

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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