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Quadro é preocupante, mas empresas devem se superar com a crise

Jornal do Commercio – Como se explica o sobe e desce das bolsas e do dólar?

José Laredo – Quando um acionista compra uma ação, ele está colocando sua esperança na administração daquela empresa, a exemplo das gigantes hipotecárias americanas que deram sinais que poderiam quebrar em setembro último. Esse tipo de ação pode variar dependendo de vários fatores de mercado. E é o que está acontecendo atualmente. O mercado está vivendo de incertezas porque o mundo enfrenta o início de uma recessão econômica.

JC – Como se detecta o início de uma recessão econômica?

Laredo – Quando um país tem crescimento negativo em dois ou mais trimestres, economicamente ele está em recessão.

JC – Declaradamente, quais países estão em recessão?

Laredo – Um deles é a Islândia, que teve dois trimestres negativos, inclusive enfrentou quebra de mais de 70% em sua bolsa em menos de uma semana. Outro que está passado por situação inerente é a França que sofreu queda de crescimento de -0,3% e -0,5% nos dois trimestres. Economicamente ambas estão em recessão.

JC – E os Estados Unidos estão em recessão?

Laredo – Ainda não. A previsão é que tenha crescimento negativo nos próximos trimestres. Para combater a onde de quebradeira entre as instituições financeiras e acalmar o mercado, o Congresso dos EUA aprovou o plano de ajuda de US$ 700 bilhões que resultou num pacote de R$ 850 bilhões. A idéia era adquirir somente a parte podre dos bancos, mas não progrediu. Em seguida passou a imitar o que a Inglaterra fez: Comprou ações dos bancos estatizando o controle acionário. Com isso, o governo passou a ser proprietário dos bancos que ele injetou recursos, prevendo revender quando recuperá-los no futuro.

JC – Como o senhor avalia as novas medidas anunciadas pelo presidente George Bush na terça-feira? 

Laredo – A injeção de recursos de R$ 250 bilhões em nove principais bancos dos EUA, entre eles o CityGroup, Goldman Sachie, o Bank Of America etc, há mais de um ano, teve sua previsão inicial apontada pelo economista Nouriel Roubini, da Universidade de Nova York, como uma tentativa de compensar as perdas ocorridas durante a crise financeira que vem se arrastando há mais de um ano. 
 
JC – Essa crise econômica tem tempo determinado?

Laredo – As bolsas estão desconfiadas e esse cenário vai continuar por causa das incertezas do mercado. Existe possibilidade que a crise gere recessão na América e que se espalhará no mundo e poderá durar de um a dois anos.

JC – Qual o reflexo da crise no PIM?

Laredo – O PIM recebe todo o reflexo porque está ligado a economia mundial, não só por conta dos investidores internacionais, como também pelas empresas nacionais que estão em Manaus. O primeiro aspecto da crise diz respeito ao crédito que está escasso e as indústrias não têm como financiar seu capital de giro –para comprar matéria-prima, pagar pessoal, enfim, se manter. Logo, se falta crédito, as empresas diminuem seu apetite para produzir.

JC – Qual o outro aspecto negativo?

Laredo – O câmbio ante o real valorizou de R$ 1,6 para R$ 2,3 em menos de 20 dias. Com isso, encareceu os insumos importados que são utilizados no processo produtivo do pólo de Manaus. Assim, as empresas vão ter que repassar esse aumento para o preço dos produtos. Além de estarem mais caros os financiamentos tiveram seus prazos de pagamentos encurtados. Antes, o cliente não dava nada de entrada e ainda podia pagar entre 36 meses e 90 meses. Agora, os financiamentos requerem entre 30% e 50% de entrada e prazos para quitação do débito no máximo em 12 meses, o que reduz fortemente a capacidade de ajustar o valor da prestação dentro do orçamento do indivíduo.

JC – Então, o quadro atual da indústria é preocupante?

Laredo – Sim, pelas várias razões ditas antes. Algumas indústrias já paralisaram parte de suas linhas de produção, outras deram férias coletivas ao seus funcionários e já houve algumas dispensas de pessoal. Quando tudo isso termina não se sabe.

JC – As empresas do PIM estão preparadas para aguentar uma crise dessa dimensão?

Laredo – É muito provável que a grande maioria esteja porque as empresas são obrigadas, depois de um ano de operação, a providenciarem e se adequarem ao sistema de qualificação da ISO 9000. Com isso, ela têm uma administração mais enxuta, porque as gorduras são cortadas e produtividade fica mais elevada. Dessa forma, algumas delas têm fundo de caixa e provisões para sustentar o período de baixa produção. Mas é preciso olhar que a gestão financeira de cada uma é como impressão digital, difere uma da outra, especialmente em relação ao fluxo de caixa e à política de pessoal. De modo geral, qualquer empresa, preparada ou não, terá que se ajustar cortando custos e revendo seu planejamento estratégico.

JC – Cite outra qualidade das empresas do PIM?

Laredo – Mais de 50% das 600 empresas existentes têm gestão profissionalizada, em que, dependendo do grau de endividamento de cada uma delas, poderá superar ou não períodos mais longos de baixa demanda de seus produtos sem comprometer a sua existência. Com isso, a esperança é que a crise passe e as empresas possam continuar produzindo normalmente como vinham fazendo antes da crise, utilizando de estratégias comuns nesses casos como: paralisação parcial de linhas, concessão de férias coletivas, adiamento de novos projetos e novas admissões, e finalmente as inevitáveis demissões que podem vir a ocorrer.

JC – O senhor acredita que a Suframa vá conseguir atingir a projeção do PIM de faturar US$ 25 bilhões em 2008?

Laredo – Pode se concretizar sim porque os contratos de entrega do fim de ano já foram realizados e as fabricantes estão em fase de conclusão.

JC – Diante desse cenário de crise internacional, o senhor arrisca projeção para 2009?

Laredo – É possível que o ano de 2009 inicie com as previsões alteradas, independendo de ações diretas dos gestores do modelo. O que está mais influenciando o desenrolar da crise é a desconfiança generalizada que se instalou no sistema financeiro internacional que está se propagando a cada divulgação de resultados setoriais americanos. Por exemplo, nesta quinta-feira divulgou-se o índice negativo de vendas a varejo, o que foi suficiente para o temor se alastrar e atingir a bolsa brasileira que chegou a operar em baixa de -8% mas fechou com -4,5%, isso aconteceu no mundo todo. Sem o retardo da crise, essa informação solta não teria a capacidade de arrastar as quedas que ocorreram na última quinta-feira. A economia real está sendo atingida tanto por razões justificáveis como, em grande medida por causas/reflexos que, além de intangíveis, são impossíveis de se quantificar neste momento. Voltamos a conviver com um capitalismo em que ação da mão do Estado preconizada por Lord Keynes ( economista inglês) está tão atual quanto válida nos dias de hoje.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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