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Crédito em bancos fica mais caro em março

Os juros dos financiamentos bancários escalaram pelo quarto mês seguido, em março. Dados divulgados pela Anefac (Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade) apontam que o dinheiro ficou mais caro paras as pessoas físicas principalmente nas operações de CDC para financiamentos de veículos, empréstimo pessoal nos bancos e cartão de crédito. Para as pessoas jurídicas, o peso foi mais sentido no crédito para capital de giro e desconto de duplicatas.

As estatísticas mais recentes do Banco Central, por outro lado, apontam que o novo reajuste foi precedido por uma relativa estabilização na inadimplência nas operações de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional), no mês anterior. Em paralelo, o volume de concessões de empréstimos em todo o país aumentou apenas para as empresas e se manteve virtualmente estagnado para os consumidores. Vale notar que o Amazonas registrou números melhores do que a média nacional, em ambos os casos. 

De acordo com a Anefac, o acréscimo no custo de dinheiro voltou a pesar mais sobre as pessoas jurídicas, que amargaram reforço de 2,03% no custo do dinheiro, reposicionando a taxa do empréstimo de 2,96% para 3,02% mensais – o patamar mais elevado desde maio de 2020. Para as pessoas físicas o incremento foi de 1,23%, passando de 5,67% (fevereiro) para 5,74% (março) ao mês – o maior valor desde março do ano passado. As respectivas taxas anuais ficaram em 42,91% e 95,38%, respectivamente.

A linha de crédito com maior aumento mensal foi o CDC para financiamentos de automóveis (+4,41%), que passou de 1,36% para 1,42% ao mês. Foi seguida de longe pelo empréstimo pessoal (3,27% mensais) e pelo cartão de crédito (11,54% ao mês), que sofreram acréscimos respectivos de 1,87% e de 1,76%. As taxas mais elevadas, por sua vez, ainda estão no cartão de crédito, cheque especial (7,20%) e empréstimos nas financeiras (6,30%) – que ficaram 0,56% e 0,80% mais caros, na ordem. A menor correção da lista (+0,43%) ficou nos juros cobrados pelo comércio (4,70%).   

Do lado das pessoas jurídicas, o maior reajuste ocorrido entre fevereiro (1,07%) e março (1,11%) se deu no crédito para capital de giro, que ficou 3,74% mais caro. O financiamento para desconto de duplicatas ficou em segundo lugar com taxa mensal de 1,28% e incremento de 3,23% ante o mês anterior. Embora tenha registrado o menor acréscimo (+1,22%), a conta garantida também segue como a modalidade mais onerosa (6,66%) para esse tipo de público.

Aversão ao risco

O BC ainda não divulgou os dados de março, mas a inadimplência nas operações de crédito em todo o país apresentou relativa estabilidade, no mês anterior. Para as pessoas físicas, ela estacionou em 4,13%, na variação mensal, além de recuar significativamente ante fevereiro de 2020 (5,07%). O indicador relativo às pessoas jurídicas mal se moveu entre o primeiro (1,58%) e o segundo (1,57%) mês de 2021, ficando igualmente aquém da marca de 12 meses atrás (2,27%). O Amazonas pontuou 3,54% e 1,48%, respectivamente.

O mesmo BC indica que o saldo brasileiro das operações de crédito do SFN praticamente empatou para as pessoas físicas, passando de R$ 153,595 bilhões para R$ 153,862 bilhões, em montante não muito superior ao de um ano antes (R$ 153,292 bilhões). Para as pessoas jurídicas, o volume (R$ 131,732 bilhões) cresceu 11,77% ante o mês anterior (R$ 117,859 milhões), mas ficou devendo em relação a fevereiro de 2020 (R$ 135,364 milhões). Já o Amazonas (R$ 19,748 bilhões e R$ 14,960 bilhões) teve altas em ambos os casos.  

Em material divulgado pela assessoria de imprensa da Anefac, o vice-presidente de estudos e pesquisas da entidade, Miguel José Ribeiro de Oliveira, atribuiu as novas elevações das taxas no crédito bancário ao aumento dos juros futuros no mercado financeiro, a expectativa de mais aumentos da Selic frente a uma inflação maior. Pressionado pelos combustíveis, o IPCA subiu 0,93%, em março, acelerando em relação a fevereiro (+0,86%) e sendo o maior índice para o mês, desde 2015 (+1,32%).

Outros fatores citados são a elevação da alíquota de CSLL (Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido) para instituições financeiras e a inadimplência – favorecida pelo fim das carências nos empréstimos, “desemprego elevado”, hiato no pagamento de auxílios emergenciais, aumento da inflação e maior seletividade dos bancos. Diante do maior risco ao crédito, Oliveira avalia que a tendência dos próximos meses é que as taxas de juros devem prosseguir e trajetória de expansão. 

Demanda sem vacinação

O presidente do Sindecon-AM (Sindicato dos Economistas do Estado do Amazonas), Marcus Evangelista, lembra que o motivo para a liderança do CDC de veículos no ranking das altas, entre outras modalidades de crédito, se deve ao fato de que as taxas são diretamente proporcionais ao risco. O economista lembra, por outro lado, que historicamente a operação de capital de giro sempre foi mais cara do que as outras, porque se trata da liberação de dinheiro na conta corrente da empresa, com prazo menor para quitação – não superior a 24 parcelas – e carência não superior a dois meses. 

“Mesmo com a alta da Selic, a procura vem aumentando. As operações ficaram mais caras e menores, em função da análise de risco, já que as empresas estão ficando com mais restrições cadastrais. O Pronampe está voltando e há perspectiva de grande demanda, porque vai ter o lastro do governo federal. Acho que este ano vai ser muito difícil para elas. Há um medo de inadimplência muito grande e os bancos buscam mitigar esse efeito”, ponderou. 

Na mesma linha, o conselheiro do Corecon-AM (Conselho Regional de Economia do Estado do Amazonas), Francisco de Assis Mourão Junior, assinala que o aumento dos juros bancários ocorre pelo cenário econômico de instabilidade desenhado pela pandemia, com a possibilidade cada vez mais presente de uma terceira onda. Pelo mesmo motivo, os maiores aumentos se devem justamente a essas incertezas. 

“Os bancos estão vendo que não tem uma solução de longo prazo, principalmente pela demora na vacinação. Há medo também porque várias empresas estão quebrando. Há mais incertezas também pelo aumento do emprego e da inflação. Não está havendo margem para que os juros baixem e as probabilidades de o banco pegar um calote nos segmentos que ficaram mais caros é ainda maior”, concluiu.      

Foto/Destaque: Divulgação

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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