Na avaliação do Iedi, há uma diferença marcante no posicionamento da economia brasileira diante da situação internacional, mas isso não deve ser confundido com imunidade à crise. O que acumulamos foi uma boa dose de resistência dos nossos mercados, instituições e agentes à crise externa, e, mais importante, uma capacidade de fazer políticas autônomas de defesa e sustentação do crescimento doméstico.
Isso é muito importante porque, como hoje declarou o FMI, é inevitável que o crescimento mundial seja menor após as turbulências que estamos presenciando.
O Brasil deve medir com muita parcimônia suas ações diante da crise para não deixar escapar a prerrogativa que hoje dispõe de adotar mecanismos de sustentação de sua economia. É claro que esses mecanismos não devem ser usados de forma precipitada, mas, sim, no caso de se apresentar a necessidade. Não se deve perder de vista que quatro setores vêm simultaneamente acelerando seu crescimento, o que em conjunto explica a perspectiva do crescimento de 5% esperado para a economia nesse ano: comércio varejista, agropecuária, construção habitacional e indústria.
Não abrir mão desse virtuoso momento da economia doméstica é uma diretriz que o governo tem que adotar, acionando medidas específicas para sustentar esses dinamismos setoriais quando for preciso. Mas, antes de tudo o mais, é imperioso não se precipitar na política de juros, evitando tomar decisões antecipadas diante de riscos que podem não ser de gravidade extrema, como o risco de inflação em decorrência dos efeitos da crise mundial até agora identificados.
Por outro lado, o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), que constituiu a primeira tentativa importante de reação do governo diante de uma ininterrupta degradação da infra-estrutura, precisa ser reafirmado enquanto mecanismo que os tomadores de decisões de investimento crêem como sendo eficaz para desafogar a logística e garantir o fornecimento futuro de energia.
Crise internacional
Em um momento como o que estamos vivenciando, todos buscam um “culpado”. Como a crise internacional foi provocada por problemas no setor de crédito imobiliário norte-americano, “a bola da vez” entre os possíveis responsáveis pelo problema são as instituições financeiras fornecedoras dos financiamentos, acompanhadas das agências da avaliação de risco que chancelaram a qualidade desses créditos, os quais, por seu turno, foram então adquiridos por outras instituições financeiras e fundos que administram o dinheiro que, em última instância, pertencem a empresas e pessoas de vários países.
Virou moda também culpar o Banco Central norte-americano por sua passividade em manter taxas muito baixas de juros e, assim, dar vida à liquidez frouxa. O cidadão norte- americano, consumista e causador dos enormes déficits comercial e em transações correntes desse país, também perfila entre os mais responsabilizados pela situação.