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Pesquisas da CNI apontam progresso nas condições de trabalho das mulheres na indústria no Brasil

As mulheres respondem por 24,9% da força de trabalho na indústria brasileira, mas vêm ganhando terreno nos últimos dez anos. Levantamento da CNI, a partir de dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio) Contínua, do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), revela uma relativa diminuição (-9%) na diferença salarial média entre trabalhadores e trabalhadoras do setor. Houve também uma progressão na participação feminina em cargos de liderança. Mesmo assim, elas ainda são minoria nessas posições (39,1%), embora contem com maior escolaridade do que os homens (12 anos de estudo contra 10,7 anos, respectivamente). 

Assim como já apontado anteriormente pelo IBGE, o levantamento da CNI confirmou também que o tempo dedicado pelas mulheres aos cuidados domésticos e familiares é proporcionalmente maior do que o dos homens, desequilibrando a concorrência entre os gêneros no mercado de trabalho. Entre os ocupados, o tempo foi de 17,8 horas semanais para mulheres e de 11 horas para homens em 2022. A diferença é ainda maior entre os desempregados: as mulheres exercem 24,5 horas semanais de trabalho e os homens, 13,4 horas.

Outra sondagem da CNI, feita com 1.000 indústrias, informa que 6 em cada 10 empresas contam com programas ou políticas de promoção de igualdade de gênero. Dentro desse grupo, 61% já desenvolvem iniciativas do gênero há mais de cinco anos. As principais razões apontadas pelos entrevistados são a percepção de desigualdade (33%); e a importância de dar oportunidades iguais para todos (28%). Os instrumentos mais usados para diminuir essa iniquidade são políticas de paridade salarial (77%); proibição de discriminação por gênero (70%); programas de qualificação de mulheres (56%) e programas de liderança para estimular a ocupação de cargos de chefia (42%).

Esse estudo foi realizado pelo Instituto FSB Pesquisa, com empresas de pequeno (80%), médio e grande portes (20%), distribuídas pelas regiões Sudeste (51%), Sul (28%), Nordeste (13%) e Norte/Centro-Oeste (8%). Na divisão por gêneros, 60% dos entrevistados eram homens e 40%, mulheres. O mesmo levantamento aponta ainda que as mulheres têm mais pressa para implementar políticas formais de igualdade na indústria, e que o preconceito e a cultura machista são maiores barreiras para tanto.

“Mulheres no comando”

A ex-vice-presidente do Corecon-AM e professora universitária, Michele Lins Aracaty e Silva, avalia que, apesar dos avanços apontados pelos números, ainda há muitos degraus a serem galgados para a “tão sonhada paridade de oportunidades entre homens e mulheres no mercado de trabalho”. A economista lembra também que a luta das trabalhadoras por tratamento igualitário no ambiente de trabalho já é antiga. 

“Lembro que a mão de obra feminina foi essencial para atender à demanda de bens e serviços durante o período dos conflitos substituindo os homens nas fábricas. No pós-guerra, as mulheres seguiram na atividade industrial, mas ainda lutando para serem reconhecidas e valorizadas, em especial nos cargos de liderança e de gestão. Problemas relacionados ao sexismo, à vulnerabilidade social e à equiparação salarial são parte do ambiente enfrentado pelas mulheres no ambiente industrial”, resumiu. 

Segundo a professora, um dos fatores que mais contribuíram para as mudanças dos últimos dez anos é o avanço da escolaridade no contingente feminino, resultante do maior quantitativo de mulheres no ensino médio e superior. E esse também seria um elemento que pode favorecer maior equilíbrio entre os gêneros, nos próximos anos.

“Destaco a necessidade de mulheres no comando, na gestão e na liderança e que possam dar oportunidade para outras mulheres dentro de suas organizações. As mulheres precisam abrir os seus próprios espaços e oportunizar que outras mulheres também possam ser líderes e gestoras. Para tanto, continuar investindo em educação e qualificação do capital humano é o caminho mais assertivo e que garante resultados promissores”, salientou.

Indagada sobre os diferenciais regionais, Michele Lins Aracaty e Silva diz que vê um cenário muito semelhante no PIM, em relação ao da média nacional. “Parte expressiva da mão de obra se concentra na linha de produção, mas tem potencial para ocupar funções na gestão e na liderança. Precisamos de uma política assertiva com foco no empreendedorismo feminino e melhoria do ambiente de negócios, de forma a oportunizar mais espaços para a atuação feminina no cenário industrial, aproveitando a escolaridade e a expertise do capital humano feminino”, frisou.

“Quebrar paradigmas”

Na mesma linha, a consultora empresarial, professora universitária e conselheira do Cofecon, Denise Kassama, também assevera que a igualdade de gênero ainda não é uma realidade. “Para isso, precisamos quebrar diversos paradigmas culturais que contribuem para essa ótica. Mas, estamos melhorando. Na época de nossos avós, ninguém se preocupava com questões como violência doméstica, por exemplo. Hoje, já é crime previsto em lei”, comparou.

A economista diz que faltam políticas públicas para melhorar esse cenário e sugere que o Executivo do Amazonas coloque a adoção de programas de igualdade de gênero, como contrapartida à concessão de incentivos da ZFM. “Está faltando maior aderência, tanto de parte do empresariado, quanto da parte do governo, para gerar projetos assim. Não sei nem se o governo pratica isso em suas esferas. A situação melhorou, mas ainda precisamos evoluir muito”, asseverou. 

“Longo caminho”

O presidente da Fieam e vice-presidente executivo da CNI, Antonio Silva, concorda que o Brasil ainda tem um “longo caminho a percorrer” até alcançar um patamar de equidade laboral entre homens e mulheres. De toda a sorte, podemos constatar de forma clara importantes avanços nos últimos anos. Segundo dados do Ministério do Trabalho e Emprego, o número de mulheres na indústria do Amazonas, setor historicamente dominado por homens, cresceu quase 15% nas duas últimas décadas”, ponderou. 

O dirigente destaca, por outro lado, que as mulheres apresentam diferenciais competitivos significativos para o trabalho, como um perfil mais atencioso e responsável, além de um “dom natural” para processos que exigem maior precisão. “Seja nas linhas de produção, seja em cargos de liderança, a inserção das mulheres no mercado de trabalho da indústria exerce papel fundamental para a melhoria do ambiente organizacional. A adoção de políticas de promoção de igualdade de gênero é um pilar central para que continuemos na rota de mitigação dessas diferenças ainda existentes”, arrematou.

Marco Dassori

É repórter do Jornal do Commercio
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