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Participação feminina aumenta e as mulheres dominam altos cargos no ambiente corporativo

A participação feminina em cargos de chefia no ambiente corporativo vem avançando no Brasil. Elas representam 21% dos cargos de liderança, é o que diz a pesquisa Panorama Mulheres 2023, elaborada pelo Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa) e pelo Talenses Group.  Atualmente, no âmbito corporativo, alguns avanços podem ser percebidos, contudo, ainda há um caminho a ser trilhado para alcançarmos a igualdade na ascensão de cargos de liderança. Para além do Dia Internacional da Mulher é essencial não apenas celebrar sobre as conquistas para promover a igualdade de gênero, mas fazer-se necessário reforçar sobre os desafios que ainda persistem. 

No ambiente educacional, a presença feminina é significativa, é justamente nele que a doutora em Desenvolvimento Regional, economista, docente do Departamento de Economia da UFAM (Universidade Federal do Amazonas), Michele Lins Aracaty e Silva, destaca a sua trajetória. Atuando ao longo de 23 anos em pesquisa, no ensino, na extensão e na formação dos futuros economistas do Amazonas e do Brasil, a contribuição social como cientista econômica, move o sonho desde criança. “Simplesmente amo ser economista e docente pois é uma oportunidade única de contribuir para a sociedade” e eu tenho muito orgulho dos meus alunos e acompanho diariamente a atuação profissional deles. Tenho o hábito de dizer que sou movida pelo desafio intelectual, o que me ajuda a nunca ficar confortável, quero mais e mais. Meu trabalho contribui de alguma forma para a sociedade. É um tijolinho por dia, mas que lá no final será um muro de contribuições e de melhorias”. Com muitos livros e artigos publicados, a docente participa de muitos eventos científicos no Brasil e no exterior.

Sobre o protagonismo feminino em várias frentes como liderança, ela destacou que ao longo dos anos tem observado um maior número de docentes e de mulheres economistas em cargos de liderança de gestão, mas ainda tem muito o que avançar e por vezes ainda precisa mostrar que tem competência e conhecimento.”Temos mais discentes mulheres do que homens, mas em atuação no mercado a presença feminina ainda é tímida. Precisamos melhorar o ambiente do empreendedorismo feminino, cargos de gestão e oportunizar que elas possam atuar.  Pois ainda temos uma maioria de homens como coordenadores, chefes, diretores e esperamos ver mais mulheres em cargos de gestão. Somos preparadas para fazer nossas atividades tanto quanto nossos colegas homens”.

Ao destacar a importância da presença feminina no setor educacional. Ela explicou de que forma o ambiente está se moldando para contemplar mais mulheres em cargos de destaque ou liderança. “Estamos investindo em empreendedorismo feminino via empresa Júnior e formação complementar de forma a preparar as discentes para o mercado de trabalho e gerar emprego e renda para outras mulheres. É um movimento que vem acontecendo em vários estados e com a contribuição do conselho de classe e acredito que em breve teremos resultados positivos e um novo cenário.

Para Michele, a atuação feminina no ambiente educacional, no caso da área econômica, possibilita um olhar mais humano na formação e oportuniza que elas sejam capazes de trabalhar com análises micro e macro, de cenários complexos, entendendo outras áreas do conhecimento. Avaliação econômico-financeira de tecnologias, avaliação de cenários macroeconômicos e apoio ao desenvolvimento, bem como construção de políticas públicas uma vez que a Economia é uma Ciência Social Aplicada. “A economia como uma área promove a mobilidade e a justiça social e contribui para melhorar a vida das pessoas”, salientou. 

Posição de destaque no setor de tecnologia

Ao passo que a presença feminina em cargos de liderança em um setor majoritariamente masculino de tecnologia vem crescendo nos últimos anos. Por outro lado, apesar dessa ser uma boa notícia, as estatísticas atuais sobre a presença feminina no segmento de TI ainda não são tão otimistas.

Segundo dados da Thoughtworks Brasil o perfil dos profissionais de tecnologia no país é de 68% homens e apenas 31,7% de mulheres. Já estudos do censo IBGE 2021, apontam que apenas 17% dos empregos na área de TI são ocupados por mulheres. 

Quando as equipes de TI incluem mulheres, elas trazem uma gama mais ampla de experiências, habilidades e pontos de vista, o que pode levar a soluções mais criativas e inovadoras. É nessa área que Elaine Garcia, Executiva de Negócios na FPF Tech, diretora de Relações Institucionais na ABRH-AM,  furou a bolha de gênero e em 22 anos de experiência em posições de liderança nos segmentos de Tecnologia, Indústria, Varejo, Bebidas, Previdência e Educação, se coloca de forma firme no mundo dos negócios. 

“Iniciei a vida profissional na área de tecnologia, através de um ensino técnico profissionalizante em Processamento de Dados. Atuei tecnicamente como analista de sistemas por alguns anos, até que no fim da graduação em Administração, fiz transição de carreira para a área de Gestão através de um programa de Trainee de uma grande empresa do Varejo local. Ao longo desses 21 anos de carreira atuei em grandes empresas do mercado de educação, saúde e bebidas. Com passagem na iniciativa pública também e nos últimos 6 anos voltei para o setor de Tecnologia, hoje ocupando o cargo de Gerente de Negócios na FPFTech”, contou. 

Ela pontua que o comando feminino em várias áreas é uma evolução positiva que contribui para a diversificação e o fortalecimento de organizações em diversos setores. “À medida que mais mulheres assumem papéis de destaque, o impacto positivo se reflete em diversos aspectos, promovendo um ambiente mais justo, inclusivo e inovador. As mulheres em cargos de liderança em setores majoritariamente masculinos desempenham um papel crucial na promoção da diversidade, igualdade de gênero e no estabelecimento de ambientes de trabalho mais inclusivos. E passamos por alguns papéis fundamentais nessa mudança como: Inspirar e Motivar, Quebrar Estereótipos, Promover a Diversidade e Inclusão, Fomentar uma Cultura de Igualdade, Lidar com Desafios de Gênero, Desenvolver Talentos”. 

Além disso, ela acrescentou que a presença de mulheres na TI ajuda a combater o viés de gênero que pode existir nesse setor. A falta de representação feminina na indústria pode levar a decisões e produtos que não levam em conta as necessidades e perspectivas das mulheres.

Outra razão pela qual a presença feminina na TI é importante é que ela pode servir como um modelo para as futuras gerações de mulheres. Quando as mulheres veem outras mulheres bem-sucedidas em determinado setor, elas são inspiradas a seguir carreiras semelhantes e a superar barreiras que possam ter sido vistas como limitações anteriormente.

Driblando os desafios estruturantes que ainda persevera no ambiente corporativo, ela ressaltou que tudo parte do autoconhecimento.“Compreender suas fortalezas e principalmente as suas vulnerabilidades para ocupar os espaços com muito mais confiança. Para driblar os desafios é imprescindível manter uma postura ativa de concentrar-se no desenvolvimento contínuo de habilidades, manter uma rede de networking atualizada, buscar mentorias e rede de apoio, envolver-se ativamente em iniciativas de diversidade e inclusão dentro e fora da organização. Tudo isso aliado ao desafio que é equilibrar a vida pessoal, com marido, filhos e as responsabilidades de rotina de uma casa. A rede de apoio é fundamental para que a jornada seja um pouco mais leve”. 

Protagonismo feminino

De um lado as conquistas a serem comemoradas, de outro os desafios ainda a serem enfrentados. Ano após ano, o dia 8 de março – Dia Internacional da Mulher – marca uma luta constante pela igualdade de gênero em todo o mundo, sendo inclusive um dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU) desde 2015.   

Para Lídia Abdalla, presidente-executiva do Grupo Sabin, apesar de gradual, é importante notar essa evolução e comemorar. “Se nós, mulheres, olharmos para trás, temos muito a celebrar. Esses dados refletem não apenas o talento e a capacidade das mulheres, mas também um passo significativo em direção à igualdade de gênero no mundo corporativo. Mas, embora represente uma conquista, essa proporção demonstra que ainda há muito a ser feito para alcançar a equidade nas lideranças empresariais”, afirma.  

Lídia Abdalla, que começou na empresa como trainee em 1999 e completou recentemente 10 anos na presidência do Grupo, hoje o terceiro maior de medicina diagnóstica do Brasil, também tem sido uma voz ativa na promoção da diversidade e inclusão no ambiente corporativo.  

“Não precisamos escolher entre ser mãe e se dedicar a uma profissão e carreira, podemos fazer isso ao mesmo tempo. A mulher tem muitas habilidades que a diferenciam no ambiente de trabalho. As empresas precisam dessa diversidade para crescer e serem mais inovadoras”.  

As conquistas alcançadas até o momento, incluindo histórias como a de Lídia Abdalla, são motivo de celebração e reconhecimento do progresso que foi feito em direção à igualdade de oportunidades no ambiente corporativo.   

Fundado por duas mulheres, Sandra Soares Costa e Janete Vaz, o Grupo Sabin completa 40 anos em maio e se destaca pela força de trabalho feminina. Do total de colaboradores no país, 77% são mulheres. O número se expressa também nas funções de liderança da empresa, 74% dos cargos de liderança no Sabin são ocupados por mulheres.  

Cristiane Lima – CEO da Hilary Gin (gin da Amazônia)

A cada 10 cargos de chefia, mais de 7 são ocupados por mulheres. Os resultados das práticas de Gestão de Pessoas, como o incentivo para as mulheres exercerem posições de liderança, possuem reconhecimentos como o do prêmio “Mulheres na Liderança”, da organização sem fins lucrativos WILL –Women in Leadership in Latin America, além de ocupar a 1ª posição, entre empresas de Saúde, na Pesquisa Ethos/Época, dentre outros reconhecimentos.  

“Naturalmente, falamos da força e da relevância da mulher no mercado de trabalho, pois vivemos isso diariamente no Sabin. As fundadoras compartilham conosco seus exemplos, mostrando que, de fato, não precisamos escolher entre família e trabalho. É possível conciliar todas as atribuições com equilíbrio; é possível atuar em todas as áreas e, também, ser exemplo e inspiração para outras mulheres e empresas”. 

Quando olha para fora da empresa, Lídia percebe que ainda há muito espaço para ser conquistado.  “É muito comum chegar a um evento de presidentes/CEOs e eu, mulher, ser parte da minoria ali. Muitas vezes, fui a única em uma sala com 15 ou 20 presidentes. É quando você percebe a diferença e a desigualdade. Mas, por ter sido criada em uma família de mulheres fortes e que acredita que podemos estar à frente dos negócios e ter construído minha vida profissional em uma empresa inclusiva, sempre consegui me posicionar e enfrentar todos os ambientes sem sobressaltos”.  

Para ela, é essencial que as companhias continuem a promover a diversidade e a inclusão em todos os níveis organizacionais, implementando políticas e práticas que criem ambientes de trabalho verdadeiramente equitativos e inclusivos.

Sentido à palavra empreendedorismo

De projetos voltados à preservação ambiental e desenvolvimento sustentável na região, a construção de uma carreira empreendedora no segmento de bebidas.. A trajetória profissional de Cristiane Lima, sempre esteve ligada ao empreendedorismo e à valorização da cultura e biodiversidade da região amazônica, o que a proporcionou uma visão única sobre a importância da Amazônia e suas riquezas. Não à toa, a CEO da marca Hilary Gin, bebida amazônica, foi lançada no  mercado local. 

Além da paixão pela região, a ideia de idealizar a bebida era algo único, que unisse ingredientes exóticos da Amazônia com um conceito feminino e empoderador, resultando em um gin diferenciado e cheio de personalidade.

“Hoje, no mercado de bebidas, nosso segmento é de destilados premium, onde buscamos destacar a qualidade e a autenticidade do nosso gin, além de promover a valorização da região amazônica e o empoderamento feminino”. 

O grande desafio do empreendedorismo feminino no nicho de bebidas está em conquistar espaço em um mercado tradicionalmente dominado por homens. É preciso enfrentar preconceitos e mostrar que as mulheres também têm competência e conhecimento para atuar nesse setor, além de superar barreiras como acesso a financiamento e networking.

“A equidade de gênero é um valor fundamental para a Hilary Gin. Nosso modelo de negócio busca promover a representatividade feminina e empoderar mulheres, tanto na nossa equipe como no nosso público-alvo. Essa visibilidade de conquista representa não apenas um avanço para a empresa, mas também uma contribuição para a sociedade, ao inspirar outras mulheres a seguirem seus sonhos e alcançarem o sucesso”, disse. 

Sobre os planos futuros para a marca e o negócio incluem expandir a presença no mercado nacional e internacional, consolidando a Hilary Gin como uma marca de destaque no segmento de destilados premium. “Além disso, queremos ampliar nossas ações de responsabilidade social e sustentabilidade, apoiando projetos e iniciativas que promovam o desenvolvimento da região amazônica e o empoderamento feminino”, enfatizou. 

Andréia Leite

é repórter do Jornal do Commercio
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