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Pesquisadores do Inpa ganham prêmio internacional

Acabou de sair o resultado da 4ª edição do Prêmio da Rede de SDSN (Soluções para o Desenvolvimento Sustentável da Amazônia) e, competindo com doze outros projetos do Brasil, Venezuela, Peru, Itália e Equador abordando a temática ‘Soluções para uma nova bioeconomia amazônica’, saiu vencedor o projeto ‘Sustentabilidade da cadeia produtiva do peixe com o uso de resíduos para a produção de suplementos funcionais’, dos pesquisadores Francisca das Chagas do Amaral Souza e Jaime Paiva Lopes Aguiar, do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia), integrantes do Grupo Alimentos e Nutrição da Amazônia, da coordenação Sociedade, Ambiente e Saúde.

O projeto tem o objetivo de incentivar o reaproveitamento de resíduos da indústria pesqueira para a produção de gelatinas e farinhas, que podem ser usados em suplementos dietéticos, cosméticos e como fontes de compostos bioativos/funcionais e naturais na indústria de alimentos, agregando valor à indústria pesqueira. Também minimiza o impacto causado pela alta quantia de resíduos gerados, que representam problemas de armazenagem, transformação e eliminação nos campos ecológico e econômico.

Ficou em segundo lugar o projeto peruano ‘Integra Cacao – aproveitamento integral do cacau’, do Ampa (Amazônica para a Amazônia), e em terceiro, ‘Alimentação sustentável: produção de cogumelos silvestres da Amazônia nas comunidades amazônicas Kichwa no Equador’, sob coordenação da Universidad Regional Amazónica Ikiam.

Em entrevista ao Jornal do Commercio, Francisca das Chagas deu mais detalhes sobre o projeto vencedor.    

Jornal do Commercio: Quando a Sra. começou essa pesquisa com resíduos de peixes e como chegou à conclusão que poderiam ser importantes suplementos alimentícios?

Francisca das Chagas do Amaral Souza: A pesquisa começou em 2009, quando o projeto ‘Elaboração, avaliação nutricional e sensorial de sopa de gelatina à base de peixes amazônicos’ foi aprovado pela Fapeam (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas). Eu e o pesquisador Jaime Paiva Lopes Aguiar trabalhamos no laboratório do Inpa, e o projeto alavancou a ideia de trabalhar com resíduos de pescado. Como a carne dos peixes é bastante consumida, então, trabalhar com resíduos seria uma forma de aproveitar o que é descartado.

JC: Quais peixes a sra. utiliza, e quais são os resíduos que aproveita?

FC: Aracu, jaraqui, pirapitinga, tambaqui são as principais espécies, mas no total utilizamos nove espécies. Iniciamos produzindo a gelatina (com pele e ossos) e farinha (com pele), esta, utilizada para enriquecer pães. Também utilizamos o fígado, importante para suprir a carência nutricional de ferro.

JC: Explique como é o processo de transformação desses resíduos em gelatina e farinha?

FC: O processo de transformação dos resíduos em gelatina é mais demorado. Precisa fazer higienização da pele e dos ossos depois, secar os ossos na estufa. A partir dessa secagem, fazemos um tratamento com produtos químicos (soluções alcalinas e ácidas), e são estes produtos que vão gerar a gelatina. A farinha é um processo mais simples. Trata-se até de uma tecnologia social. Faz-se a higienização da pele e a desidratamos. Pode até fazer em casa secando no forno do fogão. Depois se bate tudo no liquidificador para triturar e converter em farinha.

JC: Tanto a gelatina quanto a farinha podem ser consumidos naturalmente, ou tem algum tipo de indicação?

FC: Podem ser consumidos sem problema algum. Não existe restrição nenhuma para o consumo nem da gelatina nem da farinha. Tudo é originário dos peixes. Nossa população já assa e come, naturalmente, a pele de alguns peixes. Nós apenas higienizamos e fazemos o processo em laboratório. Como qualquer produto alimentício, tem um tempo de vida útil.

JC: Quais as qualidades alimentares dos dois produtos?

FC: A farinha de fígado supre necessidades nutricionais relacionadas à deficiência de ferro. Nossa população tem carência de ferro, a chamada anemia ferropriva, então essa farinha é uma alternativa para suprir tal carência nutricional. A gelatina tem alto teor proteico, e qualidade superior às gelatinas comerciais vendidas nos supermercados. Em testes com ratos, comprovamos a eficiência nutricional dos dois produtos.

JC: Como escolheu a gelatina e a farinha? Por que não outros produtos?

FC: Porque são produtos que têm o viés de tecnologia de alimentos, fazem parte da nossa linha de trabalho na produção de pães e farinha. Como já produzimos geleias de frutos amazônicos, partir para a gelatina foi um passo.  

JC: A sra. pretende viabilizar a produção em larga escala dos dois produtos? Empresas do setor de alimentos podem lhe procurar?

FC: Algumas empresas já procuraram o Inpa para o repasse da tecnologia. Já existe, de fato, o interesse dessas empresas no repasse das informações para a produção dos produtos. Em pouco tempo devem estar sendo comercializadas.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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