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Livro mostra universo de adolescentes que vivem na periferia de Manaus

Toda mudança assusta, num primeiro momento. Por isso a adolescência é um período complicado para quem a está vivenciando. Muda o corpo (o de criança fica para trás), muda a maneira de pensar e encarar o mundo. O que antes era aceito sem problemas, agora passa a ser motivo de revolta. Dos 10 aos 20 (período da adolescência, segundo a OMS – Organização Mundial de Saúde), todo jovem passa por esse momento. E para as meninas, pelo fato de serem mulheres, pode ser um pouco mais complicado, e mais ainda se moram na periferia. É o que mostra o livro ‘O adolescer e o amor nos discursos de mulheres manauaras’, da professora/doutora em psicologia Vilma Peixoto Mourão, que será lançado hoje (30), pela Editora Valer, às 18h, na Galeria do Icbeu (av. Joaquim Nabuco, 1286, Centro).

Vilma Mourão, “destaco o processo de adolescer e os relacionamentos amorosos” – Foto: Divulgação

“O trabalho resultou de minha pesquisa de doutoramento e transformar esse texto em livro representa meu desejo de ampliar a forma como a adolescência tem sido prioritariamente abordada, quase sempre tratada por viés nomeados como ‘problemas da adolescência’. Dar voz a algumas mulheres adolescentes para delas ouvir o que representa essa etapa da vida é relevante em face da complexidade que envolve o processo de adolescer, visto que a vivência adolescente é uma construção social, mas que é vivida por cada pessoa de maneira particular”, falou Vilma.

A pesquisa de Vilma foi realizada num bairro periférico de Manaus, com seis adolescentes entrevistadas sob a perspectiva desenvolvida pelo filósofo francês Michel Pêcheux (formações discursivas) e pela professora de Linguística da Universidade de Paris, Authier-Revuz (heterogeneidade dos discursos).

Na periferia é diferente   

Para Neiza Teixeira, coordenadora editorial da Valer, o livro não é indicado apenas para os estudiosos da psicologia, educação, antropologia e áreas afins, mas para qualquer pessoa que goste de uma boa leitura sobre as especificidades do adolescer e do amor na ótica das adolescentes manauaras e de seus cotidianos. A autora, inclusive, apresenta concepções sobre o amor, que sustentam o mundo ocidental, segundo Freud.

Durante toda a pesquisa, Vilma buscou fazer prevalecer um olhar que valorizasse cada vivência, cada forma de se reconhecer como mulher adolescente, fugindo de perspectivas guiadas pelos ‘problemas da adolescência’, ou que remetem toda a problemática que envolve o processo de adolescer aos adolescentes, desconsiderando a complexidade dessa fase da vida.

“Minha pesquisa se centrou em algumas temáticas, dentre as quais destaco duas: o processo de adolescer e os relacionamentos amorosos. Acerca do primeiro, cabe pontuar que dois significantes ficaram em evidência: aumento de responsabilidade e liberdade, este por sua vez se liga à sexualidade porque em alguns casos a liberdade é reduzida por conta do início dos relacionamentos amorosos”, revelou Vilma.

Sem falar que a adolescência das garotas da periferia se dá de forma diferenciada das garotas da área central da cidade. Os pais trabalham e ainda que nem todos continuem morando na mesma residência, a questão que se coloca é o poder aquisitivo e as expectativas que se tem em relação ao futuro dos filhos. Assim, há uma tendência a um encurtamento dessa fase da vida em comunidades pobres e uma tendência a um prolongamento em outras classes sociais.

Cuidador e provedor

“É muito diferente, na periferia, pois o acesso a bens e serviços é restrito e isso inclusive foi considerado como posição discursiva delas: mulheres, pobres, da periferia e adolescentes que ora são embaladas pela valorização que nossa sociedade capitalista faz da juventude e ora são envolvidas por pechas como ‘aborrecentes’. Vivem num dilema”, disse.

Como é sabido, a despeito das modificações que vêm ocorrendo, há modos distintos de vivenciar a adolescência nos universos feminino e masculino porque os lugares reservados aos homens e mulheres socialmente são distintos.

“Discursivamente elas nos dão notícias de que sobra muito mais para as mulheres, e o que sobra são as responsabilidades com as tarefas domésticas, com a contracepção e com os filhos, quando elas engravidam, por exemplo”, destacou.

E quem pensa que casar, ter filhos, e viver em função do marido é coisa do passado, se engana.

“Do ponto de vista das conquistas femininas sim. Do ponto de vista teórico também, no entanto, esse é um ponto muito relevante porque os discursos das adolescentes entrevistadas não apontam isso. Necessariamente, viver em função dos maridos não apareceu diretamente nas entrevistas. Mas, algumas entrevistadas relataram admirar relacionamentos em que a figura do cuidador e provedor se faz presente”, concluiu.

No dia do lançamento, Vilma pede aos participantes que levem alimentos não perecíveis para serem distribuídos nas instituições localizadas na área onde realizou a pesquisa.

Foto/Destaque: Divulgação

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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