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Maquiavel e a política nos trópicos

O pensador florentino, autor da célebre obra “O príncipe”, escrita no início do século XVI, inserida no vigoroso movimento renascentista e no contexto da formação dos Estados nacionais europeus, notabilizou-se pela ruptura que realizou com os gregos ao admitir que na política, a conquista e a manutenção do poder requerem não apenas o uso da razão, mas também a utilização da força e da astúcia. E, simultaneamente, realizou ainda um movimento de ruptura com a Igreja medieval ao defender um Estado soberano.
Seus escritos permanecem vivos e são bastante requisitados e até vulgarizados, na medida em que, na maioria das vezes, utilizam-se de seus conselhos não para a defesa de um Estado forte que, na visão dele, era condição necessária para a existência da sociedade, posto que não seria próprio dos homens se unirem naturalmente. Não em poucos casos, seus conselhos são utilizados para a apropriação indevida do erário público e para a conquista ou perpetuação do poder individual ou de grupos.
Tem sido preocupação central nas ciências políticas a análise das formas e dos arranjos políticos existentes nas sociedades ocidentais para a disputa do poder, sobretudo em épocas eleitorais.
A democracia se estrutura a partir de determinados pilares entre os quais a alternância do poder pela via eleitoral, pela consagração do voto dos membros da sociedade. Entretanto, essa forma ganha contornos, cores, matizes de acordo com a realidade de cada continente, subcontinente ou país.
Há estudos que identificam práticas nos processos eleitorais latino-americanos, nos quais aparecem como recorrente a fórmula de segurar os recursos nos primeiros anos de governo e liberalizar nos dois últimos, realizando de forma ostensiva inaugurações de obras, sem se importar muitas vezes com as conseqüências de sustentação orçamentária posteriores.
A despeito de se estar consciente da necessidade de investimentos em áreas que possam promover uma melhor qualidade de vida a todos os membros da sociedade, não se pode perder de vista o senso crítico e identificar o abusivo uso eleitoral, sobretudo, dos grupos que hoje estão no poder. Percebe-se com certa facilidade a inauguração e reinauguração das mesmas obras, várias vezes, as quais são acompanhadas sempre de um extraordinário volume de recursos em publicidade.
Em vez de debate de conteúdo político investe-se em publicidade com o intuito de apresentar ao público uma marca de realizações. A disputa política deixa de ser político-programática ficando na superfície do discurso de quem faz mais, de quem mais entrega obras, sob a premissa elementar de que os homens julgam mais com os olhos que do que com o tato.
O método da propaganda massiva é tão eficiente que seduziu, inclusive, aqueles setores que, antes situados do outro lado da trincheira, teciam as críticas mais contundentes. Aqueles que outrora vociferavam contra o uso da máquina pública para benefício eleitoral, hoje o fazem sem nenhum escrúpulo. Nesse ponto, tanto o grupo no poder em âmbito nacional e regional quanto à oposição de direita se igualam com sobriedade. Ambos se beneficiam do mesmo artifício para impor ao povo um falso antagonismo, quando, na verdade, são irmãos siameses.

Redação

Jornal mais tradicional do Estado do Amazonas, em atividade desde 1904 de forma contínua.
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