No próximo dia 10, sexta-feira, se viva estivesse, a escritora ucraniana/brasileira Clarice Linspector completaria 121 anos de vida. Clarice, que morreu um dia antes de completar 57 anos, em 1977, ganhará uma homenagem, em Manaus. A atriz, diretora, roteirista, arte-educadora e jornalista Vanessa Pimentel lançará o filme ‘Lua vermelha – Clarice: o caminho de dentro’, textos, escritos por Vanessa, entrelaçados a recortes precisos de grandes obras da escritora como ‘Perto do coração selvagem’ (1943) e ‘Água viva’ (1973), entre outros.
“Decidi transformar meus pensamentos e inquietações, oriundos da pandemia, em um produto cultural híbrido voltado para o feminino, o subjetivo, o oculto, com texto autoral e recortes de obras literárias de Clarice”, falou Vanessa.
Com roteiro e direção geral assinados pela própria Vanessa, ‘Lua vermelha’ também é uma reflexão sobre a vida e o universo femino (sagrado), fruto de um processo múltiplo de experimentações e re (descobertas) que convergem, de uma forma sensível e muito particular, para a união de três linguagens artísticas, bastante familiares à atriz ao longo de toda a sua trajetória de 25 anos no teatro, no cinema e na literatura, além da televisão e da publicidade.
“Acredito que a produção de qualquer obra artística seja sempre um grande desafio, porém escrever, atuar e dirigir me proporcionou uma experiência de criar e realizar, de uma forma macro, não fragmentada, como é de costume, quando participo de projetos, apenas como atriz. Estou super ansiosa para compartilhar com o público tudo isso”, adiantou.
Exímia investigadora
O projeto de Vanessa é dedicado aos 101 anos de Clarice, nascida em 1920, em uma família judaica russa. Ela veio para o Brasil, ainda criança de colo, trazida pelos pais que fugiam do que restara da Ucrânia devastada após a Primeira Guerra Mundial. O Nordeste foi o seu primeiro lar, onde viveu até os 14 anos de idade. Apesar de ter morado primeiro em Maceió, e a maior parte da vida no Rio de Janeiro, em entrevistas, a escritora tinha orgulho de se declarar pernambucana, cenário inclusive, de uma das suas obras intitulada ‘Felicidade clandestina’, publicada em 1971, e reunindo 25 contos que falam de infância, adolescência, família, e acima de tudo, das angústias da alma.
Clarice era uma exímia investigadora de intimidades, com cerca de 18 livros publicados, talvez por isso, até hoje, segue sendo reconhecida como a letrista de maior repercussão no universo literário em língua portuguesa e mantém seu legado vivo, e constantemente ressignificado e conectado, a cada nova geração.
“Desde a minha adolescência me identifico bastante com a maneira, inexplicável e profunda, com a qual Clarice consegue se comunicar com os seus leitores, quer seja por meio dos seus contos e crônicas, quer seja por suas outras obras literárias. Eu, particularmente, por ser bastante solitária e tímida, sempre tive uma ligação muito forte com ela, que sempre foi para mim, uma excelente companhia”, revelou Vanessa.
Ao longo do processo de pré e até mesmo de produção do filme, por uma questão de segurança contra a pandemia, foi preciso reduzir a equipe de trabalho possibilitando a Vanessa estar presente em diversos núcleos técnicos e criativos como estudo e pesquisa cênica, produção executiva, e caracterização (cabelo, figurino, maquiagem), entre outros.
Paixão pelo cinema
‘Lua vermelha’ conta a história de uma escritora solitária e em crise, enquanto questiona-se sobre o real sentido da existência e reflete sobre as suas verdadeiras origens e memórias, revela sentimentos como medo, tristeza, solidão e angústia, além de um forte desejo de liberdade, que se manifesta sempre, através da sua escrita poética, sensível, misteriosa e selvagem.
“Minhas referências ao criar ‘Lua Vermelha’ tem muito haver com a minha paixão pelo cinema de arte, pela fotografia e outras estéticas. Desde o início, o meu objetivo foi construir uma obra artística que fosse antes de tudo, poética e imagética, e que eu pudesse imprimir, ao máximo, as minhas vivências com o xamanismo”, revelou.
O roteiro é dividido em oito atos. São eles: ‘Cinzas da primavera’, ‘As faces de Eva’, ‘Obscuro objeto do desejo’, ‘Insustentável leveza’, ‘Retratos e memórias’, ‘Uma pálida sombra’, ‘Doce vertigem’, e ‘O ópio da terra’.
“Minha personagem (Clarice) representa um arquétipo feminino com suas diversas nuances, que lembra as fases da lua”, finalizou.
O projeto ‘Lua vermelha’ foi contemplado no edital Prêmio Feliciano Lana, em 2020, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa, via Lei Aldir Blanc, e teve o apoio da Manauscult.
A estreia do filme será no dia 10, sexta-feira, às 20h, no YouTube: