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Autor desnuda interesse europeu pela Amazônia

Hoje vemos países europeus, principalmente França e Alemanha, gritando contra a devastação da Amazônia e o extermínio dos povos indígenas da região. Se voltarmos no tempo alguns poucos séculos veremos que os primeiros europeus que aqui chegaram, portugueses, em 1540, já vinham em busca de riquezas minerais. Exatamente o mesmo interesse de agora. E se hoje gritam ao mundo sobre o extermínio de indígenas amazônicos, fingem desconhecer que portugueses e espanhóis, principalmente, praticaram verdadeiro genocídio entre os povos que aqui habitavam. Não se sabe quantos indígenas amazônicos foram dizimados pelos europeus, mas acredita-se terem sido milhões. Um pouco dessa história está revelada no livro ‘Formação sociocultural da Amazônia colonial’, de Pontes Filho, pesquisador de história e direitos socioculturais na Amazônia há mais de 28 anos, que será lançado no sábado, 20, na Livraria Nacional, a partir das 10h.

“Embora tenham ocorrido alguns eventos no século 16, como expedições pelo rio Amazonas a exemplo da de Francisco Orellana e de Pedro Ursua/Lope de Aguirre, a colonização da Amazônia começou efetivamente a partir do século 17. Em 1616, para ilustrar, deu-se a fundação do Forte do Presépio, na atual Belém”, contou.

E os portugueses que até então tinham a região como um ponto distante, porém, de sua posse, só resolveram mandar soldados para cá porque descobriram que ingleses, franceses e holandeses estavam de olho nas riquezas, principalmente minerais, que a floresta poderia esconder.

Pontes Filho é o autor do livro

Dizimaram povos inteiros

“Sim. Todos esses países europeus tentaram colonizar a Amazônia. A Alemanha só não aparece aí porque ainda não existia como país. Espanhóis e portugueses foram os primeiros a chegar com fins de colonização da Amazônia. Os portugueses foram mais bem sucedidos que os espanhóis na empreitada de conquistar e dominar colonialmente a Amazônia brasileira, principalmente a partir de sua base, em Belém”, constatou.

Enquanto isso, os espanhóis chegavam pelo outro lado do continente, com Francisco Pizarro, a partir de 1532. Pizarro morava no Panamá desde 1510 e, através de conversas com outros exploradores, ficou sabendo que a região onde viviam os incas (atual Peru e Equador) tinha muitas riquezas, e para lá rumou à frente de uns 200 homens. Dominou os inca, pilhou seu ouro e, a partir dessa colonização surgiu a cidade de Lima, em 1535, futuro vice-reino do Peru, que abriria as portas para a colonização espanhola da região. Os espanhóis ainda tentaram avançar pela Amazônia brasileira, mas foram contidos pelos portugueses, que também impediam a entrada de ingleses, franceses e holandeses em suas tentativas de descer o rio Negro.  

Na busca por ouro, prata e metais preciosos, esses estrangeiros não pensavam duas vezes em dizimar os povos que apareciam na sua frente.

“Exatamente. Para realizar suas ambições mercantilistas, portugueses e espanhóis cometeram muitas injustiças e atrocidades contra os povos nativos da Amazônia ao longo do processo de colonização. O modo de intervir na região e lidar com os indígenas, expondo-os a certas moléstias, sujeitando-os ao trabalho forçado e à escravidão, impondo-lhes certos costumes, crenças e práticas eurocêntricas, resultou no genocídio de povos e culturas, causando o desaparecimento ou extinção de muitos”, revelou.

Ambição apenas se renova

Por vezes, fala-se em ‘holocausto indígena’ provocado pela colonização logospirata. A logospirataria, introduzida com a colonização da Amazônia desestruturou diversos sistemas socioculturais, produzindo a extinção cultural e física de vários povos e culturas (línguas, saberes, espiritualidades, práticas sociais e modos de vida).

“E lamentavelmente, enquanto processo sociocultural, isso ainda não cessou. Pelo contrário, a logospirataria da colonização continua manifestamente intensa sob diversos aspectos com os quais convivemos, tais como: questões étnicas, ambientais, políticas, econômicas, culturais, revelando-nos uma impactante ‘herança’ de colonialidade do saber, do ser e do poder”, falou.    

Se naquela época, europeus aqui chegados buscavam ouro e prata, hoje se sabe que o subsolo amazônico esconde muitos outros minerais imprescindíveis para a economia mundial girar, e que podem tornar o Brasil uma superpotência. Por isso a gritaria geral, para que a floresta permaneça intocada.

Livro está à venda na Livraria Nacional

“Não só encontraram e extraíram riquezas, como ouro e prata, mas também recursos naturais da biodiversidade da região amazônica, como as drogas do sertão, muito apreciadas nos mercados externos, porém, há décadas o interesse pela biodiversidade amazônica se direcionou para as plantas, óleos e essências com potencial medicinal, ou seja, há mais de 500 anos a ambição de estrangeiros pela Amazônia não cessa, e apenas se renova”, alertou.

‘Formação sociocultural da Amazônia colonial’ poderá ser adquirido na Livraria Nacional após o lançamento.

Doutor em Sociedade e Cultura na Amazônia, pela Ufam; mestre em Direito Ambiental, pela UEA; graduado em direito e em ciências sociais, pela Ufam, Pontes Filho é professor de graduação e pós-graduação da Ufam.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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