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Ilko Minev fala da presença alemã na Amazônia em romance

Em 1935, com autorização do Governo Federal, cujo presidente Getúlio Vargas (1930/1945), era um admirador do ditador Hitler, um grupo de quatro alemães chegou ao Amapá para, supostamente, realizar experimentos científicos na ‘Expedição Jari’. A imprensa brasileira encheu de elogios a chegada dos nazistas. Curiosamente, Curt Nimuendaju, um alemão que trabalhava em Belém, para o SPI (Serviço de Proteção ao Índio), considerado o ‘pai da antropologia brasileira’, foi convidado a participar da ‘Expedição Jari’, mas se recusou porque era contra o nazismo. Mas o interesse dos alemães não era apenas científico, conforme comprovaram documentos posteriormente.

Resumindo a história, os alemães pegaram malária, um deles, Joseph Greiner, que já morava no Brasil, morreu em 1936. 17 meses depois de sua chegada, o grupo partiu deixando para trás uma cruz de madeira com três metros de altura, dois de largura e uma suástica no alto. Um deles, inclusive, teria deixado uma filha entre os índios aparaí, loura e de olhos azuis, entre os caboclos. É daí que parte a história escrita por Ilko Minev em seu livro ‘Nas pegadas da Alemoa’, que será lançado no próximo dia 7 de dezembro, terça-feira, na Livraria Leitura, no Amazonas Shopping, às 18h.

“Alemoa era como os outros índios chamavam a menina, que nasceu em 1938, fruto do relacionamento de um dos membros da ‘Expedição Jari’, no Amapá, com uma índia. A menina nasceu loira e de olhos azuis com um biotipo muito diferente do povo aparaí. Na medida que eu conseguia mais informações sobre a expedição, maior ficava a minha curiosidade e a vontade de conhecer melhor a história da Alemoa”, contou.

Ataque ao Japão

Apesar dos fatos históricos, o livro de Ilko é um romance de ficção.

“Como sempre faço, eu misturo os fatos históricos com frutos da minha imaginação e tento ficar muito próximo da realidade”, explicou.

Desde que soube dessa história, e do enigma da Alemoa, Ilko a quis desvendar. Para o escritor, havia alguma coisa mal contada na expedição super sofisticada, que até hidroavião tinha e nunca poupou dinheiro nem esforços para chegar aos cantos mais selvagens e escondidos das montanhas do Tumucumaque.

“Examinando arquivos alemães, documentos e cartas, fica evidente que o partido Nacionalsocialista, e pessoas muito próximas a Hitler, deram enorme apoio a esta iniciativa. Também é claro que a Alemanha precisava de algum ponto de apoio na América do Sul para a guerra que já deveria estar nos planos do Führer”, afirmou.

“Não era admissível que a França tivesse a Guiana Francesa; a Holanda, o Suriname; e a Inglaterra, a Guiana Inglesa, enquanto a Alemanha dependesse da benevolência de Vargas ou Peron para qualquer ação na região, ainda mais que a Alemanha estava construindo quase mil submarinos, que logo iriam necessitar de bases de abastecimento de combustível e suprimentos, de comida e de água potável, além de manutenção e repouso dos marinheiros”, completou.

Documentos comprovam que, realmente, a partir dessas bases, via Canal do Panamá, os submarinos alemães iriam atacar o Japão. Nessa época os Estados Unidos ainda não estavam nos planos alemães.

“Sim. Um dos alemães deixou uma filha entre os aparaí, mas isso foi pouco divulgado na época, porque os arianos não deveriam se misturar com as civilizações inferiores. O mais provável pai dela seria o piloto da expedição. Na verdade ele saiu do Brasil muito antes dela nascer e nunca a procurou”, informou.

Uma base de submarinos      

Ilko passou uma temporada na região do Jari, em agosto de 2019. Visitou alguns dos locais onde a expedição alemã ficou bastante tempo, tentando achar vestígios da Alemoa e de um índio que serviu aos alemães, mas não conseguiu nada, principalmente porque boa parte dos antigos moradores havia se mudado para o lado francês do rio Oiapoque, onde o assistencialismo é bem maior do que do lado brasileiro.

Entre as evidências da expedição encontradas pelo escritor, a enorme cruz com a suástica localizada perto da cachoeira de Santo Antônio. 

“Ela é feita de madeira de lei e as letras são esculpidas nela. Os alemães sempre foram bons nesta arte. A cruz está sofrendo o efeito do tempo e é uma pena que vamos perdê-la em mais alguns anos. Atualmente é uma atração turística quase tão importante quanto a cachoeira. A cachoeira é linda e imperdível. Fico pasmo em saber que os brasileiros desconhecem este lugar lindo, que impressiona pela beleza e tamanho. A cachoeira é menor que Foz do Iguaçu, mas não muito”, disse.

Voltando aos alemães da ‘Expedição Jari’, eles foram embora, em 1937, aparentemente depois de ter terminado a parte científica. Também a guerra se aproximava e as prioridades do Reich possivelmente mudaram.

“Sim, o interesse científico existiu, mas documentos comprovam que era apenas uma fachada. A Alemanha queria era mesmo montar uma base de submarinos aqui na América do Sul”, concluiu.

Evaldo Ferreira

é repórter do Jornal do Commercio
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